João Duque
Presidente do Instituto Superior de Economia e Gestão
João Luís Correia Duque licenciou-se em Organização e Gestão de Empresas pelo ISEG, Universidade de Lisboa, em 1984. Obteve o grau de doutor em 1995, pela Universidade de Manchester (Manchester Business School), com uma tese sobre mercados de opções financeiras. Em 2009 tomou posse como Presidente do ISEG, cargo que exerceu até 2014 e a que voltou em novembro de 2022, permanecendo como professor catedrático do Departamento de Gestão. Para além das atividades académicas assina a coluna Confusion de Confusiones no jornal Expresso, é comentador da SIC e da Rádio Renascença para a área económica, tendo sido um dos membros do painel permanente do famoso programa Plano Inclinado naquele canal de televisão português. É membro do Conselho Geral e de Supervisão da Caixa Central de Crédito Agrícola Mútuo e preside ao Comité de Remunerações da REN e vogal do Conselho Fiscal da Novabase.
Economista, docente, cronista, comentador. É longa a lista de funções e atividades que desempenha, mas deixando os cargos e ofícios de lado, quem é João Duque?
Um português com 62 anos. Filho único de uma família humilde, que investiu em mim quando percebeu que tinha capacidade e gosto pelo estudo e pelo conhecimento. Graças a todo o apoio dos meus pais, estudei e consegui licenciar-me. Considero que sempre tive uma vida “normal”. Sempre fui muito ligado ao desporto e durante a minha adolescência pratiquei ginástica. Durante muitos anos, fiz trampolins e cheguei a ser campeão nacional por equipes, durante três anos. Quando entrei na faculdade percebi que já não podia continuar na competição, por ser muito difícil compatibilizar as duas coisas. Foi nessa época, que encontrei grandes colegas e fiz amigos que ainda hoje me são muito próximos.
Nesse momento, abandonei a competição, mas continuei a manter a prática da ginástica de demonstração.
Quando concluí o curso, decidi que queria lecionar. Sempre quis ser professor e já em jovem dava explicações, porque gostava, mas também porque me permitiu angariar algum dinheiro extra. Cheguei também a dar aulas gratuitamente numa paróquia para ajudar os trabalhadores-estudantes que se inscreviam para fazer o exame “ad hoc”. Sempre gostei muito de ensinar e a universidade era um sítio de onde sentia particular apelo e onde gostava de poder lecionar. Por isso, quando concluí o curso de licenciatura, concorri ao ISEG e consegui entrar seis meses mais tarde, tendo começado por lecionar Matemática.
Em que momento da sua vida percebeu que o seu futuro passaria pela área da Economia?
Sinceramente, tive dúvidas se devia ir para Engenharia ou para Economia. No sexto ou sétimo ano, que na altura era o ano em que escolhíamos, optei por ter duas disciplinas que tanto davam para Engenharia como para Economia. Não sabia bem o que queria e fiquei sempre assim até ao fim.
A Engenharia sempre me despertou interesse, mas eu tinha um grande medo: o desenho. Gostava de tirar notas elevadas e sentia que o desenho seria uma dificuldade para mim. O que me fez “mudar a agulha” foi a cadeira de Física e, particularmente, uma área de estudo que não me cativou. Fiquei um bocado “desagradado” com a Física e foi então que decidi enveredar pela área da Economia.
Depois, acabei mesmo por perceber que a Economia é mesmo mais consentânea comigo, porque me permite conciliar o gosto pela área analítica e o gosto pela parte das ciências sociais. Gosto de Literatura, Poesia, de Arte em geral, tal como gosto de Física, de Matemática, de ciências exatas. Em Engenharia era muito mais difícil encontrar estes dois mundos.
Desse modo, penso que esta “casa” acabou por assentar bem com a minha personalidade.
A sua primeira experiência em docência aconteceu em 1985, no Instituto Superior de Economia e Gestão. Desde aí nunca mais parou. O que de melhor retira desta longa caminhada pelo ensino?
Essencialmente duas coisas. Em primeiro lugar, esta passagem pela docência dá-me a possibilidade única de conhecer muita gente nova, permanentemente. Entre colegas e alunos, todos os anos, conheço novas pessoas. O fato de estar sempre em contacto com novos jovens dá-me a incrível sensação de que não envelheço. Se pensarmos, todos os anos os alunos que chegam têm sempre a mesma idade e isso dá-me a sensação de que eu também tenho sempre a mesma idade. E essa é uma sensação extraordinária.
Em segundo lugar, é uma experiência muito desafiadora, porque me obriga constantemente a aprender novas coisas. Desperta aquele vício de tentar conhecer e saber mais coisas. Isso é muito desafiador.
Além disso, ser docente no ISEG é dispor de uma liberdade científica e intelectual incrível. Nós não impomos modelos, gostamos da diversidade. Para nós, a diversidade é um ativo importante a preservar. Um docente no ISEG pode criar todos os anos novas realidades, experiências novas, com total liberdade. Isto é algo muito atrativo.
Além de apreciar muito ser professor, que outras paixões tem na vida?
Há, claro, aquela paixão clubística. Sou sócio do Sporting, desde a minha maioridade. Como já referi, sinto orgulho por ter representado o clube internacionalmente em ginástica de demonstração, em ter sido campeão nacional por equipas em trampolim, durante três anos, e em cama elástica, durante um ano. Mais tarde, nos Órgãos Sociais, fiz parte do Conselho Leonino, durante um mandato, e incorporei a Comissão de Fiscalização, responsável por aplicar os estatutos e consequências à Direção do Bruno de Carvalho. Participei nesta decisão por considerar que o Sporting estava com um governance model e de liderança que não devia vingar como exemplo na sociedade portuguesa. Primeiro, porque feria aquilo que eram os estatutos e feria, a meu ver, aquilo que é a forma digna de como se devem conduzir organizações com grande impacto social.
Em meados de novembro de 2022, voltou a assumir a presidência do ISEG, depois de já ter sido presidente desta instituição entre 2009 e 2014. Durante a sua tomada de posse afirmou que “nos próximos anos a gestão da escola seguirá a sua matriz, assente nos princípios de liberdade de pensamento, liberdade de ação dentro do respeito pelo próximo e enquadrado na vontade coletiva” e que não será uma “madrassa de qualquer corrente económica ou política”. Dito isto, o que se espera da instituição ao longo deste mandato?
Ao longo deste mandato pretendemos afirmar-nos como uma escola que tem uma forma de estar e de educar, um pouco distinta das restantes escolas de Gestão e de Economia. Pretendemos afirmar-nos como uma escola capaz de dar um output aos seus alunos, de os fazer progredir mantendo a sua identidade e, também, de os tornar excelentes economistas e excelentes gestores.
No ISEG temos um princípio básico, que é o de fazer de cada aluno um excelente cidadão. Para isso, primeiro, a pessoa tem que refletir, que aprender e que estudar, para poder no futuro ser uma opinião técnica e socialmente qualificada. Segundo, tem que ouvir os outros, mesmo que discorde deles, para poder argumentar. Assim, tem que ser tolerante. Daí que afirme que, como escola, nunca seremos uma madrassa ou um “viveiro” de economistas para servir um partido. Não somos, nem seremos uma escola de um partido. No entanto, os partidos poderão vir aqui recrutar. Aliás, é muito bom ver que várias bancadas parlamentares têm ex-alunos do ISEG. Isso é muito dignificante, porque mostra a pluralidade da escola na sua formação. Mostra que conseguimos ajudá-los a crescer.
No ISEG ensinamos a usar as mãos, não os cotovelos.
Com isto quero dizer que, ensinamos a cooperação, ensinamos a puxar uns pelos outros. E não a empurrar para os outros para trás. Nós não queremos que os alunos que saiam daqui sejam os melhores nas organizações. Queremos, sim, que as organizações para onde eles vão sejam as melhores dentro das suas áreas.
O ISEG tem uma filosofia e uma postura diferente, que promove a cooperação e não a competitividade pessoal. A competitividade deixa-se para as organizações. Infelizmente muitas escolas educam os seus pupilos nesta confusa filosofia.
Na sua opinião, quais os principais desafios que se esperam ao longo destes quatro anos de mandato?
O primeiro será continuar na senda do processo de internacionalização e no processo de afirmação da escola no Espaço Europeu de Ensino Superior.
Em segundo, posicionar o ISEG internacionalmente, mas também no espaço da Língua Portuguesa. Para o ISEG, ser internacional necessita recrutar e ensinar em inglês, mas também em português. Nós, ISEG, achamos que temos a incumbência e a responsabilidade de manter e proporcionar ensino de alta qualidade em Língua Portuguesa. Para que aqueles que queiram aprender em português possam fazê-lo com qualidade. Pretendemos também, com a nossa matriz e identidade, continuar a afirmar-nos em processos de acreditação internacional. Outro desafio muito importante é o processo de digitalização. A sociedade está cada vez mais digital e nós queremos estar também nessa linha da frente. Outro desafio passa por incorporar dentro da escola o modelo de responsabilidade social e de desenvolvimento sustentável. Queremos criar uma dinâmica onde as pessoas gostem ainda mais da escola, se identifiquem ainda mais com ela e sintam que é bom pertencer a este coletivo. Que é bom pertencer a um coletivo, verdadeiramente, saudável e livre.
Falemos agora de dois temas que são do seu total conhecimento: Economia e Ensino. O ISEG é uma das instituições de ensino superior mais prestigiadas na área de Economia em Portugal. No entanto, apesar de termos excelentes instituições de ensino nesta área, os principais economistas portugueses estão em universidades estrangeiras. Porquê?
Não sei se serão os principais, mas efetivamente temos muitos economistas portugueses em instituições estrangeiras. O que, no fundo é natural, porque o mercado é livre, os economistas reagem a estímulos e são racionais nas suas escolhas. Se por um lado há essa realidade, também há o inverso. Também há excelentes economistas que fizeram o seu trajeto fora e depois regressaram a Portugal.
Apesar desta realidade depender um pouco do valor que se vai dando aos vários componentes da vida, a verdade é uma: a academia portuguesa dá pouca liberdade para que possamos competir internacionalmente nas áreas onde temos essa capacidade.
Esta falta de liberdade limita muito a capacidade que as escolas têm para atrair talento. De modo geral, temos um quadro bastante rígido. Além disso, considero que também não há uma visão muito clara, por parte dos responsáveis políticos, sobre o que se quer no âmbito do Ensino Superior em Portugal. Afinal, queremos um ensino para educar as elites portuguesas ou para educar as elites europeias e mundiais? Se queremos educar as elites europeias e mundiais, temos de dar liberdade a quem tem capacidade de entrar no mercado internacional e de o disputar. As regras da administração pública portuguesa tornam quase impossível competir ao nível internacional.
A verdade é que as universidades portuguesas têm feito ao longo dos anos um enorme esforço para estimular os melhores alunos nacionais a prosseguir um doutoramento e uma carreira académica, com ênfase na investigação científica, o que leva os estudantes portugueses a brilhar nas universidades estrangeiras. Mas, na sua opinião, o que faz com que fiquem por lá?
Em primeiro lugar, o inbreeding é sem dúvida um problema que afeta algumas instituições em Portugal. Em segundo lugar, se antigamente era muito frequente as pessoas ingressarem na universidade como docentes não doutorados, que depois concluíam o seu doutoramento numa universidade estrangeira, hoje em dia isso já não acontece. Hoje, o modelo é muito diferente. Contratamos diretamente já doutorados. Estes doutorados, em alguns casos, não têm tido muito espaço de abertura, porque a universidade não tem crescido e desenvolvido da forma pretendida.
A falta de progressão na carreira, que não valoriza a investigação, tem sido determinante para esta realidade?
Cada vez menos. A investigação é hoje, cada vez mais, um peso fundamental na progressão da carreira. Vê-se isso nos concursos públicos, onde a investigação tem um peso de, pelo menos, 50%.
Na sua opinião, que soluções poderiam ser criadas para tentar manter estes “super-talentos” em Portugal, ou pelo menos trazê-los de volta?
Dar liberdade às Instituições de Ensino Superior para poderem contratualizar e serem mais responsáveis. Os quadros de contratação que nós temos são muito rígidos, a liberdade é escassíssima. Não nos é dada flexibilidade para gerir o orçamento que temos. O ISEG, por exemplo, tem resultados positivos. As receitas são superiores às despesas, mas eu não tenho, enquanto Presidente da instituição, a liberdade, por exemplo, de remunerar mais as pessoas, de instituir prémios de desempenho, entre outros. Se não temos esta liberdade para nos tornarmos mais atrativos, quando tentamos convencer alguém a vir para Portugal e a ficar cá, acabamos por não os conseguir cativar.
Focando-nos agora na parte da Economia. Como sabemos, a escalada da inflação está a produzir um choque sobre as empresas – com o aumento dos custos de produção. Para além dos impactos da inflação interna, penalizando a competitividade das empresas, o aumento da inflação europeia comporta grandes riscos para Portugal. Dito isto, o que as empresas portuguesas podem esperar, ou temer, nos próximos tempos?
Admitindo que a guerra continue nesta situação, mais ou menos, estável, que não surja uma nova pandemia e a China não altere a sua política covid, as cadeias de valor e o comércio internacional vão continuar mais estáveis. Agora, é necessário preocuparmo-nos com questões que vão surgindo noutras áreas, como o caso da energia, do fornecimento de energia e da reposição de stocks, nomeadamente de gás, para fazer face ao próximo inverno. Se o próximo inverno correr como o do ano passado, penso que conseguiremos estabilizar os preços das energias. Estabilizando os preços das energias, conseguimos estabilizar muito provavelmente, a inflação.
Não sabendo como está a ser tratada a questão da produção cerealífera, considero que a alimentação poderá continuar a ser um problema. E se pensarmos nas questões das alterações climáticas, percebemos que poderão continuar a impactar os preços dos alimentos.
Mas de modo geral, se as coisas continuarem a correr como estão até agora, as empresas portuguesas poderão continuar a contar com uma política monetária de combate às taxas de inflação. Poderão contar com taxas de inflação a continuarem a cair e a chegarem no fim do ano, perto dos 4%. Se ficarmos assim, vamos ter que aguentar um bocadinho taxas de juro elevadas em 2024, até haver a certeza de que há estabilidade suficiente para poderem começar a baixar.
Perante esta realidade, torna-se ainda mais urgente disponibilizar os recursos financeiros dos Quadros Comunitários às empresas. Neste seguimento, torna-se impossível não falar no famoso Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), criado com o objetivo de implementar um conjunto de reformas e investimentos destinados a repor o crescimento económico sustentado, após a pandemia, reforçando o objetivo de convergência com a Europa ao longo da próxima década. Olhando para os atuais valores de execução do PRR, considerados por muitos especialistas abaixo do expectável, considera que o PRR está efetivamente a cumprir com o seu propósito?
Para mim não está, porque o propósito começou logo mal. O PRR foi muito dirigido para serviços que o Estado devia ter cuidado ao nível orçamental e não o fez durante anos. Portugal fez uma consolidação orçamental coxa, cortando em investimento e não em despesa corrente. Portanto, agora usam o PRR para “remendar” as coisas que não fizeram.
A economia portuguesa precisa de uma reestruturação, para que se possa focar na produtividade e assim evitar um problema muito sério no futuro. Como sabemos, Portugal está a ficar, em termos demográficos, altamente envelhecido. Isto vai originar que, no futuro, o mercado de trabalho registe uma saída massiva e muito significativa de gente que está em idade ativa para a idade não ativa. Gente que vai passar a ser não ativa e aposentada e que, dentro dos seus direitos, vai exigir as suas pensões de reforma. Ou seja, isto não só vai originar sobrepeso enorme com pensões de reforma, como vai também exigir muito do Serviço Nacional de Saúde, porque, como sabemos, é na fase final da vida que mais se recorre e mais se gasta em saúde. Perante isto, Portugal precisa urgentemente de produtividade nas suas atividades, para que as pessoas que são mais ativas possam aguentar os menos ativos que vão gastar duas vezes, na saúde e em pensões.
Ora, os investimentos do PRR ao serem dirigidos para o Estado não estão a ser canalizados para a produtividade. Estão a ser canalizados para serviços públicos, que podem depois gerar ou serem facilitadores de investimento, mas que não são de modo direto geradores de produtividade. Nem lhes pedem isso! Por isso, entristece-me ver o Estado desperdiçar meios que podiam efetivamente ser catapultadores de investimento e produtividade.
Não são os serviços públicos que estão a gerar produtos diretos e serviços para vender no mercado internacional, em termos de valor acrescentado. Neste momento, Portugal cresce porque as exportações cresceram brutalmente e essas exportações não são de serviços públicos. Nós não exportamos “atendimento do Ministério da Agricultura”, não exportamos “sentenças do tribunal”. Exportamos serviços e produtos inovadores e competitivos de empresas. Portanto, ou se fazem as coisas bem ou então estamos a cavar um destino que pode ser muito triste.
Embora a resiliência e a forte capacidade de adaptação façam parte do ADN da grande maioria das empresas portuguesas, o futuro afigura-se bastante incerto. De que forma as empresas portuguesas podem driblar os atuais desafios? Por onde poderá passar a estratégia de reconversão da economia?
É sempre pela produtividade, inovação e sustentabilidade. Quem mais depressa conseguir fazer e quem for mais inovador, mais vai conseguir trabalhar e, sobretudo, trabalhar bem. As empresas portuguesas têm que fazer isso: criar dimensão, criar marca, criar valor acrescentado.
No entanto, não o podem fazer sempre sob a ameaça constante de que depois vão ser cobradas com uma taxa adicional. Assim, não há estímulo para que cresçam e se arrisquem.
Para além das empresas, também os portugueses estão a sofrer o forte impacto da inflação. São cada vez mais as famílias portuguesas estão a viver brutais dificuldades e metade delas admite já que não está a conseguir pagar pelo menos uma das contas regulares. Esta realidade é, sobretudo, resultado de um ano de inflação ou também se deve em parte aos magros apoios do Estado, que ficaram muito longe de lhe fazer frente?
O Estado mete-se a fazer coisas que não devia. Podia deixar essas coisas serem feitas por quem realmente o faz de forma mais eficiente e mais barata. O Estado, neste momento, tem um peso enorme, mas é um peso que gasta muito em estruturas que criou. Este é desde logo um ponto.
Depois, penso que devia haver mais controlo. E com isto quero dizer que em Portugal há de facto coisas que não se explicam. Vejamos: será normal, por exemplo, que um país que anda a “chorar” por não ter dinheiro acabe a assistir a quatro concertos dos Coldplay com bilhetes a 200€? Expliquem-me como isto bate certo com a conversa “dos aflitinhos”. Outro fenómeno refere-se à compra das casas. As casas estão todas caríssimas, mas a maioria das transações são de residentes e muitas pagas a pronto. Existe qualquer coisa neste país que é um bocado estranha.
Continuando a inflação a evoluir ao ritmo atual, poderá o Governo ter de voltar, no futuro, a lançar mais medidas de apoio às famílias?
Duvido, porque a inflação está a caminhar bem. Aliás, a União Europeia aconselha a retirar os apoios até ao final do ano.
Recentemente, criticou as medidas do programa “Mais Habitação” afirmando e passo a citar: “Isto é como ir ao médico e o médico propor: ‘olhe, o senhor vai tomando estes comprimidos e depois nós vamos estudar e vamos ver no que dá’. Quer explicar-nos melhor o que queria dizer com esta afirmação?
Onde é que está o estudo do impacto destas medidas? Olhando para isto, parece que estão a fazer uma experiência sociológica e a sensação que tenho é que a prescrição tem tudo para correr mal. Sinceramente, eu não tinha noção de que o Estado tinha pessoas capacitadas e disponíveis para fazer de agências de arrendamento. Não fazia ideia. Acho mesmo que isto vai dar mal resultado. Aliás, já está a dar. Neste momento, já há muitas transições de imóveis que estão a ser feitas com o objetivo de transformarem os proprietários em proprietários que não sejam alvo das políticas de arrendamento coercivo.
Ao contrário do que se imaginava, as previsões da Comissão Europeia colocaram Portugal no top 3 dos países da zona euro com maior taxa de crescimento. Paralelamente, o Instituto Nacional de Estatística divulgou que o Produto Interno Bruto cresceu 2,5% no primeiro trimestre de 2023, face ao mesmo período do ano passado e 1,6% face ao trimestre anterior. Afinal como anda a economia portuguesa?
A economia portuguesa anda melhor do que aquilo que nós esperávamos. Sinceramente, é o setor exportador que está a puxar pela economia. É a procura externa, fundamentalmente, assente no turismo e nos serviços que está a puxar pela economia portuguesa. Isto é bom, mas, ao mesmo tempo, estamos a criar um modelo de negócio demasiado assente no turismo e isto traz riscos. Caso haja uma desconfiança sobre a segurança no país, cai o número de estrangeiros e turistas e passamos a ter um problema gravíssimo na economia. Dito isto, penso que devemos diversificar as fontes de receita e, nomeadamente, as fontes de atratividade.
Assim sendo, que país precisamos ter amanhã? Para onde temos de caminhar? Quais as reformas que devem ser implementadas?
Mais uma vez, e como já referi anteriormente, eu investia, seriamente, em produtividade, produtividade e produtividade. Investia em inovação, no enquadramento do desenvolvimento sustentável. Não há outra forma de fazer Portugal sustentável.