Poesia – Afonso Lopes Vieira
Leve, Leve, o Luar
Leve, leve, o luar de neve
goteja em perlas leitosas,
o luar de neve e tão leve
que ameiga o seio das rosas.
E as gotas finas da etérea
chuva, caindo do ar,
matam a sede sidéria
das coisas que embebe o luar.
A luz, oh sol, com que alagas,
abre feridas, e a lua
vem pôr no lume das chagas
o beijo da pele nua.
Afonso Lopes Vieira
Afonso Lopes Vieira nasceu em 26 de janeiro de 1878, em Leiria e faleceu em 25 de janeiro de 1946, em Lisboa.Formado em Direito pela Universidade de Coimbra, foi relator da Câmara dos Deputados. Apesar da sua educação e vivências cosmopolitas, Lopes Vieira nunca esqueceu a sua origem. As imagens de uma Leiria romântica mas, sobretudo, do imenso Pinhal do Rei e do vasto mar foram a sua grande paixão e marcam toda a sua obra.
Com a publicação do livro Para Quê? (1897) faz a sua estreia poética, iniciando um período de intensa actividade literária — Ar Livre (1906), O Pão e as Rosas (1908), Canções do Vento e do Sol (1911), Poesias sobre as Cenas Infantis de Shumann (1915), Ilhas de Bruma (1917), País Lilás, Desterro Azul (1922), Versos de Afonso Lopes Vieira (1927), e Onde a terra se acaba e o mar começa (1940). Dedicou-se também à literatura infantil, de que são exemplos mais marcantes “Amigos nossos amigos”, “Bartolomeu Marinheiro” e “Canto Infantil”.
O poeta e escritor é um exemplo de promoção dos valores artísticos e culturais nacionais.
Esta rubrica pretende dar a conhecer ao mundo o melhor da poesia por diversos autores lusófonos. Os poemas são selecionados por Gilda Pereira, uma fã incondicional de poesia.