Sete dicas para evitar erros ortográficos
Há quem esteja convencido de que escrever bem é só isto: não dar erros ortográficos.
Ah, se fosse assim tão fácil.
Mas, claro, é muito importante aprender a evitá-los. Aliás, a minha profissão também implica andar à caça desses bichos feios. E, na verdade, um texto bem escrito com erros ortográficos é como uma bela casa com a tinta a cair. Ou alguém que se veste bem mas não repara nas nódoas.
Sim, temos de limpar os textos antes de os apresentar em público.
Aqui ficam sete dicas:
A dica das dicas nisto da língua: ler muito. Ler ainda mais. Ler com atenção. A ortografia também se aprende ao ler. Aliás, é a única forma de ganhar boas bases nisto da escrita. Bem, há outra: escrever. Escrever muito. Repetir a dose durante muitos e bons anos e nunca achar que já está.
Perceber que todos nós podemos dar erros. Quem acreditar no contrário está em risco de dar mais erros do que daria se tomasse uma boa dose de cautela. E, tendo em conta as reacções absurdas de algumas pessoas perante os erros dos outros, há quem ande por aí convencido que o mundo se divide entre os que dão muitos erros e quem não dá nenhum. Ah, mesmo aqueles que dominam a ortografia têm horas cansadas, dedos mais rápidos do que o pensamento…
Rever os nossos textos. Sim, eu sei: é óbvio. Mas se o escrevente tiver demasiada confiança em si próprio não revê coisa nenhuma. Confesso aqui, porque estas dicas também são para mim: neste blogue, já me aconteceu carregar no botão «Publicar» sem reler o texto. Arrependi-me, quase sempre. Mais vale reler. Por isso, não é demais repetir: depois de escrever, convém ler. E o melhor é deixar passar algum tempo. Se estivermos a escrever no computador, também é certo e sabido que há erros que só nos vão aparecer no papel. Por fim, sempre que possível, convém pedir a um amigo de confiança para olhar com atenção para os nossos textos. Porque os nossos próprios erros têm uma tendência enervante para serem invisíveis aos nossos olhos.
Consultar obras de referência. A ortografia é uma das áreas convencionais da língua: há regras relativamente claras e estas regras vêm explicadas em prontuários e outras obras de referência. É uma questão de as ter ao pé da mão. Um outro truque: mesmo quando não temos dúvidas, é interessante folhear um livro deste tipo e descobrir pormenores da ortografia que não conhecemos.
Aprender quais são os nossos erros habituais. Todos nós temos um ou outro erro em que caímos com um pouco mais frequência do que o habitual. Será boa ideia procurar esse erro nos nossos textos. Podemos criar uma lista e tê-la ao pé do computador. Mas, lá está, para isto resultar é preciso não estar convencido que isto dos erros é só com os outros.
Usar o corrector ortográfico do Word. Outro conselho óbvio, eu sei. Mas já vi tanto texto que merecia uma boa varridela automática que vale a pena sublinhar o óbvio: os correctores ortográficos automáticos ajudam a detectar alguns erros. E são fáceis de usar! Querem uma dica um pouco mais estranha? Ponham o computador a ler o texto (é possível!). Alguns dos erros que são quase invisíveis aos nossos olhos são desmascarados quando nos arranham os ouvidos. Um exemplo? A falta de acento nos ii.
Ligar mais aos nossos erros do que aos erros dos outros. Devemos corrigir os erros dos outros? Sim, claro: em privado e com delicadeza. Mas viver obcecado com os erros dos outros só nos deixa mais longe de melhorar o nosso próprio português. Por isso, toca a olhar com mais afinco para os textos que nos saem das mãos. Se somos exigentes e sarcásticos com os erros dos outros, sejamos ainda mais exigentes e sarcásticos com os nossos erros.
Disse no início que os erros ortográficos são um aspecto secundário da língua. Mas a verdade é que se cumprirmos estas dicas, aprendemos muito sobre aquilo que é ainda mais importante: como escrever de forma clara, como estruturar bem as frases, como criar uma voz própria, como fazer com a língua aquilo que queremos. No fundo, quem dá muitos erros ortográficos mostra que não lê muito, não revê os textos, não quer saber disso. Assim, é normal que os erros apareçam em maus textos.
Sim, é possível escrever bons textos com muitos erros, mas é raro. A verdade é que os nossos cérebros estão tão habituados a fazer a associação entre ortografia correcta e bom português que, por mais qualidade que vejamos no tecido, ligamos mais às nódoas.
E pronto: são estas as minhas dicas de hoje para evitar erros ortográficos. Quem tiver mais que se acuse…
O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico