A Descoberta da Austrália em 1522 por Cristóvão de Mendonça

No mês de Fevereiro de 2022 vamos celebrar na Austrália na cidade de Warrnambool, situada a 260 kms a sudoeste de Melbourne, os 500 anos da Descoberta da Austrália pelo navegador português Cristóvão de Mendonça. A decisão de festejar esta data é controversa porque existem ainda instituições oficiais e historiadores que continuam a negar que os portugueses foram os primeiros ocidentais que chegaram a este continente e os primeiros que executaram mapas de toda a costa da Austrália. Um dos argumentos dos que negam essa hipótese é que Portugal nunca demonstrou ter documentos históricos que o provem, tais como mapas ou outros documentos. No entanto, a ausência desses documentos à data de hoje é fácil explicar. Para começar, a presença portuguesa no Oriente, a leste de Malaca, era totalmente secreta, por várias razões. A principal era Portugal saber que poderia estar a operar em território que pertencia a Espanha, de acordo com o Tratado de Tordesilhas, homologado pelo Papa Alexandre VI em 1494. E sabia que infringir o Tratado acarretava sérias penalidades. Outra razão era a Europa saber que Portugal estava a enriquecer de forma astronómica, com as especiarias que originavam do Oriente e, em especial, a Espanha, a França e Holanda, queriam saber a proveniência daquela riqueza e dos produtos. Era portanto importante que não soubessem. Finalmente, os documentos que existiam, em especial na Casa da Índia, sobre a presença portuguesa no Oriente, foram destruídos durante o terramoto de 1755, não só com desabamento mas também com inundação e fogos.
É difícil, portanto, encontrar documentos nos arquivos portugueses, mas provas foram encontradas em mapas produzidos em França e na Holanda, que tinham sido executados com base em mapas portugueses. Os mapas que nos interessam foram executados em Dieppe, uma cidade no norte de França, cidade que teve grande importância como base naval e centro de estudos náuticos. Estabeleceu uma ‘Escola de Hidrografia’ que foi liderada por cartógrafos competentes, os mais relevantes, para nós, sendo Pierre Desceliers e Nicolas Vallard, este mais como orientador e patrocinador.
Há várias hipóteses de como os cartógrafos de Dieppe obtiveram cópias de mapas portugueses. Uma é que nos séculos XV e XVI Portugal estava na vanguarda da cartografia e estudantes de outros países foram lá para aprenderem. Sabe-se também que a Holanda pagou a dois indivíduos para lá irem, não só para aprenderem, mas com fins ulteriores de descobrirem o que Portugal estava a fazer. O que se sabe é que alguns destes ‘estudantes’ obtiveram cópias de mapas que depois vendiam na Europa a quem mais pagasse. Sabe-se também que a França apreendeu algumas embarcações portuguesas e a primeira coisa que faziam era remover os mapas que lá existissem. Houve também um português de nome João Afonso, que fez parte da tripulação de Vasco da Gama, na sua viagem para a Índia, e que era ‘intérprete de português e malaio’ que Dieppe recrutou, e que também foi fonte de informação. Este individuo mudou o nome para Jean Alfonse.
Seja como for o que é certo é que os mapas de interesse para nós, os Atlas de Delfim (Dauphin) e de Vallard tem nomes portugueses e não podiam ter outra origem senão Portugal.
Os mapas são atribuídos a Cristóvão de Mendonça pelo seguinte:
Em 1519, partiu de Lisboa uma armada composta por 17 barcos com destino a Goa, na Índia, e foi entregue ao comandante uma ordem real do Rei D. Manuel I, selada, dirigida ao Governador da Índia, Diogo Lopes de Sequeira, para pôr ao dispor do Capitão Cristóvão de Mendonça quatro embarcações para este descobrir a ‘Ilha de Ouro’. O Rei D Manuel I sabia da existência da ‘Ilha’ através do livro de Marco Polo, que possuía, e de notícias que circulavam de navegantes nas áreas a norte. Mas os 17 barcos tinham outra missão.
Sabia-se que Fernão de Magalhães, em 1519, ao serviço do rei Carlos I de Espanha, partiu de Sevilha, com cinco barcos, com o objetivo de contestar a presença portuguesa em território que estaria a leste do meridiano estabelecido no Tratado da Tordesilhas. E Magalhães tinha conhecimento da situação porque tinha sido tripulante de barcos portugueses que tinham navegado até às Molucas e sabia também das especiarias que estavam a enriquecer Portugal, e a ideia era que tudo isto revertesse para Espanha.
Portugal não podia aceitar o plano do Rei Carlos I e de Magalhães, e os 17 barcos saíram de Lisboa com instruções para exterminar os barcos de Magalhães e, se necessário, liquidar as tripulações. Mas as instruções não afetaram totalmente a ordem secreta do Rei Manuel I, a qual determinara que depois dos 17 barcos chegarem a Goa, quatro seriam alocados a Cristóvão de Mendonça para descobrir a ‘Ilha de Ouro’, mas, se nas suas viagens se cruzasse com Magalhães teria também de atacar, até porque as suas embarcações estavam equipadas para essa possibilidade. Mas não foi necessário usar barcos portugueses para pôr fim à missão de Fernão de Magalhães, porque ele acabaria por ser assassinado nas Filipinas em Março de 1521. Mais tarde Portugal acabaria por ter de reconhecer a necessidade de informar das suas atividades no Oriente e acabou por ter de pagar avultada quantia de dinheiro ao Rei de Espanha para poder continuar a sua presença no Oriente.
Mas voltemos a Cristóvão de Mendonça. Sabe-se que chegou a Goa em Junho de 1520 que partiu de Goa em Março 1521, mas não existe documentação escrita por onde andou durante meses. O que se sabe é que em 10 de Janeiro 1522 regressou a Malaca para se reabastecer e partiu de novo. O que existe escrito sobre estes movimentos de Mendonça são narrados pelo cronista oficial, João de Barros, dizendo que ele partiu ‘para áreas com esperança de serem descobertas’ e teria prometido que daria conta das suas viagens e do que teria descoberto o que nunca fez. E isto compreende-se, porque tendo o Rei Manuel I ordenado que a missão de Cristóvão de Mendonça fosse secreta, certamente que João de Barros não teria sido autorizado a revelar ou registar aquilo que era considerado pelo Rei como segredo.
Temos, portanto, que reverter aos mapas produzidas em Dieppe. O primeiro de que temos conhecimento é o chamado Delfim (Dauphin), foi produzido em 1536. Este mapa contém 26 nomes de origem portuguesa e é o mapa que Kenneth Gordon McIntryre atribui a Cristóvão de Mendonça, e que mostra a costa leste da Austrália em detalhe a que voltaremos adiante. Mas os mapas que mais interessam são os contidos no Atlas de Vallard, produzido em 1547, o qual contém 120 nomes de origem portuguesa.
Começamos com este Atlas e como foi rejeitado. O Atlas esteve em posse dos franceses durante séculos e foi adquirido em 1856 por Sir Thomas Phillipps antiquário inglês, o qual publicou cópia com o título ‘The first map of Australia‘ (O Primeiro Mapa da Austrália). Cinco anos depois, em 1861, Richard Henry Major, Curador de Mapas do Museu Britânico, escreveu um pequeno tratado com o título ‘The discovery of Australia by the Portuguese´ (A Descoberta da Austrália pelos Portugueses) e acrescentou: ‘O território descrito como La Grande Java (Terra Java), no mapa francês, não pode ser outro senão a Austrália, a qual foi descoberta antes de 1542…’. Mas tanto o que escreveu Richard Major ou o que escreveu Sir Thomas Phillipps tiveram mínima aceitação e o assunto foi rapidamente esquecido.
A razão da rejeição é o facto de os livros de história de Inglaterra e da Austrália estabelecerem que os holandeses foram os primeiros a descobrir a costa oeste da Austrália em 1606 e o Capitão James Cook ter descoberto a costa leste em 1770. Isto porque existem documentos que o provam. Quanto aos mapas que provam terem sido os portugueses os primeiros, argumentam que os mapas poderão não ser originais, ou cópias de originais, e que tudo poderá ser ficção. E esta mentalidade desonesta mantém-se até aos nossos dias.
Mas continuemos a análise, em especial baseada em três livros publicados na Austrália por historiadores australianos.
O primeiro, Discovery of Australia, foi publicado em 1895, por George Collingridge, historiador, a viver em Sydney.
Trata-se de um livro volumoso de 376 páginas no qual analisa uma enorme quantidade de material, existente na altura, em várias bibliotecas e arquivos, e concluiu enfaticamente que os portugueses foram os primeiros a descobrir a Austrália. No entanto, o livro foi considerado ultrajante, e o autor um excêntrico. A casa onde ele vivia chamava-lhe Ye Jave-le-Grande. Teve de mudar de casa e abandonou o nome que dava à casa onde viveu, para evitar insultos.
O segundo livro, ‘A Descoberta Secreta da Austrália – A Façanha Portuguesa 250 anos antes do Comandante Cook (The Secret Discovery of Australia: Portuguese ventures 250 years before Captain Cook) da autoria de Kenneth Gordon McIntyre, publicado em 1977, teve melhor receção. Chegou a ser prescrito em algumas escolas e, sendo McIntyre um bom comunicador, o seu livro teve grande cobertura na imprensa, na rádio e na televisão. Pode dizer-se que McIntyre foi a pessoa que mais promoveu na Austrália a descoberta da Austrália por Cristóvão de Mendonça. Começou por analisar o mapa de Delfim. A grande contribuição do autor foi fazer a análise matemática da cartografia portuguesa do Século XVI e sua conversão para escalas modernas. Deste modo ele prova que o mapa de Delfim, publicado em 1536, revela a costa leste da Austrália como é terminando em Warrnambool.

Estabeleceu também que o Mapa original foi executado por Cristóvão de Mendonça. Pesquisou pessoalmente arquivos em Lisboa, aprendeu português, leu o que João de Barros e outros escreveram e confirmou o que já referi, que Cristóvão de Mendonça recebeu instruções secretas para descobrir a ‘Ilha de Ouro’, ou seja a Austrália. É por essa razão que McIntryre deu ao livro o título de ‘Descoberta Secreta’.
McIntyre descreve em detalhe o percurso de Cristóvão de Mendonça, e faz referência a dois eventos relevantes. Em 1847 foram encontradas cinco chaves na orla da baía de Corio, a quatro metros e meio da profundidade. La Trobe, que era o Superintendente da Colónia, teve conhecimento das chaves e, sendo culto, apercebeu-se que se tratava de coisa histórica, até porque ferro era alheio aos aborígenes. Fez um esboço detalhado, que se encontra na Biblioteca estadual de Victoria e pediu a vários especialistas para calcularem a idade das chaves, considerando que não existia a técnica do carbono. Um engenheiro civil estudou o assoreamento da área e a corrupção das chaves e calculou que as chaves poderiam ter 300 anos.
McIntyre assume que Cristóvão de Mendonça teria feito escala na baía, para repouso e reabastecimento e que lá teriam caído as chaves, considerando que a idade das chaves coincide aproximadamente com o ano de 1522, quando ele navegava naquela área.
O outro evento é mais significativo. Entre 1843 e 1890 foi visto nas dunas, perto de Warrnambool, o esqueleto de navio naufragado, e existem 27 descrições de pessoas que por lá passaram, assombradas pelo tamanho do navio, que nada se assemelhava aos baleeiros que eram conhecidos na região. Pelas descrições dos destroços e terem dito que a madeira era rija como mogno, o esqueleto ficou a chamar-se ‘Mahogany Ship’ (Barco de Mogno).
McIntyre é de opinião que os destroços pertenciam a uma caravela de Cristóvão de Mendonça por duas razões. Primeiro, o mar naquela área é violento e nos séculos seguintes mais de cem navios lá naufragaram. Segundo, um dos mapas de Delfim da autoria de Jean Rotz, também produzido em Dieppe, termina em Warrnambool. McIntyre assume que Cristóvão de Mendonça, tendo perdido um dos seus barcos e assustado com o perigoso mar teria voltado para trás, sendo essa a razão de o mapa de Rotz terminar em Warrnambool.
O que resta agora, para provar a opinião de McIntyre, é encontrar os restos do ‘Mahogany Ship’ e estabelecer que datam de 1522. O problema é que já foram feitas inúmeras pesquisas, tendo até o governo do Estado de Victoria, em 1992, oferecido 250,000 dólares a quem encontrasse o ‘Mahogany Ship’, o que originou grande publicidade e pesquisa em grande escala.
Como os restos do legendário ‘Mahogany Ship’ não foram encontrados o assunto foi perdendo interesse, mas a contribuição de McIntyre não foi esquecida pelos portugueses e está perpetuada em Warrnambool.
Em 1990, baseado no seu livro e a publicidade gerada à volta do ‘Mahogany Ship’, consegui obter a réplica de um Padrão, o qual foi erigido numa colina com vista soberba para o mar, na cidade de Warrnambool. E em 1997 consegui obter os bustos de Vasco da Gama e do Infante Don Henrique, em bronze, através do Governador de Macau, General Rocha Vieira, os quais foram erigidos ao lado do Padrão. E lá organizamos o Festival Português de dois em dois anos, que atrai centenas de portugueses. Não podia ser dito que estes símbolos representam a descoberta da Austrália pelos portugueses, mas ficou gravado que celebram os navegadores portugueses que sulcaram os mares do sul. Resta dizer que tudo isto foi inspirado pelo esforço e promoção que McIntyre devotou à causa portuguesa.
Finalmente, temos a última palavra sobre a Descoberta da Austrália. Em 2007 Peter Trickett publicou o livro ‘Beyond Capricorn’ que prova, definitivamente, que Cristóvão de Mendonça descobriu a Austrália e executou mapas da costa. Já referi como o Rei Don Manuel I deu ordem real secreta, para Mendonça descobrir a ‘Ilha de Ouro’, ou seja a Austrália. Também já sabemos, através de João de Barros, das partidas e chegadas de Mendonça. Mas nada sabemos, por documentação escrita, por onde andou nos intervalos, até porque isso era secreto. Trickett concluiu que Mendonça, quando partiu de Goa em Março 1521, primeiro descobriu e executou o mapa da costa oeste da Austrália. Sabe-se que regressou a Malaca em 10 de Janeiro 1522 para se reabastecer e partiu novamente para descobrir a costa leste e executar o mapa da costa. Trickett analisa com grande minúcia os mapas de Vallard que, como já repeti, foram executados em Dieppe em 1547. Compara os mapas de Vallard com mapas atuais e também com o mapa executado pelo Comandante James Cook da costa leste da Austrália, e confirma que os mapas de Vallard são autênticos. Mas a maior confirmação resulta do facto de os mapas de Vallard da costa australiana conterem 120 nomes de origem portuguesa. E a nomenclatura foi estudada por especialistas linguísticos, entre eles o Professor catedrático John Malony, da Australian National University, o qual comentou: ‘os nomes não deixam qualquer dúvida que foram dados por navegadores portugueses e os mapas Vallard são baseados em mapas portugueses originais’. Já referi como os ingleses Sir Thomas Phillipps e Richard Major, em 1856 e 1861 respetivamente, publicaram provas que os mapas de Dieppe, tinham origem em mapas portugueses, e como isso não tinha sido bem aceite pelos ingleses.
Interessante também mencionar o episódio ocorrido com o Comandante James Cook. Como se sabe chegou à Austrália na primeira viagem em 1770. Quando navegava no norte de Queensland, de regresso a Inglaterra, o seu barco Endeavour chocou com rochedos e começou a meter água. A tripulação assustada e depois de estar freneticamente a extrair água do barco para não naufragar, implorou a James Cook que navegasse para terra, a fim de reparar o barco. Mas Cook ignorou a tripulação e continuou a navegar até que lançou âncora no estuário do rio que agora se chama Endeavour e o local Cooktown, lugar calmo e abrigado, ideal para reparar o barco. O que é relevante é que depois de ancorar comentou: ‘I found the channel very narrow and the harbour much smaller than I have been told’. (Achei o canal mais estreito e o porto de abrigo mais pequeno do que me foi dito).
Isto indica que James Cook sabia que o local existia e só podia saber através de mapas portugueses, porque mais ninguém tinha andado por aquelas paragens. Mas parece ninguém saber ‘quem lhe disse’ e como ele obteve a informação. O que se sabe é que Sir Joseph Banks, o biologista que acompanhou Cook, teve em sua posse o Mapa de Delfim o qual ele doou ao Museu Britânico em 1790. Mas não se sabe quando o adquiriu e se o tinha consigo na viagem com James Cook.
Outro incidente que revela desonestidade ocorreu em 1619. O Comandante holandês Frederick Houtman navegando junto à costa da Austrália, a uns 400 km norte de Perth, encontrou um grupo de ilhas, que ficaram a ser conhecidas, até hoje, como ‘Houtman Abrolhos’. Acontece porém que o mapa de Desceliers, produzido em Dieppe, em 1553, como já foi dito, baseado no mapa de Cristóvão de Mendonça, mostra as ilhas com o nome Abrolho. E este nome, que deriva de ‘abre-olho’ (o que significa abram os olhos, é zona perigosa para navegar) é bem português e não existe em outra língua. Curioso também, relacionado com este episódio, um irmão de Frederick Houtman, Cornelis, foi preso em Portugal porque foi encontrado a tentar obter mapas e informação sobre as rotas de navegação que os portugueses usavam para chegar às ‘Indies’, como eles chamavam a estas paragens. E Cornelis só foi libertado quando os holandeses pagaram avultada quantia a Portugal. Seja como for, o que é certo é que os holandeses já tinham mapas do que iam ‘descobrindo’.
Mas a maior injustiça é mais recente. Em 2013 a National Library of Australia organizou em Canberra uma exposição, ‘Mapping our World: Terra incógnita to Australia’, na qual exibiu mapas que considerou serem os primeiros da Austrália. O que é extraordinário é que em 2012, um ano antes, adquiriu o Atlas de Vallard o qual, como já tentei explicar, não deixa qualquer dúvida que foram os portugueses que executaram os primeiros mapas da costa australiana. Mas a NLA teve a imprudência de não exibir estes mapas. Exibiu, sim, mapas holandeses que classificou como sendo os primeiros.
Quando o Diretor da Library foi questionado sobre a razão porque não exibiu os mapas argumentou que os mapas não eram originais e que o assunto estava sob consideração. Mas o que ele não disse é que os mapas que exibiu também não eram originais, sabendo-se que a maioria de mapas antigos são fac-símile de originais. Incrível a desonestidade que continua a repetir-se.
Resta dizer como se chegou à conclusão que foi Cristóvão de Mendonça o primeiro a descobrir a Austrália. Como se sabe ele recebeu ordem do Rei D. Manuel I para descobrir a ‘Ilha do Ouro’, ou seja a Austrália. Sabe-se também que se uma ordem do Rei não fosse cumprida, por qualquer súbdito do reino, este sujeitava-se a castigo que podia ir até pena de morte, como aconteceu em alguns casos documentados. Ora se Cristóvão de Mendonça não tivesse cumprido a ordem régia, quando regressou a Portugal em 1524, poderia não lhe ser aplicada a pena de morte, mas certamente que seria despromovido e perdido todos os privilégios de que gozava. E nada disto aconteceu. Em 1527 o Rei nomeou-o Governador de Ormuz, na Índia, o que não teria acontecido se ele tivesse falhado o que lhe foi ordenado.
Finalmente gostaria de sugerir que Portugal erigisse um monumento em Lisboa, em homenagem a Cristóvão de Mendonça, na área da Torre de Belém ou do Monumento das Descobertas e dizer à Holanda e Inglaterra que não foram eles que descobriram a Austrália.

Sobre o autor

Comendador Carlos Pereira de Lemos

Nasceu em Melgaço, Portugal, 1926

Qualificou-se como topógrafo e trabalhou na Direção Geral dos Serviços Hidráulicos, especializando-se em hidrografia.

1953 Foi para Moçambique, como topógrafo de 1a classe, para trabalhar na Brigada Técnica de Fomento e Povoamento do Limpopo, com base no Guijá.

1955 Foi para a África do Sul, onde estudou, nas Universidades de Natal e Rhodes.

1959 Regressou a Portugal e foi a seguir para Timor como Topógrafo-Chefe da Brigada de Portos. Em Timor foi responsável por toda a topografia relacionada com a construção do cais de Díli e faz o plano hidrográfico da Baía de Dili. Fez também cartas hidrográficas no Suai, Watolari, Loré, Lautem, Baucau e Oecussi. Durante estas paragens de trabalho percorreu muito da ilha, numa mota que levava a bordo do barco especial que tinha para o serviço.

1963 Partiu para Canberra, Austrália, devido a Australian National University, ANU, ter oferecido a sua mulher uma bolsa de estudo para fazer o doutoramento (PhD). Enquanto sua mulher fazia a investigação para a tese, obteve lugar nos Serviços Geodésicos a Cadastrais do governo Federal Australiano. Nesta capacidade passou oito meses no deserto de Tanami, onde fez trabalho pioneiro.

1967 Foi viver para Melbourne onde sua mulher obteve emprego como investigadora no campo da educação.

1969 Foi oferecida uma ‘Post Doctoral Travelling Fellowship’ a sua mulher, com duração de um ano. Viajou com ela, tendo passado seis meses em Genebra, assistindo a reuniões com Jean Piaget. Carlos Lemos conseguiu integração na delegação portuguesa à ONU e assistiu a várias sessões relacionadas com a questão colonial. O contacto foi Pedro Feytor Pinto. Visitou depois Portugal, Inglaterra, Irlanda do Norte e EUA.

Entretanto Carlos Lemos tinha completado a Licenciatura em Ciências Políticas e Sociologia e no regresso fez um curso pós-graduação em pedagógicas e mudou de profissão. Lecionou Ciências Políticas na Universidade RMIT e línguas na Monash University e foi depois professor liceal.

1972 Fundou uma escola para ensino de português a filhos de emigrantes.

1973 Fundou e foi presidente durante uns anos da Comissão de Atividades da Comunidade Portuguesa de Victoria, tendo como objetivo apoiar o capelão, Padre Nuno Viana, que tinha vindo de Timor. Esta organização teve papel importante em prestar assistência aos milhares de timorenses vindos de Timor.

1975-2002 Assistiu a comunidade timorense residente no Estado de Victoria.

1976 Estabeleceu o programa de língua portuguesa na SBS (Special Broadcasting Service) e foi locutor e diretor do programa até 1984. Inseriu no programa um segmento dedicado aos timorenses, com música, cultura e comentários. Convidou para colaborar a timorense Maria Gabriela Carrascalão e em 1984 propôs que ela assumisse a direção do programa, lugar que ela ocupou durante muitos anos.

1981 Foi delegado ao 1o Congresso das Comunidades Portuguesas em Macau e Lisboa, representando a Austrália.

1983 Estabeleceu uma cooperativa, envolvendo a Comunidade portuguesa, para aquisição e estabelecimento do restaurante português Café Lisboa, o qual operou durante 11 anos. Acabou por ser proprietário único e diretor. O chefe e ajudante eram timorenses.

1984 Foi delegado, por convite, ao congresso ‘Portugueses no Mundo – Uma Cultura a Preservar’, que teve lugar no Porto.

1988 Foi nomeado Cônsul Honorário de Portugal em Victoria.

1981 Organizou excursão, com cerca de 300 portugueses, a Warrnambool, relacionada com prospeção sobre o legendário ‘Mahogany Ship’.

1990 Obteve réplica de um Padrão, oferta de governo português, o qual foi erigido em Warrnambool.

1991 Estabeleceu o Festival Português anual, em Warrnambool, que continua bienal,

1991-2011 Foi Secretário Executivo do Corpo Consular de Melbourne, consistindo de 75 Consulados

1997 Obteve os bustos em bronze, de Vasco da Gama e Infante D.Henrique, oferta de Macau, através do último Governador General Rocha Vieira, os quais foram erigidos ao lado do Padrão.

2016 Publicou a sua autobiografia em Portugal pela Chiado Editora.

2019 Pediu a demissão de Cônsul Honorário em Melbouurne.

2022 A sua autobiografia, traduzida para inglês, publicada em Melbourne por Heads and Tales, a subsidiária de Hardie Grant.

1 Comentário

  • Alberto Carvalho
    2 anos ago Publicar uma Resposta

    Infelizmente como diz o ditado, “History is written by the victors” e eles nem sempre sao honestos… o terramoto de Lisboa apagou uma grande parte da historia de Portugal, historia que apenas pode ser recuperada atraves das cronicas historicas dos povos com quem lidamos. Caso em mente ‘e a historia de Macau e a relevancia que Macau teve no nosso comercio no Oriente. Hoje em dia no Vietname por exemplo, ainda pensam que foram os Franceses que deram o alfabeto Europeu ‘a lingua Vietnamita. Mas a verdade e’ que foi um padre jesuita Portugues, um Fernando Pina, que alfabetizou a lingua Vietnamita 200 anos antes dos Franceses exercerem influencia no Vietname.

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