Pelos feixes dourados à descoberta da Serra
III Parte
Enquanto saboreia as suas merendas vá já para o carro, em direção à próxima paragem: a Aldeia Histórica de Linhares da Beira.
A origem da povoação remonta possivelmente a 580-500 a.C. e terá sido instaurada pelos Túrdulos (povo que habitava a Bética, atual Andaluzia). Subsequentemente, Linhares foi conquistada pelos Romanos, algo bastante notório na aldeia, a exemplo, a calçada romana que constitui parte do troço da antiga ligação entre Mangualde e Linhares, seguindo daqui para Videmonte. A calçada é pavimentada com blocos graníticos retangulares e desce até à Ribeira de Linhares, numa extensão quase contínua de 1300 metros e com uma largura média de 4 metros. Mas além da presença romana, testemunharam-se ao longo dos anos, diversas invasões e encontros de diferentes povos e grupos.
Essa história vasta faz-se sentir ao longo de toda a aldeia, tornando-a assim, numa verdadeira incursão ao passado.
Portanto, se ficou curioso com as qualidades e riqueza desta aldeia, deve começar por visitar o seu cartão de visita, uma imponente edificação: o Castelo de Linhares da Beira. Agregado no sistema defensivo beirão (na linha de fortalezas da região), foi construído num terreno desnivelado e rochoso, a mais de 800 metros de altitude. Monumento nacional desde 1922, o Castelo apresenta duas torres, a de Menagem e a Torre do relógio. O circuito interior, envolvido pelas muralhas, encontra-se dividido em dois espaços fechados: um deles, de maior dimensão, a oeste, é possível que tenha funcionado como ponto de apoio à torre de Menagem, sendo, por isso, uma zona militar onde se localizam as cisternas; e, por sua vez, o que se situa a este, serviu de resguardo para as populações da vila e para os seus bens essenciais à sobrevivência em caso de cerco ou de ataques inimigos. Além de toda a monumentalidade do castelo, é simplesmente espantosa a contemplação que daqui se pode fazer de todo o incrível enquadramento paisagístico. Não deixe de parar uns momentos…
A Aldeia detinha uma autonomia e influência consideráveis, no passado. Era no Fórum que a assembleia dos homens bons de Linhares se reunia para tomar decisões de caráter administrativo, legislativo e judicial, em conformidade com o texto da carta de foral que Linhares recebera. Monumento granítico, ao qual se acede por três degraus, contém no seu interior uma mesa rodeada por bancos corridos, onde se vê por detrás, o brasão de Linhares. Uma curiosidade é que se encontra assente numa Fonte de Mergulho, com abertura em arco quebrado e uma cobertura em abóbada no seu interior. Similar a esta é a Fonte Barbosa, outra fonte de chafurdo/mergulho. Para a recolha da água utilizavam-se vasilhas e cântaros de barro. Por motivos de higiene sanitária encontram-se encerradas, porém conservam uma carga simbólica enorme, portanto não deixe de estar atento para as analisar!
Segurança e leis aproximam-se, com a antiga Casa da Câmara e a cadeia. Edifício de dois pisos, ornamentado com as armas de D. Maria (1777-1816), abrindo o térreo, no seu interior, para um átrio com dois compartimentos laterais, e ascendendo-se por dois planos de escadas ao andar superior. Neste último, existe um salão nobre e mais dois compartimentos. Constata-se que tinha a função de cadeia, pela grade da janela inferior esquerda. Atualmente, envolve as instalações da Junta de Freguesia de Linhares.
E, se, falamos em cadeia, temos de lhe apontar o símbolo que procurava a ordem e a paz da região: Pelourinho – personalidade jurídica na qual se dava o exemplo da justiça. Obra quinhentista, exibe uma base octogonal de três andares, tendo o primeiro o dobro da altura dos restantes. A coluna compõe-se de uma base quadrangular, decorada com esferas, e de um fuste octogonal. O capitel, em forma de cone invertido, denota uma decoração própria da época manuelina, com uma ornamentação baseada em folhagens, que culmina com o coroamento da esfera armilar e uma cruz.
Se procura um espaço carregado de lendas, não hesite em desvendar a Antiga Hospedaria (posteriormente Hospital)! Edifício de dois pisos, apresenta no seu exterior um portal em arco pleno, encimado por um nicho com uma imagem de Santo António, e, nas extremidades, duas gárgulas (que ainda se podem observar), uma antropomórfica e outra zoomórfica, cuja tradição local indica tratar-se de representações do diabo e de uma cabra. Deste modo, com base na albergaria nasceram várias lendas atribuídas a D. Lôpa, dita outrora proprietária desta casa que teria pacto com o diabo, fosse por influência de uma criada (similar ao que acontece na lenda da Dama do Pé-de-Cabra) ou por sua própria iniciativa, sendo salva dessa submissão maléfica por intercessão de Santo António. Além disso, destacando-se a solidariedade como tema central, é importante e especial que descubra o local que marcou esse domínio, servindo de apoio a peregrinos, pobres, doentes, e a todos os que necessitassem de abrigo e/ou tratamento, independentemente de viverem aqui ou estarem de passagem.
E, como ordenou D. Afonso Henriques (ou D. Sancho I, não existe comprovação) aos seus homens “Descansemos aqui…e vamos todos tomar um folgosinho de ar!”.
Depois destes completos museus ao ar livre que visitou em Belmonte e em Linhares da Beira, é momento de repouso, na terra do ar puro e das águas cristalinas: Folgosinho.
Maravilhe-se com o conspícuo Filão de quartzo de Folgosinho! Geossítio do Estrela Geopark sobressai na paisagem, o que confere uma beleza singular ao Castelo de Folgosinho que aqui se encontra assente. É exatamente este o local ideal para contemplar o pôr do sol, com todo o relaxamento e cenário único que merece.
Destaque, igualmente, para os Casais de Folgosinho! Geossítio do Estrela Geopark, localizam-se na bacia superior do rio Mondego, a uma altitude de cerca de 900 metros. Daqui obtém um sumptuoso panorama que inclui toda a área do Alto Mondego e os planaltos mais elevados da Serra da Estrela. Com uma multiplicidade de espécies de flora e de fauna, aliadas à intervenção humana, é brindado com um espaço de equilíbrio entre a natureza e o Homem. Algo imperdível, acredite!
Pode ainda identificar nesta Aldeia de montanha, exemplos de caminhos romanos como em Linhares (com a Calçada Romana dos Galhardos, ao longo de uma extensão de cerca de 1250 metros), e igrejas e capelas profundamente admiráveis ao nível histórico e arquitetónico (Capela de São Faustino e Igreja Matriz de Folgosinho).
Para poder provar os sabores locais no seu jantar (borrego, arroz de cabidela, queijo da serra da estrela, feijoada de javali, cabrito, requeijão com doce de abóbora…) aconselhamos o restaurante: O Albertino.
Caso queira deixar a viagem de regresso para o dia seguinte, recomendamos a que pernoite na Casa dos Limos Verdes.