Hibridização
O Novo Paradigma das Energias Renováveis
O termo diversificar nunca encontrou tanta aplicabilidade no sector elétrico. Em pleno virar do século, mediante pressões europeias e necessidades de equilíbrio da balança energética, Portugal foi um dos países pioneiros na aposta em fontes de energia renovável, nomeadamente eólica.
Na altura muitas foram as críticas e desconfianças sobre a rentabilidade e a real transição para este tipo de fonte, recordo que assistíamos a um cenário onde o preço do carvão era relativamente baixo e o gás proveniente de países africanos espreitava à “porta” da Europa.
Atualmente, cerca de 1/4 da eletricidade consumida em Portugal tem origem eólica sendo possível com relativa segurança que se tratou de uma aposta acertada.
A perspetiva nunca poderá ser baseada única e exclusivamente em aspetos económicos, ou seja, a introdução da energia eólica no mix energético permitiu uma diminuição drástica da produção de energia através de fontes convencionais associadas à queima de combustível. Facilmente podemos concluir que este investimento em tecnologia eólica teve como principal “target” o cumprimento de metas ambientais em linha com as diretivas europeias. Até meados de 2018 em Portugal vários foram os projetos e pedidos de licenciamento por parte de diversos promotores para parques eólicos beneficiando de tarifas atrativas que permitiam rentabilidades financeiras interessantes.
Por forma a limitar o aquecimento global em 1,5°C – o limite considerado seguro pelo Painel Intergovernamental sobre as Alterações Climáticas (PIAC) – é necessário atingir uma neutralidade carbónica até 2050. Este objetivo foi definido no Acordo de Paris, assinado por 195 países, incluindo Portugal.
A preconização deste objetivo levará a uma transformação ainda mais acentuada nos mais diversos sectores, com inclusão óbvia do sector energético. O sector energético português é caracterizado pela sua diversidade, no qual a geração de energia elétrica tem como principais intervenientes: Energia Hídrica (27%); Energia Eólica (24%); Carvão/Gás e Cogeração 40%.
A grande questão reside em “como eliminar estas fontes carbónicas do sector energético?” com as premissas de não colocar em perigo o sistema elétrico e sem custos incomportáveis para o consumidor.
No que concerne proveniente de fontes renováveis é possível constatar que o crescimento nos próximos anos não
contará com grandes projetos hídricos, recordo o enorme esforço financeiro associado à sua construção. O crescimento hídrico será residual sendo espectável que as empresas do sector apostem na eficiência dos seus ativos, isto poderá passar pela reconversão de unidades de Geração em Grupos com sistema e bombagem, ou por um aumento da flexibilidade de exploração de ativos hídricos existentes.
A energia eólica apresenta ainda margem de desenvolvimento em território Português, todavia carece de um esforço conjunto e encontra-se condicionada ao crescimento da Rede Eléctrica Portuguesa (REN). Atualmente a conjetura de mercado e os preços menos atrativos também condicionam a aposta por parte de promotores privados à instalação de novos Parques Eólicos.
Energia Solar
De uma forma sucinta a energia solar fotovoltaica é obtida utilizando a luz solar convertendo-a em eletricidade, utilizando uma tecnologia baseada no efeito fotoelétrico. Trata-se de um tipo de energia renovável, inesgotável e não poluente, todavia o seu desenvolvimento e aplicação envolve algumas condicionantes ambientais como “desmatação de largas áreas” e barreiras físicas para algumas espécies animais. Desta forma a sua implementação deverá sempre envolver um estudo de impacto ambiental não sendo taxativa a sua aplicabilidade em todos os locais.
As denominadas centrais solares integram de forma básica três grandes componentes: Painéis fotovoltaicos; Inversores e Transformadores. A produção de energia eléctrica nas centrais fotovoltaicas depende da exposição solar, desta forma o seu funcionamento
estará condicionado a horas de luz 7h-20h. O pico de produção em norma é atingido pelas 12h-13h, recordo que durante este período os consumos são baixos. Desta forma existe a necessidade de integrar sistemas de armazenamento por forma a divergir esta produção para horas de maior necessidade.
Uma das formas de integrar energia solar minimizando custos e o impacto ambiental passa pela Hibridização, ou seja, é possível adaptar os atuais parques eólicos e combinar esta tecnologia com a energia fotovoltaica. Atualmente a maioria dos promotores Eólicos detém o uso dos terrenos sob forma de arrendamento, ou mesmo sob aquisição. O uso destes terrenos para fixação de painéis solares fotovoltaicos e integração destes nas subestações elétricas construídas para o propósito eólico dispensa a construção de novas linhas elétricas
e permite um reaproveitamento dos equipamentos elétricos existentes. Atualmente a DGEG – Direção Geral Energia e Geologia – na licença atribuída a um parque eólico que limita o valor máximo de Potência no ponto de entrega, esta solução híbrida “Eólica+Solar” permite uma maximização da Potência Total instantânea entregue à Rede Elétrica. Ora vejamos, em dias de menor índice de vento, será possível produzir energia elétrica num compromisso híbrido ou totalmente solar.
Desta forma e atendendo à conjetura de mercado e sinais legislativos por parte do Governo a aposta na energia solar será o próximo “step” na descarbonização, todavia do ponto de vista ambiental, a Hibridização deverá ser imperativamente colocada na mesa.