Sobre a mulher empresária

e o seu impacto no desenvolvimento socioeconómico

Desde que fundei a Ei! Assessoria Migratória, há quase uma década, tenho estado cada vez mais atenta e mais envolvida na compreensão das desigualdades estruturais assentes na nossa sociedade, principalmente as desigualdades de género. Tendo antes trabalhado num setor maioritariamente masculino, e sendo uma empreendedora em Portugal, ao longo dos anos foi ficando cada vez mais clara a perceção de como a desigualdade tem um impacto direto na vida de muitas mulheres, da mesma forma que fiquei a perceber os obstáculos que as próprias mulheres se colocam dentro do mundo profissional e do empreendedorismo.
Apesar de existirem já vários estudos sobre o desenvolvimento do empreendedorismo social na Europa, é visível que a perspetiva de género ainda não foi devidamente introduzida, sendo que são escassos os dados empíricos relativos a mulheres empresárias e ao seu papel no desenvolvimento da nossa sociedade e economia. Isto levanta algumas preocupações, porque fica a questão: como vamos apresentar soluções eficientes, se pouco conhecemos o problema?
É certo que no campo tradicional do empreendedorismo, há uma grande disparidade na presença de homens e mulheres, sendo que entre 2019 e 2020, na Europa, de todas as startups criadas, apenas 8% foram fundadas por mulheres. Por outro lado, alguns estudos apontam que há uma maior participação de mulheres, em relação a homens, nas organizações sem fins lucrativos. Isto poderá ser justificado pelo facto de as mulheres, com a bagagem de papéis de género que lhes é atribuída à nascença, se sintam mais próximas de problemas sociais. Seja como for, num caso ou noutro o eco destas ações parecem não chegar a muitas pessoas.
Há algumas semanas atrás tive o privilégio de fazer parte da mesa de participantes num workshop em que tema era Mulher empresária e o seu impacto no desenvolvimento socioeconómico. Foi um prazer reencontrar rostos conhecidos e bem familiares, mas foi ótimo poder ouvir testemunhos incríveis de mulheres espalhadas pelas terras da lusofonia, que de alguma forma contribuíram não só para quebrar com o estigma da mulher empresário, como para alguma forma de desenvolvimento económico, social ou político, nos contextos em que estavam inseridas. Este tipo de espírito no meu género, mesmo nos dias de hoje, continua a ser motivo de aplausos, pois alguns estudos académicos recentes indicam que as mulheres ainda são discriminadas com base no seu aspeto, são-lhes conferidas menos oportunidades de poder e participação ativa no processo de tomada de decisão, sendo que muitas, inclusivamente, sentem mais entraves no networking.

Ademais, e apesar dos dados estatísticos apontarem que startups fundadas por mulheres têm um melhor desempenho e uma maior probabilidade de sucesso, estas são quem tem menos acesso a financiamento disponível. Isto também está, mesmo que de forma indireta, relacionado com a disparidade salarial no empreendedorismo social: mulheres empreendedoras recebem menos 23% do que os seus colegas homens no mesmo cargo (dados de 2014).
Considerando uma investigação, levada a cabo pelo European Women’s Lobby, existe uma esmagadora vontade em dar resposta a necessidades pouco ou nada solucionadas ao nível da comunidade e é este facto que gera a maior motivação para uma mulher iniciar um negócio social, ou que possa ter impacto numa necessidade específica da sociedade. Este dado é curioso considerando a intervenção de uma das participantes deste workshop, ao referir que, “a vontade de gerar inovação social e ter uma maior liberdade na carreira profissional são pontos importantes de motivação para nos tornarmos empresárias”. Isto leva-me a questionar o seguinte: será que as mulheres empreendedoras estão conscientes que, por vezes, podem estar a desenvolver um negócio social? Ou seja começam um negócio baseado na ideia do lucro e só depois se apercebem que o seu negócio gera impacto social?
É importante que se consiga concluir que a falta de visibilidade das mulheres no empreendedorismo, especialmente mulheres em cargos de liderança, contribui para que jovens mulheres das próximas gerações não se sintam devidamente encorajadas a desenvolver competências e mentalidade empreendedora, a compreender o empreendedorismo e a posição de empresária como uma carreira recomendável. Das muitas lições que tirei deste workshop, há duas que considero fulcrais pensarmos todos sobre elas: a primeira é que por um lado, como mulheres, devemos ser mais fortes e audazes do que os estigmas sociais nos definem, indo além de qualquer sensação de desencorajamento; por outro lado também acredito que é preciso começar a criar notoriedade, através de estudos concretos, para o papel da mulher empresário para a economia e para a sociedade na qual está inserida. Desta forma, não só incentivamos as futuras gerações de jovens mulheres com sonhos de singrar nesta área, como contribuímos para a mudança de mentalidade sobre as mulheres empresárias.
Se tiver interesse em saber tudo o que foi falado neste workshop clique aqui.


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