A urgência de novas políticas

e práticas de sustentabilidade agrícola

Uma revolta do mundo rural nunca antes vista surgiu em França. Uma revolta que, num ápice, contagiou os agricultores de vários outros países europeus. A concorrência desleal de produtos provenientes de outras geografias, o aumento dos impostos sobre os combustíveis, os cortes nos subsídios provenientes dos apoios comunitários e os baixos valores pagos aos agricultores pelos seus produtos surgem num momento de grande asfixia financeira no sector agro-pecuário. Enquanto, nos supermercados, os preços dos produtos sobem vertiginosa e constantemente, por outro lado, o valor pago pelos mesmos aos agricultores é, muitas vezes, abaixo dos custos de produção. Perante isto, é chegado o momento de implementar novas políticas de sustentabilidade agrícola e ambiental, assim como apoiar justa e devidamente os agricultores pela sua importante função na estrutura organizacional da sociedade.
Fará mais sentido criar um regime que apoie a produção e práticas mais benéficas para o ambiente ou subsidiar um determinado valor por hectare? Em termos ambientais será claramente mais benéfico apoiar boas práticas agrícolas e ambientais. Num mundo a braços com uma grave crise climática não faz sentido subsidiar determinada instalação agro-pecuária em função da sua dimensão por hectare sem ter em consideração as práticas ambientais utilizadas e os níveis de produção efectiva. Pese embora as condições de elegibilidade estejam dependentes de determinadas condicionantes, estas, nem sempre são devidamente monitorizadas.
Urge um novo plano de acção sustentável, rentável e eficiente, que crie uma nova visão de apoio ao sector, que sente, à mesma mesa, representantes da indústria, académicos e agricultores. Esse novo plano poderá assentar, a saber, entre outros, numa forte aposta na criação, desenvolvimento e implementação de tecnologias que favoreçam uma utilização mais eficiente da armazenagem e utilização da água, reduzindo, desse modo, os elevados custos associados, não raras vezes, ao enorme desperdício.

A colaboração entre todos os interlocutores será fundamental para garantir soluções de sucesso. Importa referir que, estando nós a viver na era digital, o não aproveitamento de todos os benefícios da tecnologia digital aplicados ao sector agro-pecuário, será um grande erro. A tecnologia impulsiona a inovação, que, por sua vez, impulsiona o desenvolvimento de novos negócios e oportunidades.
Ao invés da subsidiação por hectare, porque não apoiar o restauro de prados de feno, a criação de lagos artificiais para a retenção de água, o restauro de sebes e vedações tradicionais, a plantação de florestas com espécies arbóreas e arbustivas autóctones e promover uma drástica redução dos fertilizantes químicos.
Ao invés da subsidiação por hectare, um sistema falido, porque não criar um regime que aposte no reforço da produção alimentar sustentável, diminuindo, por um lado, a dependência externa e, por outro, contribuindo para mitigar as alterações climáticas, por via de uma menor necessidade de transportar alimentos ao longo de grandes distâncias.

Ao invés da subsidiação por hectare, porque não apoiar a protecção dos rios, o aumento das zonas húmidas, a gestão equilibrada de áreas naturais, a plantação de árvores autóctones mais resistentes aos incêndios florestais e a utilização de técnicas de manejo do solo e do gado menos contaminantes.
Ao invés da subsidiação por hectare, porque não apoiar o sequestro de carbono nas pastagens e florestas autóctones, revitalizando, desse modo, os habitats naturais, que contribuem para a descarbonização, para a redução das inundações e da poluição da água, assim como para a reversão do declínio da vida selvagem.
Se por um lado, a agricultura sustentável de pequena dimensão contribui para a preservação dos ecossistemas, por outro, a agricultura intensiva contribui, de um modo significativo, para a perda da biodiversidade e para poluição dos solos e dos rios. Todavia, importa ressalvar que estes impactos não poderão ser imputados aos agricultores, mas sim a um modelo de produção alimentar desactualizado, não sustentável e que não recompensa os agricultores de forma equilibrada. Posto isto, parece evidente que esta crise necessita de uma resposta urgente e verdadeiramente transformadora do estado actual do sector agro-pecuário, mais respeitadora do clima, da natureza, e mais justa com quem produz.

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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