Sustentabilidade

O caminho para a sustentabilidade tem-se revelado longo e demorado. Estamos a consumir exagerados recursos, cuja exploração tem provocado graves danos ao planeta, às pessoas e aos ecossistemas. Este paradigma precisa ser alterado o mais breve possível.
Na actualidade, os maiores desafios à sustentabilidade advêm da legislação vigente, da implementação e eficácia das políticas dos governos, do envolvimento das empresas, da inovação tecnológica e, não menos relevante, dos comportamentos e mentalidades dos cidadãos. Daí que, se colocam vários desafios a nível ambiental, social e económico. De entre eles, destacam-se: as alterações climáticas, que devido aos eventos extremos, afectam gravemente a vida das pessoas, a agricultura e os recursos hídricos; a perda da biodiversidade devido à destruição dos habitats naturais de várias espécies; a escassez de recursos naturais – água e minerais – que limitam a capacidade de regeneração dos ecossistemas; a desigualdade social e a pobreza, que vedam o acesso a recursos e serviços básicos; a poluição do ar, da água e do solo, assim como a gestão inadequada de resíduos; e, ainda, a transição energética, que requer a redução da dependência de combustíveis fósseis.
No caso da Europa, a fasquia da transição para a sustentabilidade está a um nível elevado. Para atingir os ambiciosos objectivos ambientais e climáticos a que se propôs, não esquecendo que essa transição deve ser socialmente justa, a Europa precisa de efectuar mudanças profundas nos seus sistemas de produção e consumo de energia e alimentação, assim como nos sistemas de mobilidade terrestre, aérea e marítima.
Importa dizer que, as questões ligadas ao ambiente são inseparáveis das questões sociais e económicas. Em consequência dessa ligação intrínseca, quaisquer mudanças significativas que se operem em qualquer uma dessas dimensões irá impactar, fortemente, as outras.
A mudança não pode advir apenas de respostas políticas ou do desenvolvimento de novas tecnologias. Urge uma alteração significativa nos padrões de comportamento individual e colectivo, assim como uma mudança de mentalidades.

É desejável uma menor propensão para o consumismo desmedido e para o individualismo, onde se inclui a utilização dos transportes públicos e as viagens partilhadas em detrimento do automóvel individual e a erradicação da obsolescência programada dos equipamentos de utilização quotidiana.
Para que os objectivos da sustentabilidade sejam atingidos é necessário que exista uma forte convergência entre vários actores da comunidade internacional através de acordos de compromisso, como é o caso do Acordo de Paris. A Europa pretende atingir a neutralidade carbónica até 2050, todavia, essa meta terá um efeito limitado na mitigação das alterações climáticas se outros países não tomarem medidas semelhantes.
O crescimento económico está intimamente ligado ao aumento da produção e do consumo, incrementando, desse modo, a utilização de recursos, daí resultando efeitos prejudiciais sobre o meio ambiente natural e sobre a saúde das pessoas. Para os padrões actuais de desenvolvimento, não há crescimento se não houver crescimento económico. Por outro lado, o crescimento económico ilimitado tem exercido fortes pressões sociais e tem tido grandes impactes ambientais a nível global. Este tipo de crescimento está arraigado na mentalidade da sociedade, tem forte acolhimento a nível político e é, em grande parte, socialmente aceite como modelo a seguir. Todavia, as sociedades precisam repensar o alcance dos conceitos “crescimento” e “progresso”, assim como o seu significado e os seus impactes na sustentabilidade. As várias comunidades que vivem de forma simples em várias zonas do planeta podem servir de exemplo e inspiração para a urgente inovação social.

Tomando por referência o Pacto Ecológico Europeu e outras iniciativas políticas para um futuro mais sustentável, facilmente entendemos que as mudanças que se exigem não são apenas políticas e tecnológicas. A alteração dos padrões de consumo e as práticas sociais têm aqui um peso relevante.
Falar de sustentabilidade, referir apenas os seus desafios e omitir as oportunidades, seria apresentar uma visão redutora do tema. Existem várias oportunidades e abarcam diferentes áreas. Uma que claramente se destaca é a inovação tecnológica impulsionada pela procura constante de novas soluções mais sustentáveis no âmbito do desenvolvimento de tecnologias relacionadas com as energias renováveis, transporte sustentável, eficiência energética, armazenamento de energia e reciclagem, entre outras. Todas estas dinâmicas inovadoras são, por si, geradoras de novas oportunidades de emprego que, por seu lado, contribuem para o crescimento económico e para o bem-estar social.
Por outro lado, a aposta na eficiência e na utilização responsável de recursos contribui para a redução de custos, para o aumento da produtividade e da competitividade das empresas, assim como para uma menor exploração de matérias-primas. Outra oportunidade reside na propensão actual dos consumidores para os produtos sustentáveis, proporcionado, às empresas uma nova fileira de negócio ligada aos produtos amigos do ambiente.
Para finalizar, um pequeno alerta – a “sustentabilidade” e a “greenwashing” não vivem na mesma casa. Quando uma entra pela porta, a outra sai pela janela. É lamentável a utilização da capa da “sustentabilidade” para se atingirem propósitos pouco dignos, como sejam, o aumento dos preços ou a maquilhagem de produtos classificados como sendo amigos do ambiente, através de campanhas de marketing, quando, na verdade, a sua produção resulta em fortes impactes ambientais negativos nos ecossistemas e na sociedade.
O caminho para a sustentabilidade constrói-se com base nas respostas adequadas a estes desafios e no aproveitamento inteligente destas oportunidades. A prosperidade económica de amanhã constrói-se hoje, através da sustentabilidade, de mãos dadas com a preservação ambiental e com a equidade social.