Microflorestas urbanas

no combate às alterações climáticas

Entre as várias medidas de combate às alterações climáticas, uma das que está mais em voga é a plantação de árvores, quer através de grandes plantações em regime de monocultura, quer através de plantações de florestas mistas com várias espécies autóctones.

Todavia, além destas plantações em grande escala há um novo conceito que está a surgir por várias cidades, um pouco por todo o mundo – as microflorestas urbanas de rápido crescimento.
Nas zonas densamente povoadas não é possível promover a criação de grandes florestas, pelo que, a solução passa pela implementação destas microflorestas mistas em pequenos lotes de terra. Estas contribuem para tornar as cidades, visualmente, mais agradáveis e acolhedoras e, ambientalmente, mais sustentáveis e biodiversas.
Um estudo recente (2017) da universidade holandesa de Wageningen, refere que uma floresta pode atrair até 600 espécies diferentes, de animais e plantas. Nas operações de monitorização, os investigadores concluíram que, estas pequenas florestas apresentam valores mais elevados de biodiversidade, comparativamente com as florestas convencionais para a produção de madeira, quer em


números de indivíduos, quer em grupos de espécies. Estes valores resultam da variedade das espécies, da pouca idade e da abertura das florestas, que permite uma maior entrada da luz solar e o desenvolvimento de mais flores, que por sua vez atraem mais polinizadores. Estas microflorestas proporcionam uma grande variedade de alimentos e abrigos para muitos animais, onde prosperam, pássaros, répteis, anfíbios e insetos, entre outros.
Para a criação destas pequenas florestas citadinas ultradensas, biodiversas e com várias camadas, tem sido usada uma técnica de plantação originária do Japão, chamada “Miyawaki”, que consiste na preparação inicial dos solos, enriquecendo-os com nutrientes e plantando uma mistura de várias espécies primárias e secundárias de árvores autóctones, com grande proximidade entre elas (três por metro quadrado). Estas espécies estando adaptadas às regiões nativas, às características dos solos e ao clima, necessitam de uma menor manutenção e crescem mais rápido. Num curto período de tempo, os resultados começarão a aparecer e os habitantes das cidades poderão começar a usufruir dos benefícios de um ambiente natural, com várias árvores e plantas de menor porte, num habitat de grande biodiversidade. Estas plantações têm sido desenvolvidas por movimentos ambientalistas e por moradores dos bairros das cidades, que com orgulho, em ações de voluntariado, contribuem para tornar as suas cidades mais bonitas e mais saudáveis.

Estas microflorestas, devido à sua elevada densidade – trinta vezes mais densas que a média das florestas convencionais – conseguem um crescimento dez vezes mais rápido que estas e possuem uma capacidade de atração da biodiversidade, vinte vezes maior. São autosustentáveis e autênticos micro-pulmões urbanos.
As cidades são as principais responsáveis pela degradação ambiental a que hoje assistimos no planeta Terra.

O papel das microflorestas é inverter essa tendência destrutiva e rejuvenescer, de uma forma rápida, a ecologia local.
Embora as paisagens urbanas representem apenas dois por cento da superfície terrestre, aquelas são as maiores responsáveis pelas alterações climáticas e, consequentemente, pela acelerada perda de biodiversidade.

O UN-Habitat – Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, dedicado à promoção de cidades mais sociais e ambientalmente sustentáveis – refere que as cidades são responsáveis pela produção de cerca de 70 por cento das emissões de gases de efeito estufa e consomem 80 por cento da energia mundial. O alargamento acentuado das áreas urbanas provoca a destruição de habitats e reduz a biodiversidade que lhes está associada.
Como inverter essa tendência? Com o envolvimento de todos, entidades e populações é possível criar espaços alternativos, em cada bairro, em cada rua, nos espaços públicos e privados. É possível converter muitos desses espaços em florestas exuberantes, com habitats cheios de biodiversidade, em contraste com a frieza do betão. Estes bosques de espécies mistas têm a capacidade de absorver uma maior quantidade de carbono, comparativamente, às florestas de coníferas.

Akira Miyawaki

Embora pareça difícil restaurar ecossistemas naturais em áreas urbanas, a verdade é que, em cidades densamente povoadas como Nova Deli (Índia) e Tóquio (Japão), as microflorestas começam a proliferar. Foram criadas parcerias entre as comunidades e os líderes dessas cidades que estão a resultar muito bem. As microflorestas urbanas começaram a surgir nos parques das cidades, nas escolas, em zonas industriais, nos bairros, em parques de estacionamento e até ao longo das estradas. Estão a ser dados passos importantes no sentido da restauração da biodiversidade nativa, do sequestro do carbono e da melhoria da saúde humana.
As cidades precisam de espaço para respirar, precisam de criar lugares mais saudáveis e mais atraentes para as pessoas. Além disso, com as alterações climáticas, as cidades estão mais expostas às inundações provocadas pelas tempestades e as temperaturas estão a aumentar para níveis indesejáveis. Nestes cenários, as microflorestas poderão ter um papel regulador, pois, apresentam uma elevada capacidade de regeneração do solo, embelezam a paisagem urbana, ajudam a reduzir os efeitos nocivos da poluição, regulam o clima, melhoram a qualidade do ar, regeneram o solo, promovem a biodiversidade, melhoram a saúde e o bem-estar das pessoas, sequestram o carbono, aumentam a resiliência às inundações e combatem o fenómeno das ilhas de calor nas cidades, provocadas pela grande quantidade de betão e asfalto. Estas florestas poderão funcionar também como espaços de aprendizagem para as escolas, permitindo a identificação e o conhecimento de espécies nativas, animais e vegetais.
Também por toda a Europa começam a surgir as microflorestas, em substituição de paisagens artificiais.

Tomamos como exemplo, projetos desenvolvidos na Bélgica, na Holanda, em Paris, Toulouse e noutras cidades francesas. Estas microflorestas têm sido implementadas com base no supra referido método “Miyawaki”, desenvolvido pelo famoso botânico japonês Akira Miyawaki, e resultam, num curto espaço temporal, em grandes benefícios para as cidades, ao nível social, económico e na reparação ambiental do ar, da água, do clima, do solo e dos ecossistemas. Estas florestas podem tornar-se ecossistemas maduros num curto espaço temporal – cerca de 20 anos. Miyawaki plantou mais de mil microflorestas no Médio Oriente, depois de perceber que, nas áreas protegidas à volta dos templos, santuários e cemitérios no Japão, existia uma enorme variedade de vegetação nativa, organizada em ecossistemas diversos e muito resilientes, em contraste com as monoculturas de florestas de coníferas. De acordo com vários cientistas, estes ecossistemas sustentáveis, verdadeiros oásis de biodiversidade, são essenciais para que consigamos atingir as metas climáticas. Para que isso seja possível será necessário que se criem corredores de vida selvagem através de faixas contíguas de minifloresta.
No entanto, apesar da sua importância, convém salvaguardar que as microflorestas deverão funcionar como elementos complementares às grandes áreas de florestas nativas e não como suas substitutas. Urge que se protejam as grandes extensões florestais, constantemente ameaçadas sobretudo por interesses económicos, sejam eles a desflorestação para a venda de madeira, a agricultura intensiva, os incêndios ou a exploração mineira a céu aberto.

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