Gaza – O outro lado da guerra!

A par da profunda destruição, do sofrimento e da morte, a guerra em Gaza trouxe consigo uma devastação ambiental sem precedentes. Os custos para o meio ambiente poderão ser considerados elevados na transversalidade dos danos causados e vão desde a contaminação das águas, até aos esgotos a céu aberto; desde os solos outrora produtivos – hoje destruídos, – até à terra transformada em crateras e pó, onde, noutros tempos não muito distantes, pontificavam verdejantes árvores.
Os impactes da guerra são visíveis não só nos esgotos a céu aberto a desaguarem no Mediterrâneo, na sequência da destruição de estações de tratamento de águas, mas também na destruição de árvores, arbustos, terrenos férteis de cultivo, incluindo estufas e poços de água. Toda esta destruição abre caminho ao avanço acelerado da desertificação. Terras que, outrora, foram verdadeiros viveiros de biodiversidade, jazem hoje como vítimas silenciosas desta guerra. Tudo isto parece ir contra as orientações da Convenção de Genebra que proíbe guerras que possam causar “danos generalizados, de longo prazo e severos ao ambiente natural”. Segundo dados da FAO – Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação, dois terços das terras agrícolas de Gaza terão sido gravemente danificadas pela guerra. A Faixa de Gaza é uma das regiões mais densamente povoadas da Terra e isso tem contribuído para uma imensa pressão na extracção de água dos poços subterrâneos.

Com a descida do nível dos lençóis freáticos de água doce, assistiu-se, nos últimos anos, à infiltração de água salgada nos mesmos, tornando essas águas impróprias para consumo humano. A solução de recurso passou pela construção de centrais de dessalinização, grande parte delas inactivas durante a guerra, devido aos cortes energéticos. Se a infiltração natural da água do mar já era problemática, a introdução deliberada dessa mesma água por parte de Israel nos vários quilómetros de túneis cavados pelo Hamas, provocando a sua inundação, pode estar a contribuir para contaminar ainda mais esses poços de água doce.
O colapso das estruturas de recolha e tratamento de lixo e a imensa destruição provocada pela produziram milhões de toneladas de entulho, materiais perigosos, restos de munições e de cadáveres humanos e de animais.
Sendo uma zona de confluência de três continentes – Europa, África e Ásia, – a Faixa de Gaza era uma zona muito rica em biodiversidade, todavia, boa parte dela foi agora destruída ou sofreu sérios danos, tendo em conta a discrepância entre as imagens aéreas produzidas antes do conflito e as captadas na actualidade.
Hoje, uma de entre muitas outras perguntas que carecem de resposta, poderia muito bem ser a seguinte – como reconstruir a Faixa de Gaza, tendo em consideração os severos danos causados ao meio ambiente pela guerra entre Israel e o Hamas?
O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico