Obra de Capa

L’envers

Na desordem de uma ordem planejada, a linha entrelaça a folha rasgada numa direção alinhada. Ponto por ponto tece o espaço irregular, onde o fio de algodão ganha textura na sua loucura. Neste lugar a poesia do desenho esconde o medo do ferro. O arame farpado, na metamorfose do poder, ganha fulgor na dor emaranhada da ferida costurada.  Na sua persistência, os sentimentos a óleo ganham a cor da agonia, o lápis uma mina de pavor. Ponto de sangue no linho da linha, pinta a persistência do ser. E, no fim do dia, é no ponto e na linha que se constrói a fantasia de um outro lugar.

Quando escolhi esta obra, não era este o texto, era outro. Essa é a liberdade que a arte nos dá, essa é a forma como a Sónia Aniceto constrói as suas obras. Ainda que tenha em si um fio condutor deixa ao espectador uma gradação de possibilidades. E foi com essa premissa em mente que revi a obra e que nela encontrei uma metáfora para o momento. 

Texto: Monica Musoni, artista visual



1 Comentário

  • Joaquim Pinto da Silva
    2 anos ago Publicar uma Resposta

    Bonito texto para grnde obra. Combinam perfeitamente.

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