Mensagem do Presidente da AILD
Portugal tem medo da grandeza?
Portugal tem uma história de navegações, descobertas e expansão, um legado de grandeza que marcou o mundo, no entanto, há uma perceção crescente de que o país, nos tempos modernos, teme a grandeza, especialmente no que toca ao crescimento das suas empresas e à criação de altos rendimentos para os seus cidadãos. Essa sensação é alimentada por uma série de barreiras estruturais, culturais e políticas que parecem limitar a ascensão de grandes negócios e a prosperidade individual em larga escala.
Parece existir entre nós anticorpos ao sucesso, dificultando o empreendedorismo de grande escala e existe inclusive uma certa antipatia ao sucesso empresarial e altos rendimentos.
Existe uma certa veneração da mentalidade do pequeno,que também se reflete em políticas fiscais e laborais que desincentivam o crescimento, o mérito, e até os trabalhadores a fazer horas extraordinárias e a receber prémios de desempenho. Tributam-se os rendimentos de trabalho em mais 30%, do que por exemplo, em França.
Empreendedores enfrentam uma carga fiscal elevada, com impostos sobre lucros e altas contribuições para a Segurança Social, especialmente prejudiciais para pequenas e médias empresas. Esta combinação de carga fiscal e regulamentação pesadas, muitas vezes leva à fragmentação das empresas, impedindo-as de crescer para além de um certo ponto, favorecendo-se os empreendedores e investidores estrangeiros em detrimento dos Portugueses.
Quantos países europeus menores que o nosso, permitem a existência de empresas gigantes mundiais e se orgulham delas. Duvido que as nossas 10 maiores empresas conseguissem atingir o tamanho da maior empresa finlandesa, pais com cinco milhões de habitantes.
Portugal continua a ser um dos países da União Europeia com elevados níveis de burocracia e de regulamentação sobre negócios, o que frequentemente dificulta a expansão de empresas.
Criar uma grande empresa em Portugal, significa enfrentar uma teia complexa de regulamentações, licenças e aprovações, que consomem tempo e recursos. Não é para admirar, que empresas inovadoras tendam a procurar outros mercados mais ágeis, o que resulta em uma fuga de cérebros e capital. As empresas portuguesas conseguem atingir maiores dimensões no exterior e que nunca seria permitido atingir por cá. A política fiscal em Portugal é outro fator que impede a criação de grandes fortunas e a ascensão de grandes empresas.
O país aplica uma taxa de IRC (Imposto sobre o Rendimento das Pessoas Coletivas) de 21%, uma das mais elevadas da União Europeia, e o nosso sistema de IRS,parece punir o sucesso financeiro. Isso contribui para a fuga de talentos e para a emigração de portugueses altamente qualificados, que procuram mercados onde possam ver o fruto do seu trabalho ser mais bem recompensado. É comum observar-se uma fuga de jovens e profissionais qualificados para países com sistemas fiscais mais equilibrados, onde o esforço e o mérito financeiro são melhor reconhecidos.
As grandes reformas fiscais, que poderiam criar um sistema mais justo e competitivo, também têm enfrentado resistência política. A política fiscal continua a ser usada como uma ferramenta para manutenção de equilíbrios, mas raramente como um motor de crescimento ambicioso.
Portugal tem potencial para mudar este paradigma.
Há setores onde o país já se destacou internacionalmente, como o turismo, a energia renovável, e as startups tecnológicas (particularmente em Lisboa), e por isso, se houver uma vontade política e cultural de abraçar a grandeza, tornar-se um hub internacional de empresas de grande escala.
Portugal não precisa ter medo da grandeza. O sucesso empresarial e os altos rendimentos podem ser catalisadores para uma sociedade mais próspera e equilibrada. O futuro de Portugal depende da capacidade de superar a mentalidade do pequeno e abraçar a ambição que sempre foi parte da sua história.