Sílvia Faria de Bastos
Palavra ao Associado AILD
Nasceu em 26 de dezembro de 1973, na casa de saúde de Luanda, em Angola e é a mais velha de uma fratria de três. Em 1980, veio para Portugal com a avó materna para ingressar no 1º Ano de escolaridade. Os seus pais continuaram a viver em Angola e, para estar com eles, regressava a Luanda nas férias escolares. Quando atingiu os 12 anos, os seus pais regressaram a Portugal com os seus dois irmãos e voltaram a viver juntos.
Presentemente, é a única a residir em Portugal. Os pais e um dos irmãos residem em Angola e o outro vive em Moçambique. Licenciou-se em Psicologia, no Instituto Superior de Psicologia Aplicada, e desde 2000 que trabalha no Serviço de Pediatria do Hospital São Francisco Xavier.
Mãe de duas meninas lindas, uma de 16 e outra de 12 anos.
O que faz profissionalmente?
Desde 2000, exerço funções como psicóloga clínica no Serviço de Pediatria do Centro Hospitalar de Lisboa Ocidental (CHLO), no âmbito da psicologia pediátrica (PP). Esta área procura responder às necessidades reais da população pediátrica ocupando-se de questões relativas ao desenvolvimento físico e mental, à saúde e à doença. A PP desenvolve a sua ação com crianças e famílias que se deparam com uma situação de doença ou perturbações ao nível do desenvolvimento. A intervenção ultrapassa “os muros” dos serviços de saúde para se estender a todos os contextos em que a criança vive e se desenvolve: a família, a escola e toda a rede social em que se insere.
Em 2018, fui nomeada para fazer parte da Equipa Intra-hospitalar dos Cuidados Paliativos Pediátricos do CHLO e, mais recentemente, desenvolvo o meu trabalho no Serviço de Cardiologia Pediátrica, do Hospital de Santa Cruz.
Desafios e projetos para 2021?
A Saúde Mental em Portugal já estava doente antes da pandemia. Os anos de 2020 e de 2021 têm sido um verdadeiro desafio para muitos portugueses. Solidão, desemprego e rendimentos familiares mais baixos. Escolas fechadas com pais em teletrabalho. O aumento de patologias, como ataques de pânico, crises de ansiedade ou depressões, que, muitas vezes, culminam em tentativas de suicídio, obrigam a uma reflexão sobre o que podemos fazer, individualmente ou em grupo, e que medidas podem ser tomadas com vista a melhorarmos a nossa saúde mental e a do outro.
Considera importante a existência de políticas e ações para uma maior aproximação de Portugal às Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo? O que poderia ser feito nesse sentido?
Vivemos num mundo global e, considerando que a Língua, a gastronomia e a cultura são pontos que nos unem, devem ser realizadas ações, nomeadamente no desenvolvimento de formações de ensino da Língua portuguesa e na realização de feiras temáticas de divulgação da nossa Língua, da nossa cultura e da nossa gastronomia, que visem, precisamente, a aproximação das comunidades portuguesas a Portugal.
O que mais gosta em Portugal?
Dois S – Segurança e Saúde
O que menos gosta?
O clima de impunidade que paira sobre a corrupção.
Quais os projetos que pretende desenvolver na AILD?
A AILD é uma instituição com uma importância extrema para salvaguardar e dar voz às Comunidades Portuguesas espalhadas pelo mundo. A ação que pretendo desenvolver tem por base partilhar ideias na área da saúde mental e, ao mesmo tempo, facultar consultas de psicologia, procurando ajudar e orientar todos aqueles que, por motivos vários, vejam na minha área uma forma de melhorar a qualidade das suas vidas.
Inevitável no momento que estamos a atravessar perguntar-lhe como está a “sobreviver” a esta pandemia? Que impacto está a ter na sua vida?
Sou uma profissional de saúde a exercer funções num hospital do Sistema Nacional de Saúde. Este facto fez que me mantivesse a trabalhar, funcionando como facilitador para uma melhor gestão emocional.
Sentir que fazia parte da máquina que estava a ajudar a saúde física e mental das pessoas foi e continua a ser muito gratificante.
Assumo que o mais difícil, para mim, é o distanciamento dos meus pais e dos meus irmãos. No entanto, o facto de saber que estão bem tranquiliza-me sobremaneira.
Uma mensagem para as Comunidades Portuguesas.
A lusodescendência já conta com várias gerações enraizadas nas nossas Comunidades. A mensagem que se impõe passa por sensibilizar, não só os nossos pioneiros, como também quem inicia a cruzada além-fronteiras, divulgar a nossa cultura, manter vivas as nossas tradições e ostentar com orgulho a bandeira portuguesa.