Poesia – Natércia Freire

Guerra

São meus filhos. Gerei-os no meu ventre.
Via-os chegar, às tardes, comovidos,
nupciais e trementes
do enlace da Vida com os sentidos.

Estiveram no meu colo, sonolentos.
Contei-lhes muitas lendas e poemas.
Às vezes, perguntavam por algemas.
Respondia-lhes: mar, astros e ventos.

Alguns, os mais ousados, os mais loucos,
desejavam a luta, o caos, a guerra.
Outros sonhavam e acordavam roucos
de gritar contra os muros que há na Terra.

São meus filhos. Gerei-os no meu ventre.
Nove meses de esperança, lua a lua.

Grandes barcos os levam, lentamente…

Natércia Freire, in “Liberta em Pedra”

Natércia Ribeiro de Oliveira Freire (Natércia Freire)

Escritora portuguesa nascida em 1920, em Benavente, e falecida a 19 de dezembro de 2004.
Estudou música e tirou o curso do Magistério Primário. Editou o seu primeiro livro de poesia, Castelos de Sonho, em 1935, seguido de O Meu Caminho de Luz. Por intermédio de José Osório de Oliveira abandonou a composição musical, e dedicou-se à Poesia. A partir de 1938 começou a participar em várias revistas e jornais, iniciando uma colaboração com o “Diário de Notícias” na fase final dos anos 40. Jornal de que foi Coordenadora da Página de “Artes e Letras” de 1954 a 1974. Aqui organizou um espaço onde colaboraram escritores e artistas plásticos de todos os quadrantes, nacionais e estrangeiros. Desde os anos 40 que Natércia Freire já assinava uma rubrica semanal na Emissora Nacional, bem como exercia uma larga atividade como Conferencista. A partir de 1972 foi membro da Comissão de Leitura da Fundação Calouste Gulbenkian, e desde 1980 exerceu, por várias vezes, o papel de Júri do Prémio Literário da Fundação Oriente. A partir de 1974 retirou-se da vida literária nacional, marcando porém discreta presença em alguns artigos de opinião no’”O Tempo” e no’ “O Século”, e publicando poesia em várias revistas e jornais. Em 1991 e 1995 editou a sua obra poética completa sob a chancela da Imprensa Nacional/ Casa da Moeda.

Esta rubrica pretende dar a conhecer ao mundo o melhor da poesia por diversos autores lusófonos. Os poemas são selecionados por Gilda Pereira, uma fã incondicional de poesia.

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