Na comitiva do Presidente Francês Emanuel Macron
Uma homenagem à comunidade portuguesa de França

Ao integrar a delegação presidencial francesa na visita de Estado a Portugal, testemunhei um momento de reconhecimento histórico para os mais de 8000 eleitos de origem portuguesa e para toda a nossa comunidade.
A Honra de Representar a Comunidade: Reflexões sobre a Visita de Estado a Portugal
A visita de Estado do Presidente Emmanuel Macron a Portugal, em fevereiro de 2025, não foi apenas um momento diplomático de alto nível entre dois países aliados e irmãos. Foi também um sinal profundo de reconhecimento, de confiança e de compromisso com a comunidade luso-francesa, em especial com os mais de 8000 autarcas e eleitos de origem portuguesa em França. Foi com uma honra imensa que integrei oficialmente a delegação presidencial francesa durante esta visita histórica, um gesto carregado de simbolismo e de futuro.
Desde há décadas, os portugueses em França contribuem de forma exemplar para o dinamismo económico, social, associativo e político do país que os acolheu. Esta realidade, tantas vezes invisibilizada, encontrou finalmente o seu justo lugar nos mais altos círculos da República. O convite que me foi dirigido pelo Presidente da República Francesa para fazer parte da sua comitiva não foi apenas um reconhecimento pessoal, mas sobretudo uma homenagem coletiva à nossa comunidade.
Um programa denso, uma ambição comum
A visita do Presidente Macron teve um programa exigente e rico. Entre os pontos altos, destaca-se a cerimónia de passagem de testemunho entre a França e Portugal no âmbito da preparação da Conferência das Nações Unidas sobre o Oceano (UNOC), que terá lugar em Nice em junho de 2025. Esta cerimónia, que contou com a presença do Primeiro-Ministro português Luís Montenegro, simbolizou a continuidade e a cooperação entre os nossos países no que toca à proteção dos oceanos — um tema crucial para o futuro do planeta e uma prioridade comum.
Durante a visita, foram igualmente assinados vários protocolos de cooperação estratégica entre França e Portugal, reforçando laços já fortes em domínios como a defesa, a transição energética, a investigação científica, o ensino superior e a inovação tecnológica. Estes acordos não surgem do acaso: são o resultado de um trabalho político sustentado e de uma visão partilhada de uma Europa solidária e soberana.
A escolha de Portugal como parceiro estratégico na transição verde e azul não é inocente. É o reconhecimento do potencial do país em matérias como as energias renováveis, a economia do mar e a inovação sustentável. A França, por seu lado, posiciona-se como um parceiro europeu sólido e ambicioso. Esta aliança verde e azul não se limita ao simbolismo: abre portas a investimentos concretos, a parcerias entre universidades, centros de investigação e empresas dos dois países.
Um gesto político forte e carregado de sentido
Ao integrar a comitiva oficial do Presidente da República, tive a honra de representar os eleitos franceses de origem portuguesa, uma realidade muitas vezes ignorada na paisagem mediática e política. Somos mais de 8000 eleitos — autarcas, conselheiros municipais, regionais ou departamentais — que todos os dias contribuímos para o funcionamento democrático da República Francesa. Esta representatividade não tem paralelo noutros países europeus.
Fundador e presidente da Associação dos Eleitos de Origem Portuguesa em França, a associação CIVICA, organização que celebra este ano os seus 25 anos de existência, sempre lutei para dar visibilidade ao compromisso cívico e político dos luso-descendentes. A nossa associação foi pioneira em reunir eleitos de todas as sensibilidades políticas e de todas as regiões de França, com um único objetivo: valorizar o papel da comunidade portuguesa na vida pública francesa.
Esta presença política é, por si só, um exemplo de integração bem-sucedida e de fidelidade a dois países. Os eleitos de origem portuguesa nunca deixaram de cultivar o amor às suas raízes, ao mesmo tempo que servem com lealdade a República Francesa. É esse duplo pertencimento que faz a riqueza do nosso compromisso.

O poder do símbolo
A presença de um eleito português na comitiva do Presidente Macron envia uma mensagem clara: a República reconhece os seus filhos, independentemente das suas origens, e valoriza o mérito, o empenho e o serviço público. Este gesto tem também uma dimensão europeia. Numa altura em que o projeto europeu é confrontado com desafios imensos — climáticos, geopolíticos, democráticos —, é essencial recordar que a Europa se constrói com cidadãos que acreditam nos seus valores fundamentais: liberdade, solidariedade, justiça.
Os portugueses de França, com o seu percurso de trabalho, resiliência e discrição, encarnam esses valores. Não são apenas uma comunidade de emigrantes. São, cada vez mais, uma força ativa, estruturada e influente na sociedade francesa. Os seus filhos e netos ocupam lugares de destaque nas artes, nas ciências, no desporto, no mundo empresarial e, como vemos, também na política.
É este percurso exemplar que deve ser celebrado e continuado. A integração não é assimilação. É participação. É contribuição. É orgulho pelas raízes e compromisso com o país de acolhimento.
O simbolismo do mar: uma ponte entre nações
Durante a visita de Estado, o mar foi um dos temas centrais. Portugal, país de navegadores, e França, potência marítima de primeiro plano, partilham uma visão comum sobre a urgência de proteger os oceanos. A cerimónia de transmissão entre Portugal e França no contexto da UNOC foi, mais do que um ato protocolar, um verdadeiro pacto de ação.
Estar presente nesse momento, ao lado do Presidente Macron e do Primeiro-Ministro português, foi um dos pontos emocionantes. Ali estavam dois países unidos por séculos de história comum, mas também por desafios contemporâneos partilhados. Ali estava, também, o reconhecimento do papel da diáspora portuguesa como elo vivo entre as duas nações.
O mar une. O mar abre horizontes. E a comunidade portuguesa em França é precisamente isso: uma ponte entre culturas, uma corrente contínua de humanidade e de esperança.
Um futuro de cooperação e partilha
Os protocolos assinados durante esta visita preparam o futuro. Não apenas entre Estados, mas entre povos. A cooperação em matéria de educação, por exemplo, abre novas perspetivas para os jovens luso-descendentes. A valorização do ensino da língua portuguesa nas escolas francesas, o reforço das parcerias universitárias, o apoio à mobilidade estudantil e profissional são medidas concretas que permitirão à nova geração afirmar-se plenamente como atores europeus.
A transição energética, outro eixo essencial dos acordos bilaterais, é também uma oportunidade para envolver os territórios onde vivem muitos portugueses em França. As autarquias locais, serão chamadas a implementar políticas públicas inovadoras nesta área. A sua presença, o seu conhecimento do terreno e a sua sensibilidade cultural serão ativos decisivos.
Uma responsabilidade acrescida
Ser convidado para integrar uma delegação presidencial não é apenas uma honra. É uma responsabilidade. Representar a comunidade portuguesa de França num contexto tão solene obriga-me a continuar, com ainda mais determinação, o trabalho iniciado há décadas, de servir o bem comum.
Esta responsabilidade estende-se também à nossa associação CIVICA, que entra agora numa nova fase da sua história. Ao celebrar 25 anos, a Associação dos Eleitos de Origem Portuguesa em França pode orgulhar-se de um percurso exemplar. Mas o futuro exige mais: mais visibilidade, mais influência, mais projetos.
Queremos reforçar as ligações institucionais entre eleitos portugueses e franco-portugueses. Queremos promover o intercâmbio de boas práticas entre autarquias dos dois países. Queremos formar, apoiar e incentivar os jovens luso-descendentes a envolverem-se na vida cívica e política. Tais foram os objetivos do congresso aniversário organizado no Senado no passado dia 29 de março.
Um caminho de orgulho e de esperança
A visita de Estado do Presidente Macron a Portugal foi um momento histórico. Para os dois países – tal visita de estado não tinha acontecido desde a 26 anos. Para a Europa. Mas também, para a comunidade portuguesa em França. A minha presença na comitiva presidencial simbolizou o reconhecimento de um percurso coletivo, feito de trabalho, de discrição e de fidelidade.
Hoje, mais do que nunca, temos de continuar a construir pontes. Entre os nossos dois países. Entre as gerações. Entre as instituições e os cidadãos. A comunidade portuguesa em França tem um papel único a desempenhar nesta construção.
Com orgulho, com responsabilidade e com esperança.