Obra de Capa dezembro

Mukuaxi, mestre de voos acrobáticos

A estória de um pássaro que queria conhecer e ajudar o pai natal

Num dia ensolarado da primeira semana do mês de dezembro de 2021 na baía de Luanda, o pássaro Mukuaxi ensaiava voos acrobáticos que o levavam a observar toda a orla marítima da capital de Angola.

Mukuaxi apresentava-se como um pássaro vistoso, com uma plumagem exuberante, pintas pretas e douradas nas asas e um longo bico curvo que o tornava uma espécie rara e única, na lista daqueles em vias de extinção.

Essas suas acrobacias eram seguidas pelas gaivotas e pelas cegonhas, aves que vão escasseando por esses lugares, onde há menos árvores de porte para fazer ninhos e morar s cada vez mais edifícios de betão a invadirem o espaço das florestas em nome da modernidade.

Mukuaxi sentia um imenso prazer em fazer essas acrobacias que faziam lembrar avionetas da aeronáutica, ou mesmo cenas de filmes do tipo ou similares à “Guerra nas Estrelas”.

Quando estivesse pertinho das nuvens dava até para observar, lá do alto, as praias da vila de Cacuaco, as chaminés da fábrica de Cimento a fumegarem nuvens negras, onde ele se recusava a mostrar as suas habilidades com medo de se perder no meio daquela fumaça espessa, puro carbono que poluía a atmosfera, o que lhe poderia dificultar a respiração e os movimentos das suas frágeis asas.

No decurso das suas aventuras aéreas, dava ainda para ver o forte de S. Pedro da Barra, o farol da Ilha de Luanda, lugar conhecido e perpetuado nas canções de grandes músicos nacionais como “ponto final e pombal do amor”, a fortaleza de S. Miguel, um novo Shopping com o mesmo nome, a praia da Chicala e até mesmo a Ilha do Mussulo de ponta a ponta.

Esticando as asas ao máximo que podia, dava-lhe um grande gozo e logo cantava até ouvir o eco da sua imensa alegria: “Eu sou MuKuaxi, dono da terra e dono dos céus. Eu sou um pássaro que voa livremente, longe de todas as gaiolas do mundo.” E depois ia chilreando aquela doce melodia como quem assobia.

Realmente, Mukuaxi era dono de tudo aquilo que observava, pois sentia-se em casa, ou não fosse ele filho dos pássaros Kanjivi e Lueji que o conceberam com grande e profunda paixão; os seus pais que lhe transmitiram todo o amor e sentido de liberdade e as mais avançadas técnicas de voo, incluindo as da hora do por-do-sol, quando se poderiam ver silhuetas refletidas no oceano Atlântico.

Kanjivi e Lueji, que tinham a mais bela história de amor, entre pássaros, desde o dia em que trocaram o primeiro olhar e se apaixonaram perdidamente, conceberam Mukuaxi logo na primeira oportunidade quando se viram a sós, dia em que trocaram carícias e afetos profundos e logo o acasalamento natural.

Quatro semanas depois Lueji disse a Kanjivi que já tinha posto no ninho o ovo dourado que continha o pássaro-bebé. Nasceu irrequieto, cheio de vitalidade e o fundamental: com saúde.

Por isso fazia sentido que toda essa experiência seria transmitida ao filhote, um verdadeiro atleta voador em todos os sentidos.

 “Qual vai ser a prenda que vamos dar ao nosso filho neste Natal, que coincide com o seu aniversário?” – Queria saber a mãe Lueji.

 “Vamos perguntar-lhe logo na primeira oportunidade”. – Disse o pai Kanjivi. E assim foi.

 Mukuaxi, pássaro mimado, mas sempre de tímpanos apurados, ouviu a conversa lá do alto das nuvens e foi logo respondendo com toda a convicção: “quero conhecer o pai natal e ajudá-lo a distribuir os presentes aos meninos mais necessitados de toda a cidade de Luanda”.

 Lueji e Kanjivi ficaram pasmados e por instantes quase se tornaram estátuas. Completamente intrigados: “Donde tiraste tu essa ideia, meu filho? – Perguntaram os pais em uníssono.

Mukuaxi explicou que viu naquele dia cedo na televisão a linda lenda do pai natal, que tem tido muito trabalho para preparar os presentes para todas as crianças do mundo, especialmente aquelas que lhe escrevem cartas durante o ano todo a pedir um brinquedo.

Explicou também que apesar da ajuda dos Elfos na confeção e embalagem dos presentes para a criançada e a disponibilidade do trenó do pai natal os transportar sem cansar muito as renas, o presente que ele queria é que os pais o deixassem ajudar o pai natal que já está muito velho, pois o cabelo e a barba já estão completamente brancos.

 …” MAS Filho isso é publicidade para vender os brinquedos. Foi o que viste na televisão “- quis interferir a mãe Lueji, na vã tentativa de levar o filho a mudar de assunto.

Mukuaxi insistiu em prosseguir com a sua explanação. Queria fazer parte desse esforço imenso do pai natal de satisfazer a tantos pedidos.

O que ele queria mesmo é que os meninos fossem todos para as escolas novas que estavam a construir no seu país, com carteiras novas, bons professores, que tivessem cadernos, canetas e lápis-de- cores, aguarelas e outras tintas, para desenhar e pintar o pai natal com aquele fato garboso todo vermelho, ler e escrever cartas lindas a pedir os brinquedos todos os anos com a devida antecedência.

Kanjivi e Lueji uniram as suas asas as do filho Mukuaxi num abraço único e aconchegante. Deixaram o pássaro-filho falar livremente sobre o que pensava do pai natal até que daí a algum tempo adormeceu no ninho, de tão cansado que estava dos inúmeros e prolongados voos acrobáticos daquele dia. Ele já era um verdadeiro mestre.

Naquele instante o astro-rei já se despedia no horizonte, oferendo uma bela vista ao perder-se no mar.



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