Confinamento – PHDA

A pandemia por Covid-19 é, na história das pandemias, considerada como única, pela rápida expansão por todos os países do mundo. E imediatamente um fenómeno aconteceu: as famílias tiveram de se adaptar a uma nova realidade. Ou seja, os pais passaram a estar em teletrabalho e as crianças a terem aulas por vídeo-conferência. Desta forma, pais e filhos passaram a estar debaixo do mesmo teto, com trabalho e aulas, e ainda no mesmo horário.
Inevitavelmente, as dificuldades inerentes a esta nova convivência é enorme. No entanto, quando, estamos perante uma criança com um diagnóstico de perturbação de hiperatividade e défice de atenção (PHDA), esta díade pode tornar-se o pior pesadelo para os pais.


Porquê? Acontece sobretudo porque as crianças com PHDA têm dificuldades em agirem em conformidade com as regras parentais. Interrompem as conversas e têm tendência para se envolverem em conflitos com os irmãos. Apresentam níveis baixos de tolerância à frustração. Esquecem-se dos trabalhos, apresentam um ritmo lento e são, geralmente, muito desorganizados.

“Estou em teletrabalho e o meu filho de 7 anos, não pára quieto. Não consegue ficar sentado a assistir as aulas. Distrai-se, com tudo. Quando o professor faz uma pergunta, não sabe esperar pela sua vez. Já não sei o que fazer…”

O que é a PHDA
A (PHDA) é a perturbação do desenvolvimento infantil mais comum na infância. A prevalência na população portuguesa é de 3 a 7%, com maior incidência no sexo masculino.
A PHDA é uma perturbação do neurodesenvolvimento, caraterizada por desatenção, hiperatividade e impulsividade. Consoante a prevalência de cada um destes sintomas principais, podemos considerar três subtipos: predominantemente desatento, predominantemente hiperativo/impulsivo e, por último, misto, que combina desatenção e hiperatividade/impulsividade.
Uma criança com PHDA é incapaz de controlar a sua atenção, a sua impulsividade e a sua atividade motora. Não se trata de uma ausência de vontade, mas de uma ausência de controlo.
É óbvio que qualquer das três componentes, isoladamente ou em conjunto, aparecem num grande número de crianças em idade escolar, podendo, por isso, considerar-se como uma caraterística transitória do processo normal do crescimento infantil.
Para se poder fazer um diagnóstico de PHDA, é necessário que vários sintomas apareçam juntos ou associados, com certa regularidade e que isso perturbe significativamente o processo de desenvolvimento ou o nível de adaptação dessas crianças.
A dificuldade em manter a atenção em atividades que exijam um esforço cognitivo e continuado, distrair-se frequentemente com estímulos alheios àquilo que está a fazer, desviar a atenção para outras tarefas diferentes da que está a realizar, são os sintomas mais referidos pelos pais.

Estima-se que cerca de 25% das crianças com PHDA venham a ter dificuldades de aprendizagem, daí a importância de um diagnóstico precoce.
O diagnóstico de PHDA é feito geralmente durante os primeiros anos que se seguem ao início da atividade escolar, sendo frequentemente notados os primeiros sinais e sintomas pelos pais e professores no contexto da sala de aula. Baseia-se essencialmente em critérios clínicos, uma vez que não existe um Meio Complementar de Diagnóstico e Terapêutica que faça o diagnóstico definitivo da PHDA. Este processo deve ser acompanhado por uma avaliação clínica e frequentemente neuropsicológica, com o intuito de objetivar e caracterizar o nível individual de funcionamento cognitivo.
A PHDA é uma perturbação com uma apresentação heterogénea e de etiologia multifactorial que, muitas vezes, não aparece isolada. Surge frequentemente em co-morbilidade (ou seja, em coexistência) com outras perturbações do neurodesenvolvimento (como por exemplo: perturbação desafiante de oposição, perturbação da aprendizagem específica (e.g., dislexia e discalculia), perturbação do comportamento, perturbações de ansiedade, depressões, consumo abusivo de substâncias, entre outros).
O diagnóstico é uma tarefa exigente que deve ser feita por equipas multidisciplinares com experiências por alguém com experiência na área e aguçado “olho clínico”.

A PHDA tem grandes repercussões na vida familiar/social e escolar da criança, nomeadamente:
Baixa Auto-estima;
Dificuldade de Aprendizagem;
Relações disfuncionais com os pares e adultos;
Pais stressados e com maior prevalência de divórcio.

Qual o tratamento?
O tratamento, ou mais precisamente a intervenção, deve ser multidisciplinar e passar por três áreas fundamentais:
Farmacológica – Em que a criança será medicada, dirigida aos sintomas nucleares da doença – a desatenção;
Psicoterapêutica – Acompanhamento direto à criança, tendo por base a teoria cognitivo/comportamental;
Psicossocial ¬ – Aconselhamento parental e elaboração de estratégias a ser usadas em contexto escolar e social.

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