Programa Alcateia 2025-2035

© Jorge Sierra
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Num tempo em que o mundo enfrenta desafios ambientais sem precedentes, Portugal avança com o Programa Alcateia 2025-2035, apresentando uma estratégia ambiciosa para a conservação do lobo-ibérico em território nacional. Não se trata apenas de uma simples acção de protecção de uma espécie emblemática. Este programa simboliza um compromisso para restaurar equilíbrios naturais e procura harmonizar a relação entre as comunidades locais e a natureza.

Os dados tornados públicos através do último censo nacional do lobo, realizado entre os anos 2019 e 2021, não deixam margens para dúvidas sobre a necessidade premente de mudança. Ficámos a saber que existe uma redução significativa na população lupina e, no território ocupado por esta espécie, há uma contracção de cerca de 20% e uma diminuição do número de alcateias. Estes números lançam um alerta vermelho sobre o funcionamento do ecossistema, já que o lobo desempenha um papel vital na sua função de predador de topo, regulando populações de presas e contribuindo, desse modo, para a saúde e equilíbrio dos ecossistemas.

© Jose Luis Ruiz Jiménez

O Programa Alcateia 2025-2035 apresenta uma abordagem integrada e pragmática que se baseia em quatro pilares fundamentais, a saber: melhorar as condições ecológicas, promover a coexistência com as actividades económicas locais, reforçar o conhecimento científico e intensificar a sensibilização pública. Importa ainda referir que este programa abre caminho a actualização das indemnizações por ataques a gado, tendo como objectivo a redução dos conflitos entre os criadores de gado e os lobos-ibéricos. O pagamento célere e justo dos prejuízos é um passo muito importante no sentido de amenizar as velhas rivalidades entre uns e outros. Além da melhoria das compensações financeiras às populações afectadas pelos ataques dos lobos, o programa visa a recuperação de habitats, a protecção dos corredores ecológicos que ligam as populações isoladas, e o estímulo à presença de presas naturais. Todas estas estratégias servem para criar condições para que o lobo possa prosperar no seu habitat natural sem que isso signifique um embate constante com as comunidades rurais.

© DR

Todavia, este ambicioso programa não está isento de desafios. Para que se atinja o desejado reequilíbrio ecológico será necessário proceder-se à adaptação de algumas políticas agrícolas, assim como promover-se o envolvimento activo das populações locais. Por outro lado, um programa desta dimensão exigirá um compromisso real de financiamento que o sustente a médio e longo prazo. No entanto, ultrapassados esses desafios, poderemos dizer que esta aposta na convivência harmoniosa entre humanos e lobos permitir-nos-á construir paisagens mais resilientes, mais biodiversas e com maior capacidade de resistência às alterações climáticas e aos incêndios florestais.

Proteger o lobo-ibérico não é apenas conservar uma espécie. É muito mais que isso. É reconhecer que a saúde dos ecossistemas depende da manutenção dos seus processos naturais e que a nossa prosperidade futura está intrinsecamente ligada à capacidade de coexistirmos, lado a lado, com a maravilhosa vida selvagem que nos rodeia.

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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