Poesia – Manuel Alegre
Abril de sim, Abril de Não
Eu vi Abril por fora e Abril por dentro
vi o Abril que foi e Abril de agora
eu vi Abril em festa e Abril lamento
Abril como quem ri como quem chora.
Eu vi chorar Abril e Abril partir
vi o Abril de sim e Abril de não
Abril que já não é Abril por vir
e como tudo o mais contradição.
Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.
Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.
Manuel Alegre
Nasceu em Águeda, em 1936. Formou-se em Direito na Universidade de Coimbra, onde se envolveu ativamente no movimento estudantil. E foi justamente como membro da Comissão da Academia que deu apoio a candidatura de Humberto Delgado à Presidência da República, em 1958.
Além disso, contribuiu para o cenário cultural, participando na fundação do Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra e também como ator do Teatro de Estudantes da Universidade de Coimbra. Extremamente versátil, dirigiu o jornal “A Briosa”, foi redator da revista “Vértice” e colaborador de “Via Latina”.
Foi chamado para o regime militar, em 1961. No ano seguinte, é enviado para Angola, onde foi o líder de uma tentativa de revolta militar. Ficou preso por seis meses e foi na cadeia que conheceu escritores angolanos como Luandino Vieira, Antonio Jacinto e Antonio Cardoso.
Em 1964, foi para o exílio em Argel, onde foi dirigente da Frente Patriótica de Libertação Nacional. Nessa época, publicou dois livros, “Praça da Canção”, em 1965 e “O Canto e as Armas”, em 1967, ambos foram apreendidos pela censura. Mas os livros foram repassados por cópias clandestinas, manuscritas ou datilografadas.
Muitos de seus poemas foram interpretados por cantores como Zeca Afonso e Adriano Correia de Oliveira e foram considerados bandeiras da luta pela liberdade. Voltou para Portugal em 1974, quando se filiou ao Partido Socialista.
Esta rubrica pretende dar a conhecer ao mundo o melhor da poesia por diversos autores lusófonos. Os poemas são selecionados por Gilda Pereira, uma fã incondicional de poesia.