Conto Mágico de Natal
A Árvore que Nasceu do Coração da Terra

Na véspera de Natal, Lia adormeceu com um ouvido encostado à janela escutando o vento que parecia cantar histórias antigas.
Quando os seus olhos se fecharam, abriu-se um espaço de calma onde os sonhos ganham profundidade.
Sonhou que o mundo inteiro estava silencioso.
O globo terrestre respirava como um ser vivo e, do seu coração, começou a surgir um brilho claro, quase como um suspiro luminoso.
A luz cresceu e depois tornou-se forma.
Uma árvore gigantesca elevou-se lentamente, atravessando camadas de rocha, minerais e água, até emergir num grande descampado onde todos os povos da Terra a podiam ver.
Era uma árvore de Natal diferente de qualquer outra: o tronco parecia feito de madeira antiga, mas pulsante, guardiã de memórias da própria Terra.
Das suas raízes saiam bolas brancas, luminosas, suaves como a neve e firmes como o cristal. Não eram penduradas por mãos humanas; simplesmente flutuavam, encontrando os seus ramos com a naturalidade de quem conhece o seu lugar.
Enquanto Lia observava, sentiu o mar despertar.
Do fundo dos oceanos subiam estrelas vivas, não de fogo, mas de luz líquida. Luz liquida? Como é possível? Nos sonhos de quem é criança, tudo é possível.
Elas atravessavam correntes marinhas e, ao se moverem, a beleza apareceu a juntar-se ao sonho: os plásticos que antes deambulavam pelo oceano desfaziam-se em cintilas, qual poeira antiga sendo magicamente, arrancada do mundo.
As estrelas subiam então ao céu, e alinhavam-se acima da grande árvore e, com um pequeno gesto, desciam suavemente, até se pendurarem nos seus ramos mais altos.
A árvore agora cintilava com luz de terra e luz de mar: um lindo encontro de tudo o que vive.
Pessoas de todos os lugares começaram a chegar.
Aproximavam-se, mas não faziam pedidos. Agradeciam pela vida e por assistir a tão grande magia.
Aquela árvore lembrava-lhes que a Terra respira connosco e que quando fica com febre é sinal que cuidarmos dela é tão urgente como cuidar de uma parte adormecida do nosso próprio coração.
Lia aproximou-se também.
A árvore nada lhe disse.
Contudo, pelo modo como a luz se movia pelos galhos, ela entendeu que aquele sonho, que lhe parecia ter acordada, apenas serviu para lembrá-la de que cada gesto de cuidado, por menor que seja, acende uma pequena estrela no mundo real.
Quando acordou, ainda era véspera de Natal.
E no seu peito havia uma sensação tranquila, como se um ramo daquela árvore ainda estivesse ali, lembrando-se suavemente, da beleza que nasce quando Terra, mar e pessoas respiram juntos.



