Mensagem do Presidente da AILD

Intolerância

Um pouco por todo o mundo existem lusodescendentes perseguidos, com a possibilidade de serem mortos ou presos, pelas suas convicções ou simplesmente por as manifestarem.
Apesar de estarmos a festejar os 50 anos do 25 de abril, torna-se cada vez mais difícil manifestarmos as nossas opiniões em público sem se ser ofendido, ou ver a nossa família ser ofendida, correndo mesmo o risco de ser ostracizado, e os lusodescendentes que regressam a Portugal notam um agravamento desta situação.
Ainda recentemente uma lusodescendente de Boston, referia isso mesmo numa entrevista para o podcast “Geração 80” do jornal Expresso. Daniela Ruah, que encarna perfeitamente a maneira de ser português, partilhou com os ouvintes essa preocupação, notando uma cada vez maior intolerância por opiniões diferentes, um crescente aparecimento de lados entrincheirados e uma polarização tal, que se torna difícil imaginar uma conversa agradável e tranquila entre pessoas com opiniões antagónicas, pois se não se repetem os mesmos pensamentos é porque são contra nós, são nossos inimigos, são de um campo extremista qualquer. Ora isso nem sempre foi assim, mas, neste momento em Portugal, o diálogo saudável entre pessoas que não partilham das mesmas convicções e opiniões está a tornar-se uma raridade. Em vez de progredirmos estamos a perder traços de civilização.
Exemplos como o programa “Radicais Livres” (Antena 1) torna-se um evento extraordinário e raro, já que parece ser possível que duas pessoas de campos opostos, não se insultem e se ameacem com violência, conseguindo conversar sobre todos os temas, respeitando-se e sendo mesmo amigos…
Está a perder-se a capacidade de analisar o mérito de cada ideia e a habilidade de exprimir visões diferentes de forma urbana e civilizada, respeitando o outro.

Na história da Europa já se viveram várias épocas assim, como por exemplo durante a idade média, que por preconceitos vários, filósofos e pensadores tinham as suas obras proscritas. No século XIII, um italiano de nome Tomás de Aquino, um humanista e cidadão do mundo, um exemplo de homem moderno e progressista que pondo os preconceitos de parte, valorizando a razão, não fazendo juízos sobre as pessoas que manifestavam certas afirmações e opiniões, começou a analisar as obras proscritas pelo mérito das afirmações nelas contidas, sem mais. O que o motivava era a busca pela verdade e a sabedoria, independentemente de quem as proferia. Infelizmente o progresso humano não é linear, e está a criar-se um ambiente em Portugal em que não se tolera as pessoas moderadas, pois se não têm as mesmas convicções, somente podem ser nossas inimigas. Em última análise desejariam que em Portugal somente houvesse uma pessoa com princípios, e as outras seriam toleradas se tivessem os mesmos… Abril queria pôr fim a este tipo de conceção.
Estamos a perder a empatia, o sentido de justiça, a compaixão e a consciência ética. Estamos a tornar -nos mais animais e menos humanos, obrigando-nos a optar por um campo de extremistas.
Temos todos que construir a nossa comunidade com todos, tendo a esperança que é possível construir uma sociedade que escuta a verdade independentemente de quem a profere, e que, com o espírito de abril se ponha fim à polícia da linguagem, favorecendo assim a liberdade de pensamento. Quem procurar uma referência pode usar o exemplo de Tomás de Aquino, que morrendo há 700 anos procurava simplesmente a verdade em harmonia com todos.

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