Patrícia Duarte & João Bandeira

João Bandeira e Patrícia Duarte, atores de regresso a Portugal

Que motivos vos levaram a sair de Portugal em 2019? Porquê o Reino Unido?

A decisão de sair de Portugal surgiu em 2018, motivada por uma vontade de mudança, pela busca de uma vida melhor e por novas oportunidades profissionais e pessoais.
Sentíamo-nos estagnados na nossa profissão (somos ambos atores) e com poucas perspetivas de crescimento. Num panorama geral, começávamos a sentir os efeitos de um mercado imobiliário prestes a entrar em rutura, salários baixos para muito trabalho, o aumento do custo de vida, os valores exorbitantes dos bens essenciais e a constante sensação de que o sonho raramente se tornava concreto.
Meses antes de deixarmos Portugal, acumulávamos vários trabalhos em simultâneo — no nosso caso, até seis cada um — e, ainda assim, isso era apenas o suficiente para sobreviver.
Depois de uma viagem a Londres, começámos a ponderar uma ausência temporária, de alguns meses, para investir na nossa formação. Rapidamente, esses “meses” transformaram-se em anos. Decidimos partir juntos e apostar na formação superior, algo que sempre desejámos. O João procurava há algum tempo um mestrado que fizesse sentido para ele, e encontrou-o no Reino Unido — coisa que não tinha acontecido em Portugal; a Patrícia encontrou uma licenciatura e um mestrado. Sentimos, por isso, que aquele era o momento certo para alargar horizontes, viver uma experiência internacional e crescer tanto a nível pessoal como profissional.
Escolhemos o Reino Unido por ser um país que valoriza verdadeiramente as artes e os artistas — e isso só é possível graças a um investimento sólido na educação. A arte e a cultura não são vistas como um privilégio ou um acessório do país, mas sim como parte intrínseca da sua identidade. O Reino Unido tem isso profundamente impresso na sua estrutura social. Enquanto artistas, é reconfortante fazer parte de uma sociedade onde somos vistos como qualquer outro profissional: com direitos e deveres, com proteção, com dignidade.

O que vos motivou a regressar a Portugal?

Vivemos cinco anos maravilhosos. Gostámos realmente de viver no Reino Unido. É um país inspirador. Aprendemos muito, crescemos muito e trazemos experiências que ficarão connosco para o resto da vida — boas e menos boas. Em cinco anos, tivemos oito casas, sendo que seis dessas oito foram nos últimos três anos. A crise imobiliária no Reino Unido revelou-se ainda mais complexa do que aquela que vivemos em Portugal — ou, pelo menos, bastante diferente. As leis são diferentes, tal como a proteção oferecida a senhorios e inquilinos. Foram anos muito duros nesse sentido. Essa instabilidade acabou por ter um enorme impacto nas nossas vidas — de repente, apercebemo-nos de que estávamos sem casa. No sentido literal e no sentido metafórico. A casa física, que dá teto, proteção e conforto. E a casa simbólica, que nasce da posse dessa casa física: a pertença, a segurança, o porto de abrigo, a estabilidade, a sanidade mental, o sentido — e tudo o que vem com isso. Percebemos que estávamos a viver de “mochila às costas”, e que não tínhamos casa. Portugal já não era casa, e o sítio que tínhamos escolhido para o ser também não nos permitia chamá-lo assim. Estávamos num limbo. Foi quando nos disseram que iríamos, mais uma vez, perder o nosso teto (íamos a caminho da 9.ª casa em menos de cinco anos) que percebemos que não dava mais. Precisávamos de estabilidade. Precisávamos de um lar. E foi nesse momento que decidimos voltar para Portugal.

Felizes com este regresso?

Estamos muito felizes. Encontrámos, finalmente, a nossa casa — e isso tem sido, sem dúvida, o que mais nos tem impactado nos últimos tempos. Estamos perto das nossas famílias, dos nossos amigos. Temos uma rede de apoio e sentimo-nos sortudos por poder contar com ela. Isso era algo que não tínhamos quando estávamos fora de Portugal — e faz toda a diferença. Em relação às nossas carreiras, estamos a retomar contactos, a semear e a criar. Claro que nem tudo é um mar de rosas. Fomos confrontados com um país cada vez mais extremado e, progressivamente, menos humano — tal como acontece em muitas outras partes do mundo. Há muito trabalho a fazer. As pessoas precisam de se ouvir, de se unir, de reconstruir pontes. E acreditamos que podemos fazer parte dessa mudança.

Quais são os vossos projetos atuais?

Atualmente estamos ambos envolvidos em diversos projetos dentro da nossa área, o que nos deixa muito felizes. Recentemente, participámos juntos no espetáculo Writ, Corpus, Resist!, de Suresh Nampuri, com a Já International Theatre. O João esteve em cena com o espetáculo Encore, da produtora Maria49, no Centro de Artes de Lisboa, e integra também as visitas encenadas na Fragata Museu D. Fernando II e Glória, com a Coolture Tours — entre outros projetos a anunciar em breve. A Patrícia esteve em cena com o espetáculo Conscerto Democrático, da Companhia de Teatro Cegada, com encenação de Rui Dionísio. Integra também a equipa da Coolture Tours, no Palácio da Ajuda, com a visita encenada da Rainha Maria Pia de Saboia, e em breve poderá ser vista em cena com o musical Thérèse Martin, de Matilde Trocado, no Teatro Camões. Ambos fazemos ainda parte da associação cultural Kind of Black Box, de Tobias Monteiro, onde estamos a preparar novos projetos para os próximos meses.

Como conheceram os apoios financeiros do Programa Regressar?

Já tínhamos ouvido falar dos apoios financeiros do Programa Regressar, mas, na verdade, nem sabíamos que éramos elegíveis. Foi uma enorme e feliz surpresa quando descobrimos que nos podíamos candidatar.

E como correu o processo de candidatura? Foi fácil ou complexo? Tiveram algum apoio?

O processo de candidatura foi, no geral, bastante acessível, e intuitivo, embora com breves momentos de alguma complexidade natural, principalmente na recolha e organização de documentação. Felizmente, tivemos apoio direto da equipa do Programa Regressar, que foi sempre disponível e prestável ao longo de todas as etapas. Isso fez toda a diferença e ajudou a tornar o processo mais tranquilo.

Na vossa opinião, de 1 a 10 (sendo 10 a pontuação máxima), o Programa Regressar deve continuar?

Sem dúvida: 10. O Programa Regressar deve continuar. É uma ajuda muito importante para quem está a regressar e, por isso mesmo, faz toda a diferença. Regressar é um processo complexo — emocional, logístico e profissionalmente — e é ótimo que existam iniciativas que reconhecem essa complexidade e apoiam quem decide voltar.

O Programa Regressar deseja muitas felicidades neste regresso e muitos sucessos!

Programa Regressar

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