Os Lusodescendentes
Uma Ponte para o Mundo e para o Interior

É com um misto de emoção e responsabilidade que me dirijo a vós, leitores da Descendências Magazine, uma publicação que tão bem conhece a riqueza e a dispersão das nossas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo.
É na minha qualidade de Diretor Executivo da Associação Internacional dos Lusodescendentes que mensalmente partilho convosco as histórias e os feitos das nossas comunidades e da ação da AILD.
Nesta edição, o foco da nossa conversa é a ação e o potencial que estas comunidades representam, não apenas para Portugal, mas sobretudo, para o desenvolvimento dos nossos territórios do interior. É uma convicção profunda que o país e os concelhos podem e devem beneficiar do que de melhor o mundo tem para oferecer, e que os nossos emigrantes e lusodescendentes são, sem dúvida, esse elo vital.
O Ativo da Diáspora e o Desafio Autárquico
O tema das comunidades portuguesas e do seu potencial ganha uma relevância acrescida no momento atual. Estando em pleno período de eleições autárquicas, este é o tempo em que as candidaturas a Câmaras Municipais e Juntas de Freguesia definem as suas visões e planos para o futuro dos territórios.
É fundamental que este vasto e poderoso ativo lusodescendente seja reconhecido e ativamente incluído nas plataformas e programas eleitorais dos diversos candidatos e forças políticas. As comunidades portuguesas não podem ser vistas apenas como uma memória distante, mas sim como um motor de futuro e um recurso estratégico para combater o despovoamento e promover o crescimento no interior.
Eu olho, desde sempre, para as nossas comunidades portuguesas como uma força poderosa e multifacetada que se manifesta de várias formas.
Pilar Económico: As remessas de dinheiro que chegam, muitas vezes suadas, são o pilar de muitas famílias e um motor económico fundamental para as nossas economias locais.
Embaixadores de Boa Vontade: Os nossos emigrantes e os seus descendentes são autênticos embaixadores de Portugal.
Investimento: São o nosso “soft power” informal, com um potencial tremendo para captar investimento, quer seja para projetos empresariais ou para a simples e nobre reconstrução da casa de família.
Rede e Competências: São uma rede de contactos inestimável e trouxeram de volta conhecimento, competências e mentalidades diferentes.
O Papel Urgente do Poder Local
É aqui que o Poder Local entra em cena. A responsabilidade de aproveitar e trabalhar com este ativo não pode ser apenas do Governo central. As câmaras municipais, enquanto entidade mais próxima do cidadão e da sua realidade, têm o dever e a oportunidade de criar pontes sólidas com as nossas comunidades emigrantes.
Ações simples, mas eficazes, que devem ser incorporadas nos planos de governação autárquica incluem:
– O reforço e dinamização dos gabinetes de apoio ao emigrante.
– A criação de plataformas digitais que permitam a comunicação e o acesso a serviços à distância.
– A organização de eventos que celebrem e valorizem a ligação dos emigrantes à sua terra natal.
O objetivo é que os concelhos de Portugal, sobretudo os do interior, se tornem um porto seguro para quem decide regressar ou investir, uma extensão do lar que um dia deixaram. Para tal, não basta apenas esperar que as remessas cheguem; é preciso ir ao encontro das nossas comunidades, ouvir as suas necessidades, reconhecer o seu valor e integrá-las ativamente no desenvolvimento dos nossos territórios.
Esta reflexão, ganha naturalmente, outra dimensão, inspiração e profundidade ao finalizar com uma citação de um dos poetas e escritor da literatura portuguesa “A minha pátria é a língua portuguesa.” — Fernando Pessoa



