Portugal

Um país em processo de eucaliptização

Na Europa, Portugal, é hoje o país com maior área ocupada por plantações de eucaliptos e, a nível mundial, ocupa a 5.ª posição. À frente de Portugal, só a China, o Brasil, a Austrália e a Índia, que possuem territórios, 104, 92, 83 e 36 vezes maiores que o nosso, respectivamente. Em termos relativos, não há outro país do mundo com uma desproporção tão elevada entre a dimensão territorial e a área ocupada pelo eucaliptal.

Os quase 900.000 hectares ocupados por esta espécie correspondem a cerca de 10% da superfície do território continental português, ocupando uma área muito superior à das espécies autóctones, onde se incluem, os sobreiros, os carvalhos e as azinheiras, entre outras.


Comparativamente aos eucaliptos, estas espécies autóctones, apresentam um crescimento mais lento, são mais resistentes ao fogo, consomem menos água e servem de porto de abrigo a milhares de animais e de outras plantas.
O eucalipto, muitas vezes denominado de “petróleo verde”, ao lado do pinheiro bravo, são os exemplos paradigmáticos do forte investimento florestal em monoculturas que, não deixando de ser plantações de árvores, não são uma floresta. Uma floresta é muito mais que isso! Investe-se na monocultura do eucaliptal porque é muito lucrativa, porque o seu retorno económico é imediato, quando comparado com o lucro resultante das florestas autóctones. Esta expansão descontrolada das plantações de eucaliptos tem tido consequências nefastas ao nível da utilização tradicional das florestas, da preservação dos solos, da perda de biodiversidade e da gestão dos fogos florestais.
Para mitigar o grave problema dos fogos nas plantações de eucaliptos, as associações Acréscimo e Quercus propõem, entre outras medidas, a plantação de faixas laterais às estradas com cerca de 20 metros (50 nas auto-estradas) a partir da berma onde se plantariam espécies autóctones, mais resistentes aos fogos.

O interior despovoado é terreno fértil para a progressão descontrolada do eucaliptal. Os terrenos não cultivados tornam-se uma fonte de prejuízo devido à necessidade constante de limpezas. Perante isto, a solução mais fácil encontrada por muitos proprietários passa pela plantação de eucaliptos, com os quais obtém alguns rendimentos a cada 10 anos, até aos 30. Todavia, após alguns anos, é necessário arrancar e replantar de novo. Este processo acaba por absorver uma parte considerável dos rendimentos obtidos nos cortes dos anos anteriores, pelo que, alguns proprietários acabam pode deixar os terrenos ao abandono, invadidos por matagal e por outras espécies invasoras.
Os graves incêndios de 2017 vieram dizer-nos, da pior forma possível, que a organização das nossas florestas precisa mudar. Precisa mudar, muito!

Entretanto, produziu-se nova legislação com o intuito de restringir a proliferação de plantações de eucaliptos, como forma de evitar catástrofes semelhantes no futuro, mas sem grandes resultados práticos. Apesar das alterações legais, no terreno, tudo ficou na mesma, com as devidas excepções.
Recentemente, o Governo português decidiu aumentar a área para plantação de eucaliptos, quando se tinha comprometido a reduzi-la, facto que gerou bastante contestação por parte de várias organizações ligadas à protecção do ambiente. As pessoas estão cada vez mais empenhadas na defesa das florestas, da água, dos ecossistemas, numa visão menos economicista que aquela que vingou até alguns anos atrás.
Indiferentes à contestação popular, as plantações avançam, a coberto ou à margem da lei.
Portugal, é desde meados do séc. XIX, um país em processo de eucaliptização!


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