Fernando Pessoa

Presságio


O amor, quando se revela,
Não se sabe revelar.
Sabe bem olhar p’ra ela,
Mas não lhe sabe falar.
Quem quer dizer o que sente
Não sabe o que há de dizer.
Fala: parece que mente…
Cala: parece esquecer…
Ah, mas se ela adivinhasse,
Se pudesse ouvir o olhar,
E se um olhar lhe bastasse
P’ra saber que a estão a amar!
Mas quem sente muito, cala;
Quem quer dizer quanto sente
Fica sem alma nem fala,
Fica só, inteiramente!
Mas se isto puder contar-lhe
O que não lhe ouso contar,
Já não terei que falar-lhe
Porque lhe estou a falar…

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa

Fernando Pessoa nasceu em 13 de junho de 1888, na cidade de Lisboa, Portugal. Viveu parte da infância e sua adolescência em Durban, na África do Sul. Em 1905, voltou a morar em Portugal, onde escreveu a sua obra, criou heterônimos, fundou duas editoras, trabalhou como tradutor e conheceu sua única namorada.Considerado um dos mais importantes e brilhantes poetas da língua portuguesa, seu nome está associado à primeira fase do Modernismo em seu país, também conhecido como “Orfismo”.

Esta rubrica pretende dar a conhecer ao mundo o melhor da poesia por diversos autores lusófonos. Os poemas são selecionados por Gilda Pereira, uma fã incondicional de poesia.

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