As “florestas em mosaico”
no combate às alterações climáticas
Quando o verão se transforma, paulatinamente, em Outono, vista de cima, uma “floresta em mosaico” assemelha-se a uma colcha de retalhos ou a uma tela pincelada por Vincent van Gogh. Um espaço onde coexistem diversas cores que emanam das diferentes espécies arbóreas e arbustivas, que se espraiam ao longo de vários hectares de terreno. Este tipo de floresta, devido às suas características ímpares resultantes da diversificação das espécies, está mais adaptado ao aumento das temperaturas.
Quando caminhamos nessas encantadoras florestas, salta-nos à vista uma jovem bétula a crescer entre os carvalhos centenários; ou um grupo de freixos a sobressair junto a uma linha de água; ou os imponentes castanheiros que, por sua vez, se misturam com os amieiros, as faias, os pinheiros, as aveleiras, os escambroeiros e as tramazeiras, numa mescla de cores, formatos e tamanhos que tornam estas florestas aprazíveis, sustentáveis e recomendáveis. São assim as “florestas em mosaico” – lugares únicos.
No sentido de mitigar os efeitos das alterações climáticas, vários países estão a tomar medidas, apostando fortemente na implementação deste tipo de “florestas em mosaico”, que absorvem e armazenam grandes quantidades de dióxido de carbono e geram, de igual modo, elevadas quantidades de oxigénio. Infelizmente, apesar de todos esses esforços, a cada ano que passa, perdem-se cerca de 75 000 Km2 destas florestas.
Em França, por exemplo, no maciço de Moulière, localizado no departamento de Vienne, a estratégia passa por combater as alterações climáticas através da criação e manutenção de uma extensa “floresta em mosaico” com cerca de 4.200 hectares. Nessa magnífica floresta já foram implementados todos os cenários de adaptação, desde a preservação de lagos naturais, até à criação de zonas de regeneração natural (sem plantio) e ilhas envelhecidas, em cujas áreas se localizam as árvores adultas e centenárias que servem de abrigo à biodiversidade local.
No maciço de Molière, ao longo dos anos, a floresta vai-se desenvolvendo por camadas – as mudas jovens e a regeneração natural crescem à sombra das árvores adultas para, um dia mais tarde, tomarem o seu lugar, e assim por diante.
Este mosaico florestal ambientalmente sustentável, por um lado, cria desenvolvimento económico e, por outro, conserva a biodiversidade, protege os recursos hídricos e previne a degradação e a erosão dos solos.
No Brasil, criou-se, em 2007, numa área considerável da Mata Atlântica (que se estende do sul da Bahia até ao norte do Espírito Santo), a Iniciativa Mosaicos Florestais Sustentáveis, com o objectivo de “estabelecer um modelo inovador e colaborativo de produção, conservação e geração de meios de subsistência” e, desde aí, têm vindo a ser implementadas várias acções nesse sentido. As organizações intervenientes esperam conseguir a expansão desse modelo de gestão à parte restante da Mata Atlântica que ainda não se encontra abrangida por estas intervenções.
De entre as acções mais visíveis destacam-se a protecção e restauração de várias dezenas de milhares de hectares de floresta, onde se inclui a criação de vários corredores de conexão de fragmentos isolados de florestas. Estas actividades criaram empregos para as comunidades locais e aumentaram os seus rendimentos, contribuindo desse modo para a melhoria da sua qualidade de vida.
No caso de Portugal, ganhou visibilidade, no ano passado, um projecto de reflorestação em mosaico da CELPA – “Replantar Pedrógão” – que pretendia replantar a floresta de Pedrógão Grande e, desse modo, estimular o investimento na região, proteger a biodiversidade e estimular a resiliência da floresta.
De todos estes exemplos poderemos retirar uma conclusão: mais importante que fazer é fazer diferente! Não basta restaurar o que antes existia. Urge preservar o que ainda existe e é necessário intervir no sentido de se criarem florestas mais resilientes aos fogos florestais, mais propensas ao desenvolvimento da biodiversidade e mais adaptadas às alterações climáticas. E, as “florestas em mosaico”, são tudo isso.
O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico