Grande Entrevista Fred Antunes

É graduado em Filosofia, pós-graduado em marketing e comunicação e pesquisador sénior em mind science e neuro-marketing
Fotografia ©Joana Silva

Nasceu em Lisboa em 1982. É graduado em Filosofia, pós-graduado em marketing e comunicação e pesquisador sénior em mind science e neuro-marketing. Está ligado ao mundo das bitcoin e blockchain desde o seu começo, tendo sido em Portugal um dos primeiros a aderir às criptomoedas. Crypto Entutiast desde o movimento de “cypherpunks”, no final de 2009 começou a pesquisar o impacto da tecnologia blockchain na sociedade e a partir daí não mais parou. Hoje, é presidente da Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoedas e CEO e fundador da RealFevr, que vende saquetas virtuais com vídeos dos melhores momentos do futebol. Nesta edição, a Descendências Magazine leva-o numa viagem ao mundo das criptomoedas pela voz e testemunho de Fred Antunes.

Comecemos a nossa conversa por conhecer um pouco melhor quem é Fred Antunes e em que momento se começou a interessar por este mundo?

Diria que “este mundo” começou em 1996, quando os meus pais instalaram a internet em casa, pela primeira vez. Sempre estive ligado ao mundo dos videojogos e foi, exatamente, na posição de jogador profissional do videojogo “World of Warcraft” que conheci a bitcoin. À data, o videojogo tinha uma moeda chamada “Gold”, que era o ouro do jogo. Certo dia, alguém, dentro do grupo de jogadores, publica um programa que podíamos deixar a correr durante a noite e que depois nos permitia trocar as moedas por “Gold”. Esse programa não era mais do que um minerador de bitcoin, que utilizava a GPU (Unidade de Processamento Gráfico) para minerar bitcoin. Foi neste contexto o meu primeiro contacto. Hoje, poderia ter muito mais bitcoin do que tenho, se não as tivesse trocado por “ouro” no “World of Warcraft”.

Nos últimos anos temos vindo a tomar um maior contacto com o fenómeno das bitcoins e outras criptomoedas. É um facto que o número de investidores em criptomoedas está em plena expansão. Mas antes de chegarmos à pergunta, vamos começar pelo início: afinal o que são criptomoedas?

De uma forma muito sintética, as criptomoedas são moedas em open source. Enquanto o dinheiro tradicional como nós o conhecemos, a moeda fiduciária como o euro ou o dólar, vale aquilo que o Banco Central diz, a bitcoin traz como proposta de valor esta ideia open source, esta ideia de descentralizar. Aqui, não existe uma entidade central que controla a produção de moeda e a sua emissão. O processo é totalmente descentralizado e o governance é executado através de uma tecnologia chamada blockchain, uma rede descentralizada de computadores espalhada pelo mundo inteiro.
As criptomoedas surgiram para resolver um problema exclusivo da internet, referente à compra e venda de bens e serviços exclusivamente digitais. Se estávamos perante um produto intangível e digital, fazia todo o sentido ter também uma moeda que não estivesse dependente e limitada a nenhum país e que fosse global, tendo assim o seu valor e a sua transacionalidade totalmente garantidos.

Blockchain é a tecnologia inovadora que está por detrás das moedas digitais e que, dizem os entendidos, vai mudar o mundo como o conhecemos, não só com enormes impactos na área financeira, mas com uma abrangência absolutamente global. Se tivesse de explicar a blockchain a alguém que nunca tenha ouvido falar da tecnologia o que diria?

A blockchain é, acima de tudo, um modelo de governance onde os seres humanos aceitam delegar a máquinas uma série de responsabilidades em que são permeáveis e onde podem falhar. O ser humano pode falhar involuntariamente, ou voluntariamente. A tecnologia blockchain vem resolver exatamente este problema humano: a falha. É capaz de fazer a governança total do sistema, sem que seja necessária a intervenção humana, o que significa que permite uma solução com total transparência, imutabilidade, rastreabilidade e clareza para todo o sistema. Em última estância, a blockchain é uma representação objetiva da assunção máxima da democracia. As máquinas não fazem uma diferenciação entre quem é mais rico e quem é mais pobre, entre quem tem mais ou menos oportunidades, ou quem tem mais ou menos direitos. A máquina considera todos iguais e o princípio democrático da equidade está intrinsecamente garantido.

Fotografia ©Joana Silva
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Foi exatamente com o objetivo de divulgar a tecnologia blockchain, o funcionamento das criptomoedas, evangelizar o tema e dá-lo a conhecer no mercado português que surgiu a Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoedas, da qual é presidente. Considera que em Portugal ainda existem bastantes dúvidas em relação a esta tecnologia e de que forma pode ser utilizada?

Sim, e a situação muitas vezes é dramática. Quando fundamos a associação, há cinco anos, a informação era muito escassa. Hoje, já conseguimos cobrir um grande conjunto de pessoas que tem criptomoedas, mas à medida que a adoção dos ativos vai evoluindo e surgem mais pessoas que querem adquirir criptoativos, torna-se necessário que possam ter acesso à mesma informação. Considerando que na população mundial, no máximo dos máximos, apenas 2% detém algum tipo de criptoativo, diria que a missão de informação, de envangelização, de clarificação e de capacitação de uma instituição como a Associação Portuguesa de Blockchain e Criptomoedas terá nos próximos 10 ou 15 anos uma utilidade prática enorme. Quantas mais pessoas tiverem criptoativos, mais recorrente e importante se tornará o processo de informar as pessoas de como funciona, de como se podem proteger e não perder os seus ativos.

Considera que a generalização das moedas digitais foi algo positivo ou negativo para a comunidade?

Acho que só foi positivo. É lógico que deve haver interpretações mais fundamentalistas que acham que houve coisas menos bem feitas, e claro que houve, mas acho que o aproveitamento é, maioritariamente, positivo.

Desde que surgiu, a bitcoin já atingiu vários máximos, mas também já teve algumas quebras significativas. Em maio de 2021, um executivo do Goldamn Sachs demitiu-se depois de ganhar milhões de dólares com um investimento que fez em Dogecoin. Será que já é demasiado tarde para investir neste tipo de ativos?

Acho que é um erro usar a palavra investimento, porque estamos a propagar esta informação pelo lado da geração de ganhos potenciais. Se houve coisa que nunca promovi foi a especulação à volta dos ativos. Ir, ou não, a tempo não é relevante. O que é importante é que a pessoa compreenda a tecnologia e, depois, possa tomar conscientemente a sua decisão.
Quando compramos uma bitcoin, não estamos a fazer um investimento em bitcoin. Numa plataforma descentralizada a compra de uma bitcoin é a compra de uma parte do software que faz o governance desta nova forma de economia. Se a pessoa reconhecer que esta nova forma de economia vai crescer ao longo dos anos, faz sentido que adquira uma parte disso. Se, por outro lado, a pessoa achar que tudo isto é inútil e que não faz qualquer sentido, então nunca deve comprar. A pessoa deve comprar de forma consciente e se de facto fizer sentido para ela, e nunca porque ouviu alguém dizer que vai ficar milionário em 24 horas. Definitivamente, isso não vai acontecer.

As criptomoedas não estão apenas a revolucionar o mercado financeiro. Os mecanismos que envolvem linhas de código e blockchain têm causado uma grande modificação na maneira como acordos começam a ser firmados: smart contracts (contratos inteligentes). Surgidos com a tecnologia blockchain os smart contracts prometem simplificar ao máximo este tipo de processos. O que são e de que forma prometem reforçar a confiança, a segurança e a transparência entre as partes?

O smart contract é a natural evolução do conjunto de funções que uma blockchain consegue executar. Em 2008/2009, quando a bitcoin foi publicada, a blockchain não servia para muito mais do que apenas governar a própria bitcoin. A partir de 2014, com a criação da rede Ethereum, ampliou-se a oferta de possibilidades daquilo que podemos fazer e programar dentro de uma blockchain. Um smart contract, do ponto de vista prático, vai garantir a duas ou mais partes a execução de determinado acordo, sem que nenhuma das partes possa alterar ou adulterar aquilo que acordou previamente. Sempre que há necessidade de partes, que não se conhecem e onde a confiança é inexistente, celebrarem um acordo entre site, o smart contract vem resolver esta questão de forma completamente agnóstica. Para além disso, o smart contract tem a particularidade de não estar subordinado à legislação específica de um país ou às regras específicas de determinada instituição, porque no fundo aquilo que for acordado entre as partes é depois programado e executado autonomamente.

Confidencialidade, autenticação e irretratabilidade são os quatro princípios da criptografia que fazem da blockchain e das criptomoedas um dos maiores avanços financeiros e de tecnologia nas últimas décadas. Todas as transações em blockchain funcionam através de mensagens criptografadas. O que é a criptografia e de que forma esse processo assegura a confiança e segurança das transações, não apenas de bitcoin, mas de todas as criptomoedas?

A criptografia é uma ciência milenar. Desde que existem homens na terra que a criptografia é importante. É um sistema de comunicação humano, hoje usado por máquinas, que permite aos seres humanos guardar informação preciosa e que só pode ser partilhada com quem querem. Leonardo da Vinci tinha centenas de metodologias simbólicas de comunicação, todas elas criptografadas. Os egípcios tinham centenas de informações, que ainda hoje continuamos a não conseguir decifrar o que queriam comunicar, ou guardar, por ser tão precioso.
A criptografia não é mais do que ter, digitalmente, cofres que só podem ser abertos por quem decidirmos que pode ter acesso. O processo dentro de uma blockchain é exatamente o mesmo. Se eu instalar uma wallet (carteira digital) ninguém, que não tenha a minha chave privada, pode aceder a essa carteira. Esta chave privada garante que o conjunto de ativos que estão dentro da wallet nos pertencem exclusivamente. Esta chave é de tal forma privada que se a perder não existe ninguém que a possa recuperar.

O Regulamento Geral de Proteção de Dados (RGPD) constitui hoje um grande obstáculo à tecnologia blockchain. Considera que este conflito poderá impactar o crescimento desta tecnologia em Portugal?

Fui das primeiras pessoas a dar uma entrevista, na altura da publicação do RGPD, onde dizia que existia um nativo conflito. À altura, um conjunto de especialistas argumentavam contra mim, dizendo que a blockchain era compatível com o RGPD. O ano passado, o fundador do RGPD veio dizer, exatamente, que há duas áreas da sociedade tecnológica que são incompatíveis com aquilo que ele criou: uma é a blockchain, outra é a inteligência artificial.
Se nós construímos uma plataforma onde colocamos à disposição do consumidor/utilizador todos os produtos e serviços sem que tenhamos de ter dados pessoais dele para os poder comprar ou vender, não há incompatibilidade nenhuma. A incompatibilidade surge a partir do momento em que precisemos de dados pessoais dos utilizadores para poder fazer negócio. E aí sim, se esses dados vão para dentro de uma blockchain, pela imutabilidade desta tecnologia, gera-se conflito com a lei que diz: “right to be forgotten”.
No entanto, cada vez mais, não vejo motivo para as pessoas partilharem os seus dados pessoais quando compram bens e/ou serviços. Considerando que, neste caso, a maioria dos bens são exclusivamente digitais e intangíveis, não há necessidade de partilhar dados.

Fotografia ©Joana Silva
Fotografia ©Joana Silva

O Banco de Portugal (BdP) vai criar um “grupo de contacto” para debater o fenómeno das criptomoedas e a possível emissão do euro digital, um projeto que está em discussão no seio do Banco Central Europeu (BCE). Se não houver atrasos, em setembro de 2023, o BCE deverá decidir se avança ou não para a emissão do euro digital, o que permitiria aos cidadãos deterem euros numa espécie de “carteira” virtual custodiada pelo próprio banco central, fazendo pagamentos “sem risco”. Quais as vantagens mais proeminentes, mas também as desvantagens associadas à possível emissão do euro digital?

Faço parte desse grupo de contacto e tenho estado presente em vários grupos e até iniciativas públicas do Banco de Portugal.
O euro digital tem um problema nativo, dentro do sistema incumbente. O primeiro problema que o euro digital tem é que vai desintermediar o próprio sistema tradicional. O Banco de Portugal e o Banco Central Europeu passam a ter contacto direto com o consumidor, sem que haja a necessidade do banco privado, do banco de retalho intermediar qualquer coisa e, com isso, receber comissões. Para além disso, deixamos, em última estânica e potencialmente, de precisar de uma conta bancária num banco privado, porque instalamos a wallet do euro digital. Isto parece-me, desde logo, um conflito nativo.
O segundo problema do euro digital prende-se com aquilo que será o invasor europeu em termos de política monetária, o “yuan digital”. A China hoje já tem a sua moeda central CBDC (Central Bank Digital Currency), o “yuan digital”, que está dramaticamente mais avançado que o euro digital e que um potencial dólar digital. Neste momento, os chineses já têm o “yuan digital” em funcionamento e em circulação, estando preparado para ser internacionalizado a qualquer momento.
O terceiro aspeto, que não vejo como problema, é que a bitcoin existe e é descentralizada. Ora, com o euro digital estaríamos a falar de uma solução naturalmente centralizada. Perante isto, o que vejo é uma necessidade imperativa de coexistência. Se por um lado os reguladores não conseguem proibir a bitcoin em nenhuma circunstância, por outro lado também não é do lado das pessoas que têm bitcoin que tem que existir um contra em relação à natural evolução do sistema financeiro clássico. No entanto, considero que os bancos tradicionais têm tantos desafios dentro da transformação digital, que a bitcoin é apenas, e só, uma agulha no palheiro de problemas que vão ter que resolver.

A Binance, a maior corretora de criptomoedas do mundo, anunciou que queria expandir o seu negócio em Portugal com vários investimentos no país, numa altura em que ainda procura uma sede para a sua operação. Qual a importância estratégica que Portugal tem para esta indústria?

Portugal tem coisas muito boas e coisas muito más. Tem uma gastronomia única, um clima excecional e uma localização geográfica fantástica, que nos coloca muito próximos da América do Norte, da América Central, da América do Sul, da Europa e até mesmo dos próprios PALOP em África.
Por outro lado, falta-nos um bocadinho de coragem governativa para que pudéssemos ser um país capaz de competir à escala internacional. Claramente a oportunidade tecnológica e dos criptoativos é enorme. A Binance olhando para este potencial, imediatamente, vê Portugal como uma fantástica oportunidade. Não é à toa que Lisboa é hoje uma das três importantes capitais cripto do mundo. Portugal tinha tudo para poder aproveitar a oportunidade, mas acho que não o vai fazer. Há outros interesses aqui instalados que não querem que isso aconteça.

Recentemente, o prémio Nobel da Economia alertou para um “crash” de preços nas criptomoedas desde novembro, tendo apontado paralelos com a crise do “subprime” de há 15 anos. Quem está a sofrer com este “crash”, e o que pode ele provocar na economia?

Quem está a sofrer com este crescimento da bitcoin, em primeiro lugar, é o Prémio Nobel da Economia que, por não ter bitcoin, apenas a está a ver passar. O Prémio Nobel da Economia é de facto é uma pessoa louvável, mas dentro de todas as previsões que fez nos últimos 10 anos, falhou 90%. É importante não lhe tirar o mérito, mas não significa que tudo o que ele diz está certo. Só o tempo irá dizer se ele tem, ou não, razão. Hoje, o tempo está do lado dos ativos digitais e das criptomoedas. Se em determinada estância esta realidade se alterar, estaremos cá para debater esse problema.

O investimento em criptomoedas tem aumentado significativamente nos últimos anos, e muitos investidores optaram por diversificar as suas carteiras através da aquisição desta moeda digital. Que conselhos daria a quem deseja começar a investir em criptomoedas?

Um investimento em bitcoin e noutros criptoativos pressupõe um elevado nível de literacia digital e de literacia financeira. As pessoas antes de fazerem uma compra com um valor mais elevado, devem sempre começar por gastar 10 ou 20 euros a comprar um criptoativo e perceberem como é que funciona. Depois de se sentirem minimamente confortáveis, devem então subir para um valor mais consciente e lúcido, mas nunca apenas, e só, à procura do paraíso da riqueza.
Para além disso, nunca devem confiar em intermediários financeiros para gerirem as suas carteiras. Há uma velha máxima muito importante em cripto que diz: “Not your keys. Not your coins”. Sempre que confiamos num terceiro para guardar as nossas moedas, automaticamente, corremos o risco de ficar sem elas. Nunca devemos confiar em terceiros para gerir o nosso portefólio e para gerir os nossos ativos, desde logo porque isso é completamente contraproducente com a natureza da tecnologia.
Por último, sempre que quiserem comprar criptoativos, devem validar se a bolsa online que vão utilizar está minimamente regulada, se é confiável. Só assim conseguirão estar sempre protegidos.

Como é que vê o futuro das criptomoedas?

O futuro dos criptoativos e dos ativos digitais é uma questão de necessidade para a humanidade. A tecnologia blockchain e os criptoativos serão a evolução natural daquilo que irá acontecer. Hoje, o estágio de desenvolvimento dos criptoativos é exatamente o mesmo que nós tínhamos em 1997/1998 com a evolução da internet.

A atualidade está a ser marcada pela ofensiva russa à Ucrânia. A injustificada invasão teve impactos em diversos setores da economia mundial. E o mercado financeiro não passou incólume. Se inicialmente notícias davam conta que tensão geopolítica tinha levado investidores a reduzir exposições a risco, e os criptoativos acabaram mesmo por sofrer uma queda acentuada nos primeiros dias, mais recentemente as principais criptomoedas registaram um forte crescimento. O que está por detrás desta variação?

Esta evolução tem a ver com duas realidades. A primeira é que, num cenário de guerra, a primeira coisa que falha para as pessoas são as caixas de multibanco. O facto de as pessoas ficarem privadas do acesso ao seu dinheiro levanta-lhes um problema que, até então, não se tinham deparado. Na Ucrânia este problema é uma realidade.
A partir do momento em que uma guerra cria um problema às pessoas e as impede de aceder ao seu dinheiro, temos o princípio desta evolução. Nos anos de 2008 a 2012 não havia solução para este problema, como aconteceu com os lesados do BES que ficaram sem as suas poupanças. Hoje, há uma solução de ativo de refúgio descentralizado, onde podemos ter o nosso dinheiro salvaguardado. O que a tecnologia blockchain e os criptoativos permitem é uma solução prática, objetiva, funcional e imediata para resolver este problema.

Fotografia ©Joana Silva

São muitas as pessoas em todo o mundo que já doaram milhões em criptomoedas às organizações não governamentais que tentam defender a Ucrânia da brutal invasão russa. Poderão as bitcoin ajudar a moldar o futuro deste conflito?

Sim. A bitcoin é absolutamente agnóstica sobre qualquer interesse político ou geoestratégico. Esse seu carácter de moeda do planeta dá-lhe o direito potencial, ou real, de poder figurar-se como uma objetiva solução para este problema.

O Fred Antunes é CEO e fundador da RealFevr que em tempo recorde se tornou numa referência mundial para colecionadores que compram com criptomoedas saquetas virtuais com vídeos das melhores defesas ou golos de estrelas do futebol. Fale-nos um pouco mais sobre este projeto e de que forma veio revolucionar este mercado?

O projeto na RealFevr consistiu, sobretudo, em transformar a empresa de um modelo de Web2 para um modelo de Web3, utilizando uma plataforma totalmente descentralizada assente em tecnologia blockchain. O sucesso da RealFevr é inerente ao facto do nosso plano de internacionalização e expansão não precisar de escritórios físicos em nenhum sítio do mundo. A RealFevr vende para o mundo inteiro, a partir de Lisboa, o que significa que o número potencial de clientes que podemos ter é substancialmente ampliado, quando comparado com outro modelo tradicional.
Para além disso, a RealFevr reinventou o modelo tradicional das saquetas físicas, tornando-as exclusivamente digitais. Em vez de um cromo físico com uma fotografia do jogador, é muito mais interessante ter um vídeo onde a arte em movimento do atleta está corretamente representada.

Fotografia ©Joana Silva
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A RealFevr surgiu com o objetivo de revolucionar o mercado das Fantasy Leagues. Os NFTs desportivos são equiparados aos cromos, da era digital. É um mercado que vale milhões com as start-ups portuguesas na linha da frente. Como se têm vindo a destacar as empresas portuguesas neste mercado?

Acho que as empresas portuguesas acabam por beneficiar do ecossistema que temos em Portugal, que é muito bom do ponto de vista técnico e muito pouco politizado. Por outro lado, Portugal tem condições regulatórias que também são bastante favoráveis e que tornam mais fácil o recrutamento, o crescimento da equipa e o acesso à informação. Para além disso, e verdade seja dita, nós portugueses somos cientificamente muito, muito bons. O problema é que às vezes somos subvalorizados pelo nosso Governo, que prefere privilegiar os estrangeiros a vir para Portugal do que dar condições aos portugueses para sejam ainda melhores do que já são.

Como avalia a recetividade deste tipo de produto? A digitalização da sociedade, potenciada pela transformação digital tem contribuído para o aumento da procura deste tipo de produtos?

Sim. O grande acelerador desta transformação digital foi a pandemia. As pessoas começaram a abrir a sua mente, a pensar fora da caixa, e começaram a conhecer mais sobre o mundo digital. Isso veio agilizar dezenas de situações.

A RealFevr beneficia, em potencial, de poder contar com o inegável talento tecnológico presente em Portugal e com o talento futebolístico dos jogadores portugueses?

Claro. Essa foi uma das oportunidades que identificámos. Portugal, para 10 milhões de habitantes, consegue ter uma exportação de talento desportivo incrível e é claro que o futebol é o epicentro, o ex-líbris. Temos uma seleção nacional campeã da Europa, que compete ao mais alto nível, temos jogadores nos principais clubes do mundo, temos o melhor jogador da Premier League do ano passado. A RealFevr identificou aqui uma clara oportunidade de negócio. No fundo, fundiu o melhor dos dois mundos e acho que até agora está a correr muito bem.

Fotografia ©Joana Silva

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