A Diáspora Portuguesa na Venezuela

Evolução e situação atual

A presença portuguesa na Venezuela constitui uma das comunidades emigrantes mais significativas do país, representando a segunda maior concentração de portugueses na América Latina, apenas superada pelo Brasil. Esta comunidade é composta por aproximadamente meio milhão de pessoas, embora cerca de 218 mil cidadãos nacionais estejam registados nos Consulados, número que não inclui todos os luso-descendentes.
A emigração portuguesa para a Venezuela iniciou-se na década de 1940 e prolongou-se até meados dos anos 1980, motivada por difíceis condições socioeconómicas em Portugal e por políticas venezuelanas favoráveis à imigração. Entre 1950 e 1969, chegaram ao território venezuelano 73.554 portugueses, dos quais 38.737 eram madeirenses, 17.286 do distrito de Aveiro e 7.214 do Porto. A Madeira é, de facto, a principal região de origem desta comunidade.
Inicialmente dedicados à agricultura, os emigrantes portugueses rapidamente se reorientaram para o comércio, especialmente de produtos alimentares, e para a pequena e média indústria. Esta adaptabilidade permitiu uma forte integração no tecido económico venezuelano, com particular destaque nas áreas da distribuição alimentar e do retalho. A comunidade desenvolveu uma extensa rede associativa, com centros portugueses em praticamente todas as grandes cidades venezuelanas.

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A partir de 2014, com a queda acentuada dos preços do petróleo, a Venezuela mergulhou numa crise profunda caracterizada por hiperinflação, escassez de bens essenciais e deterioração das condições de vida. Mais de sete milhões de pessoas fugiram do país nos últimos anos, num êxodo sem precedentes.
A comunidade portuguesa não ficou imune a esta situação. Entre 2015 e 2018, entre cinco a dez mil portugueses saíram da Venezuela, com cerca de dez mil a regressarem a Portugal, maioritariamente para a Madeira. Apesar destes números significativos, muitos portugueses optaram por permanecer, especialmente a geração mais idosa que construiu toda uma vida no país.
Situação Atual
A situação atual da comunidade portuguesa na Venezuela caracteriza-se por uma mistura de resiliência e dificuldade. Muitos portugueses vivem com pequenos subsídios do governo português ou com dinheiro enviado por filhos e netos que residem no estrangeiro, enquanto outros dependem de poupanças acumuladas.


Há cada vez mais portugueses a viver com muitas necessidades e em situações de carência, levando à criação de estruturas de apoio como o programa “Anjos Lusitanos” e lares para acolher compatriotas em situação de vulnerabilidade.
As eleições presidenciais de julho de 2024 trouxeram nova incerteza à comunidade. A expectativa era de mudança política, mas havia também preocupação com possíveis reações violentas. A situação política mantém-se instável, com três cidadãos portugueses com dupla nacionalidade entre os presos políticos estrangeiros. Apesar das adversidades, muitos portugueses mantêm uma ligação afetiva profunda à Venezuela, permanecendo no país por razões que vão desde o património construído ao longo de décadas até ao clima e aos laços sociais estabelecidos. A comunidade portuguesa na Venezuela enfrenta assim um momento crítico da sua história, dividida entre a esperança numa melhoria da situação e a necessidade de tomar decisões difíceis sobre o seu futuro.


Fundação AEP

Rede Global da Diáspora

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