José Carlos Governo
Palavra ao Associado AILD
Licenciado em Matemática e Ciências, lecionou três anos no agrupamento de Escolas de Carnaxide. Mas o fascínio pela política desde muito cedo levaram-no a exercer funções no Gabinete da Presidência da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, seguindo-se o exercício de funções no Governo da República, como assessor do Secretário de Estado das Comunidades Portuguesas – Ministério dos Negócios Estrangeiros. Teve ainda uma curta passagem pela Secretaria de Estado da Administração Local quando esteve deslocalizada em Coimbra. Em 2017, após ter sido candidato à Presidência da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, fez uma pausa na atividade política, tirando uma pós-graduação em Gestão de Empresas, exercendo funções de formador e consultor de empresas, com recursos, usando os fundos comunitários como importante instrumento de apoio às empresas. Atualmente, aceitou o nobre desafio de Diretor Geral da Santa Casa da Misericórdia de Sernancelhe, onde está a fazer um excelente trabalho de recuperação da situação difícil em que se encontrava.
O que faz profissionalmente?
Sou professor de matemática e ciências, mas exerci a profissão apenas três anos letivos, pois, profissionalmente, tenho dedicado a minha vida à atividade política, algo que me fascina desde muito cedo. Estive alguns anos no gabinete de apoio à presidência da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, depois estive no governo a exercer funções no Ministério dos Negócios Estrangeiros – Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, com uma breve passagem também pela Secretaria de Estado da Administração Local. Em 2017 fui candidato à presidência da Câmara Municipal de Moimenta da Beira, não sendo eleito. Este resultado eleitoral e todo o processo envolvente fez-me repensar e refletir sobre muita coisa, com alguma deceção à mistura com a política, os partidos e com algumas pessoas. Aliás, aproveito a oportunidade para expressar que se os partidos políticos são um instrumento necessário para a manutenção da democracia e através deles implementar políticas capazes e direccionadas para o desenvolvimento dos territórios e para a resolução dos problemas das pessoas, mas com deceção verifico que os partidos precisam reflectir sobre si próprios, pois, estão muito afastados das pessoas, voltados para dentro, gerindo o poder, interesses pessoais e desfasados do papel dos partidos políticos. O poder local acaba em muitos casos por ser o garante daquilo que os partidos não estão a fazer, muitas vezes com a necessidade do aparecimento de candidaturas independentes. Decidi por isso afastar-me temporariamente e investir em mim, fiz uma pós-graduação em gestão de empresas, que associado a todo o conhecimento e experiência adquirida ao longo de anos no contacto com tantas empresas e empresários em Portugal e em vários países do mundo, comecei a exercer atividade de consultor de empresas, sobretudo, na área dos fundos comunitários. Entretanto, aceitei o desafio para a realização de um estudo para a câmara municipal de Sernancelhe, no âmbito da captação e fixação de pessoas, investimento, oportunidades de emprego e desenvolvimento do território. Em abril de 2020, aceitei o desafio para exercer funções de diretor-geral da Santa Casa da Misericórdia de Sernancelhe, uma instituição com as valências e respostas sociais de Lar, Unidade de Cuidados Continuados, Creche/Jardim e Apoio Domiciliário. Sem dúvida um enorme desafio, carregado de inúmeras exigências e responsabilidades, com metas e objetivos bem definidos. Estou muito focado e empenhado, em três eixos fundamentais: Recursos humanos; Gestão Financeira e Qualidade dos Serviços Prestados. Era um desafio difícil face à difícil situação financeira em que se encontrava a instituição, mas ao fim de seis meses começam a aparecer resultados muito positivos, em prol da instituição, mas sobretudo, em prol do bem estar dos utentes.
Qual a sua ligação à lusofonia?
A este nível considero-me um privilegiado, pois, além de ter nascido em França e portanto, ser um lusodescendente, tive a sorte de exercer funções na Secretaria de Estado das Comunidades Portuguesas, o que me permitiu estabelecer contacto e relações com as diversas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo, conhecendo gente extraordinária e com um espírito patriótico incrível. Tive o prazer e a oportunidade de ir ao encontros destas comunidades portuguesas, em diversos países do mundo, onde pude manter contacto e desenvolver ações com luso-eleitos, dirigentes associativos, empresários, académicos, artistas, mas também, cidadãos comuns que todos os dias lutam para terem um futuro melhor para as suas famílias. Passei a ser um apaixonado pelas comunidades portuguesas, mantendo contactos permanentes, seja a título particular e privado, seja através da Federação das Associações da Diáspora, com quem colaboro, seja através da Associação Internacional dos lusodescendentes, da qual integro os seus órgãos sociais. A AILD tem sido sem dúvida uma estrutura com uma enorme dinâmica, que tem permitido uma ligação muito forte e estreita à lusofonia, à promoção da língua e cultura portuguesa no mundo.
Há quem se refira às Comunidades de Portugueses que vivem lá fora como a “Diáspora Portuguesa”. Concorda com o uso deste termo?
Sinceramente, não concordo com o termo, e em boa hora a AILD promoveu um colóquio para refletir sobre este termo. Creio que é redutor identificar os portugueses que residem fora de Portugal como “Diáspora”, rotulando uma franja da população portuguesa que são tão portugueses quanto os que residem em Portugal. Atualmente, esta realidade ganha ainda mais força quando vivemos num tempo da mobilidade, com muita gente a emigrar não por necessidade, mas por projeto de vida, enquanto cidadãos do mundo. Comunidades portuguesas sim, diáspora, não.
Desafios e projetos para 2021?
Este ano de 2021, é sem dúvida uma marca na minha vida, com mudanças profundas. Desde logo uma pausa na minha paixão pela política, nomeadamente, a decisão de não assumir qualquer candidatura nas autárquicas deste ano.
Um dos grandes desafios é assumir com determinação as funções de Diretor geral da Santa Casa da Misericórdia de Sernancelhe, contribuindo para ajudar a ultrapassar as enormes dificuldades e constrangimentos existentes, procurando que seja uma instituição de referência, com saúde financeira, mas sobretudo, que preste serviços de qualidade. Entendo que é um desafio de relevância para a instituição, para o município, e ao mesmo tempo um desafio de missão, colocando-me ao dispor da causa social, e colocando ao dispor da causa social, tudo aquilo que ao longo da vida a política me deu, os seus ensinamentos, experiência, contactos, conhecimentos e sensibilidade para a causa pública, para a causa social.
Um dos outros desafios para este ano e seguinte é o acompanhamento cada vez mais perto dos fundos comunitários, no sentido de continuar a poder realizar trabalho de consultoria de apoio às empresas, pois, tenho vindo a dar um importante contributo para apoiar empresas a investir, a agarrar novos desafios, a aumentar o lucro, a eficácia e eficiência e consequentemente a criar emprego, postos de trabalho.
Tem sido uma enorme satisfação e gratificação conseguir encontrar boas soluções para as empresas onde tenho desenvolvido trabalho de consultoria, onde também começam a surgir oportunidades muito interessantes por parte das comunidades portuguesas que querem investir em Portugal.
Este ano de 2021, na continuidade do ano anterior, continuo muito focado no grande projeto e desafio AILD, uma associação que tem vindo a criar uma dinâmica impressionante, com uma equipa de trabalho fantástica, onde temos conseguido desenvolver inúmeros projetos, estabelecendo pontes e uma rede de contactos pelo mundo junto das nossas comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo. Sem dúvida um projecto associativo diferenciador onde as ideias, os projetos, as equipas e as pessoas estão sempre em aberto para que o projecto AILD possa crescer e enriquecer. E finalmente, outro desafio, talvez o mais importante, é poder estar mais próximo da família, poder dar um maior apoio e acompanhamento à minha filhota, estar mais presente, pois, a família é sem dúvida o nosso pilar e o nosso equilíbrio emocional.
O que mais gosta em Portugal?
Essa é uma pergunta difícil, pois, gosto de tanta coisa, desde o clima, à sua riqueza enogastronomia, à enorme oferta e diferenciada que o país tem, com várias atrações e especificidades, à segurança que o país oferece.
O que menos gosta?
O excesso de burocracia que ainda continua a imperar, e a elevada carga fiscal, ambos castradores do investimento e de uma vida mais facilitada às pessoas.
Porque se tornou associado da AILD?
A AILD foi um bonito e desafiador projeto que nasceu na reunião e encontro de várias ideias, várias pessoas, vários desafios, vários projetos, percebendo-se que existia um espaço e um vazio que precisava ser preenchido em prol dos lusodescendentes. E portanto, não podia ficar indiferente a este grande projecto, não apenas sócio e membro fundador, mas como membro ativo dos seus órgãos sociais.
Quais os projetos que pretende desenvolver na AILD?
A AILD é um projeto associativo ambicioso e de grande dimensão, que tem vindo a crescer dia após dia, cada vez com mais desafios, mais vitórias, mais ideias e mais gente. Este ano a AILD está a desenvolver o seu projecto de excelência, que é a criação de Delegações da AILD em diferentes países, tendo iniciado com a França, por forma a criarmos pontes com o mundo lusófono e com o mundo em geral. Ao longo deste ano desenvolvemos por exemplo uma parceria com o Turismo do Porto e Norte de Portugal e a Associação das Termas de Portugal, precisamente para ajudarmos e colaborarmos na divulgação e promoção das Termas junto das Comunidades Portuguesas.
Uma mensagem para as Comunidades Portuguesas.
A mensagem que quero deixar às comunidades portuguesas espalhadas pelo mundo é de esperança e ao mesmo tempo de agradecimento. A esperança de que a pandemia irá terminar em breve, e permitir que voltemos à normalidade, num eventual, novo normal, com mais prudência, mas que permita estarmos de novo próximos, podermos ter-vos cá em Portugal sem reservas, pois, Portugal precisa de vós. Tenho esperança que Portugal entenda cada vez mais o valioso ativo que são as nossas comunidades portuguesas e possa desenvolver ações e políticas nesse sentido, cimentando laços, criando pontes, e ao mesmo tempo, atraindo cada vez mais a regressarem a Portugal, investindo, criando novas dinâmicas, ajudando a construir um país cada vez mais sustentável, atractivo e moderno. E um agradecimento por tudo o que têm dado a Portugal, não só pelo seu contributo através das remessas, mas através do investimento, da promoção de Portugal no mundo, da sua língua e cultura, dos seus produtos de excelência, mas também, da imagem de excelência que espalham pelos quatro cantos do mundo.