Depoimento de José Mena Abrantes

Por recomendação dos colaboradores D´Jassy Quissanga e Jorge Palma responsáveis pela produção audiovisual dos depoimentos publicados em 2022 a História Social de Angola pública o depoimento do escritor e encenador José Manuel Mena Abrantes, cuja contribuição para o desenvolvimento do Teatro Nacional é inegável, este malanjino de origem portuguesa desde muito novo teve contacto com o cinema na cidade onde nasceu e era incentivado pelas críticas e análises do seu irmão João, outra influência da capital da província da Rainha N`Ginga foram as brincadeiras com as brasas de carvão largadas pelo caldeira do comboio e as recordações da carruagem de passageiros, ambos visíveis nas suas publicações.

© História Social de Angola

Parece ter sido também esta arte que o encobriu e facilitou a fuga para outros países europeus com o propósito de dar continuidade a sua luta pela independência de Angola. Jovem irreverente, ganhou experiência como crítico e desempenhou outros papéis no cenário do teatro em vários países europeus, estudou e aprendeu as línguas dos países onde encontrou solidariedade durante a militância pela luta de libertação nacional e esta vivência profissional contribuiu para o seu primeiro emprego em Angola na Emissora Católica de Angola e mais tarde aceitou com acutilância a missão do Presidente António Agostinho Neto em criar a Agência Angola Press.

Diz-nos que os viventes de cada época histórica terem as suas consciências sociais e mais importante de aconselhar as futuras gerações ser partilhar com elas factos da história social de cada um que participou na luta pela independência nacional e na construção do país Angola. Tal como em outros depoimentos de memórias este criou a expectativa de mais tarde José Manuel Mena Abrantes se predispor a continuar o seu, tudo faremos para merecer a sua confiança e evitarmos que mais memórias materiais e imateriais da história social do nosso país se percam, conforme a preocupação por ele expressa.
Meu nome é José Manuel Mena Abrantes sou o sétimo filho, passei toda minha infância em Malange e a primeira grande viagem foi ir a Lisboa numa viagem de barco com a minha mãe e até aos quinze anos vinha a Luanda passar férias em casa de uma pessoa onde a minha irmã vivia.

Comecei a estudar na escola Vasco da Gama que já desapareceu, depois estudei na escola 74 (não tinha nome) e estudei em um colégio onde fiz a admissão. Fui quase adotado pelo diretor e nunca paguei propina, estive nesse colégio até ao quinto e na altura em que eu estava a estudar, todo malanjino com o quinto ano considerava-se já formado, Em 1960 vim estudar para Luanda onde frequentei o pré universitário e quando acabei o liceu não havia universidade em Angola, havia somente dois cursos superiores. Como queria seguir um curso de letras, na Mutamba, quando o funcionário me atendeu disse-me mas isso é um curso para mulheres, sim, por acaso eu era um dos dois rapazes de uma turma de dezoito mulheres e ainda por cima o funcionário acrescentou “este curso não serve para nada…”.

Eu só entrei para escola aos sete anos e não consigo lembrar-me bem de tudo que aconteceu antes, recordo nunca ter frequentado uma creche e uma escola pré primário, portanto antes de entrar para a escola primária a minha vida era só brincadeiras à volta da primeira casa onde vivi.

O meu pai era contabilista da COTONANG, vivíamos numa casa enorme que tinha um grande quintalão que confinava com uma zona da entrada da Maxinde, naquela altura havia poucas casas. Quando voltei de uma viagem de barco de Lisboa, ia brincar para aquelas máquinas, não sei muito bem para o que elas serviam, só sei que eu achava que parecia uma roda de bicicleta, subi na roda, pus o pé na manivela, acelerei e parti o braço, achei estranho porque depois de cair a mão não endireitou, ainda não doía, fui a correr para a minha mãe para mostrar que a mão não mexia, fui levado ao hospital e andei com a mão ao peito uma memória do quintalão que não deram certo.

Nessa zona do quintalão contíguo a minha casa era cimentada começamos a aprender a andar de patins, só tenho memórias de brincadeiras e como Malange era e ainda é uma cidade muito pequenininha, todo mundo se conhecia, podíamos andar completamente à vontade.

Malange nem sequer era asfaltada, foi um grande evento quando finalmente junto a câmara municipal asfaltaram vinte metros de rua, todas as pessoas foram assistir à inauguração dos 20 metros de rua de Malange. Malange era uma rua muito longa, chamada Rua Governador Andrade, com ruas adjacentes muito pequenas e havia depois casas dispersas. Terminavam as casas e começava logo a mata. Portanto, tínhamos liberdade para circular por onde quiséssemos.

No meu caso, fui o sétimo de oito irmãos, todos mais velhos, quando nasci o mais velho teria dezoito anos, os três mais velhos já trabalhavam. O meu irmão mais velho era guarda redes do Benfica e o segundo era jogador do Sporting, aquela questão de ser do Benfica ou de Sporting apareceu logo e fiquei do Benfica por ser a equipa do meu pai que me levava a assistir os jogos do Benfica, a mãe era do Sporting, os irmãos dividiram-se entre os dois clubes, a não ser que houvesse empate neste jogo, era complicado, lá em casa alguém ia ficar mal disposto, o perdedor, o futebol começou a atrair-me desde os quatro anos até aos quinze anos período vivido em Malange, havia um campo de jogos com quatro quadras de ténis e outro para basquete e andebol, era cimentado e era ali onde andamos de patins, cheguei a jogar hóquei em patins na brincadeira com os amigos, então este campo era praticamente o ponto de atração da juventude naqueles tempos. Ainda hoje aqui em Luanda vive um grande amigo que desde pequenino se tornou o campeão de ténis da cidade.

O campo de jogos tinha um tanque pequenino onde os mais jovens podiam entrar e fazíamos de conta que estávamos a nadar. Mais tarde, abriu uma piscina grande e tornou-se outro ponto de atração de todos os jovens porque era uma piscina de dimensão olímpica e onde todos aprenderam a nadar e eu só aprendi a nadar em Portugal onde fui continuar os estudos.

Leia o depoimento completo

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