A época dos narcisos
Assim como há grandes e pequenos filhos da puta, também há grandes e pequenos idiotas (ou grandes e pequenos narcisos). Os pequenos não trazem grande mal ao mundo; já os grandes, não podem passar despercebidos. Insatisfeitos com o seu tamanho, esforçam-se constantemente por ser maiores e melhores idiotas. Claro que se acham o máximo, e claro que os outros é que são os idiotas, na sua perspectiva. As suas opiniões deveriam ser emolduradas a ouro. Que digo? Deviam erguer-se monumentos nacionais às suas ideias brilhantes e visionárias. O grande drama do grande narciso é precisamente este: por mais que se esforce, ninguém percebe que APENAS da sua mente genial é que brotam pérolas dignas desse nome e se eleva, qual ave rara e perfeita, a verdade absoluta. Que fazer, então, para que o mundo lhes conceda o pedestal de que se sabem merecedores? Aqui começa a grande luta do grande narciso. Há que enaltecer a prodigiosa obra da natureza que transportam dentro do crânio. E, claro, como grandes idiotas que são, só encontram uma maneira de o fazer: derrotando todos os edifícios ideológicos diferentes do seu.
Mas aqui os grandes narcisos cometem um erro crasso (como não poderia deixar de ser, dada a sua condição de grandes idiotas): em lugar das ideias, eles atacam os portadores das ideias. Não sabem discutir nem argumentar, apenas ofender e humilhar. E neste ataque pessoal tudo vale, o objectivo é apenas um: denegrir o outro. Estratégia que revela bem o quão pobres de espírito estes grandes narcisos realmente são. Exímios a negar a realidade e a projectar tudo o que em si avaliam como nefasto: atacam, mas as vítimas são eles; ofendem, mas são eles os ofendidos; desprezam, mas dizem-se desprezados. Nunca dão o braço a torcer. Recuar, pedir desculpa? Que humilhação para suas excelências! Eles NUNCA se enganam. NUNCA se excedem, NUNCA exageram. Ou não fossem donos e senhores da VERDADE DIVINA. Têm uma missão na terra, que é a de combater a imbecilidade dominante (a dos outros, como é evidente), responsável, segundo eles, pelos grandes males da humanidade. Desgraçadamente, se o poder lhes chega às mãos, rapidamente se tornam a verdadeira ameaça à segurança universal. Há que ter o cuidado de confinar os narcisos às jarras, onde, apesar de tudo, podem exercer a sua soberania sem percalços de maior.
A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico