Gilberto Costa
O depoimento de Gilberto Costa e do Adelino Fernandes são as primeiras memórias coletadas de angolanos nascidos no Pós Independência e apresentam a contribuição da primeira geração de angolanos nascidos neste período. Este escoteiro da Igreja do Carmo reconhece o papel da igreja católica na sua formação e relativiza algumas condições sociais da época do “partido único” à época atual e reafirma que havia mais humanismo durante a sua infância.
Este associativista nascido três meses antes da independência propõem às novas gerações reflexões a volta do humanismo existente na família, na sociedade e na governação durante a sua adolescência, período designado por ele como “os tempos do partido único” e indica o resgate dos valores e o da matriz de todos angolanos a sua Pátria, clamando o comprometimento de todos incluindo as diásporas inflacionadas pela fuga de quadros da sua geração e de outras.
Introdução
Eu sou o Gilberto Costa mais conhecido por Gil Costa, nasci a 19 de Junho de 1975 e nas minhas brincadeiras tenho dito que eu impulsionei o nascimento de Angola, quando brinco com as pessoas. Nasci e cresci em Angola, Angola para mim, para além de ser o país que me viu nascer e crescer é o país que também ensinou-me muita coisa, onde aprendi a ter as primeiras noções no que concerne às questões sociais.
Eu sou da geração do “por favor”, sou da geração em que o vizinho tinha uma responsabilidade sobre nós, tratamos o vizinho como tio, como membro da família.
Fiz o meu ensino primário na escola 189 onde hoje é a sede do Banco Económico, depois tive que terminar a quarta classe na 202 , ao lado do Mutu Ya Kevela porque a escola onde comecei a fazer a minha iniciação depois passou para a segurança de Estado, era a escola dos funcionários da segurança de estado. Após concluir a 4ª Classe passei para a Escola Alda Lara onde estudei até a 7ª classe e depois passei para o IMEL, não terminei porque fui para a África do Sul em 1990.
No meu regresso da África do Sul tive a minha primeira experiência em organizar um evento social em que a temática tinha a ver com o VIH/SIDA e foi a partir daí que eu participo na criação do Grupo Movimento que se junta às outras duas ong`s que existiam em Angola, a ALSIDA e outra e em conjunto criamos a ANASO, o meu trabalho foi o de legalizar a ANASO, eu e mais alguns colegas, o logotipo que a ANASO usa foi desenhado por mim, posso dizer que sou um dos co fundadores da ANASO
Em 2000 vim para Portugal , posto aqui faço uma parceria com o nosso consulado, na altura localizado no edifício da embaixada de Angola, em Entrecampos , a Consul Simbrão lançou-me um desafio dentro do que tinha apresentado, então eu comecei a trabalhar com o Consulado no que tinha a haver com as comunidades, fazíamos trabalhos e ações no intuito de campanhas no combate do HIV/SIDA. Depois, vou para as Ilhas dos Açores e preparei a primeira visita da delegação do consulado aquelas ilhas, começaram a tratar-me como o “Homem das Ilhas” por ter feito o link com os estudantes, das ilhas dos Açores e da Madeira e foi a partir daí que os exercícios consulares eram feitos naquelas ilhas porque era muito dispendioso o cidadão angolano que residia nas ilhas ter de deslocar para puder obter o passaporte e realizar as inscrições consulares, por isso apresentei a proposta e a Dra. Simbrão logo a primeira pediu para criar as condições da sua visita e desta forma nós conseguimos aproximar a comunidade angolana das ilhas ao continente, neste caso com a nossa estrutura superior cá em Lisboa.
Escoteiro da Igreja do Carmo
Antes de eu vir para Portugal, a minha vida religiosa sempre foi bem acentuada, eu fui catequista, seminarista, acólito escoteiro. E durante esse período em que eu estive nas lideranças ou nos grupos religiosos tive sempre uma participação muito ativa. Fiz parte da Cruz Vermelha que naquela altura depois dos confrontos desenvolvia ações com a igreja que me viu a crescer, a Igreja do Carmo, fica ao lado do Governo Provincial de Luanda, esta igreja por norma distribuía kits de alimentos aos deslocados de guerra e eu fiz parte disso , na altura a responsável era a Dra. Vitória , foi uma pessoa muito importante na minha vida, ela deu-me um empurrão muito grande porque foi a partir daí que eu comecei a ter uma atenção muito especial a área social, o amor ao próximo foi tudo pelo trabalho que a Dra. Vitória fazia. Ela era médica e ao mesmo tempo tinha sempre a disponibilidade para o próximo. E havia uma equipa muito humanista que estava sempre disponível para apoiar os mais próximos. Então, nós naquela altura organizamos as cestas básicas ajudando os mais necessitados. Posto isto, entrei para o escotismo, o escotismo também foi uma escola, quando se fala de tropa posso dizer que o escotismo que eu fiz em Angola foi uma espécie de recruta, foi uma experiência muito interessante, muito profunda que me ajudou imenso, hoje eu sou o que sou graças as áreas onde eu passei, tanto no escotismo, os grupos que eu frequentei a nível da igreja e também a educação que eu recebi dos meus pais, por isso eu tenho que agradecer imenso aos meus pais, a minha família em si e particularmente a Deus porque orientou-me para que eu pudesse ter essa base educacional.
No escotismo nós tínhamos a nossa liderança que era composta pelo chefe Lo, a chefe Emília, a chefe Geny, o chefe Jorge Silveira, o chefe Primo e esses foram pessoas importantes. Para lhe dizer, as primeiras árvores que foram plantadas do Benfica para cima foi o agrupamento do Carmo que plantou aquelas árvores, nós ficamos quase um mês a plantar aquelas árvores, foi um corredor acima de quinhentos quilómetros que nós plantamos de árvores e tem se dito um homem que se preze é aquele que planta uma árvore, que lê um livro e eu posso dizer ainda não escrevi um livro, já plantei árvores, já fiz algumas coisas interessantes, contributos ao próprio país.