Poesia – Hilda Hilst

Aquela

Aflição de ser eu e não ser outra.
Aflição de não ser, amor, aquela
Que muitas filhas te deu, casou donzela
E à noite se prepara e se adivinha
Objeto de amor, atenta e bela.

Aflição de não ser a grande ilha
Que te retém e não te desespera.
(A noite como fera se avizinha)

Aflição de ser água em meio à terra
E ter a face conturbada e móvel.
E a um só tempo múltipla e imóvel

Não saber se se ausenta ou se te espera.
Aflição de te amar, se te comove.
E sendo água, amor, querer ser terra.

Hilda Hilst

Hilda Hilst

Hilda Hilst nasceu em Jaú (SP), no dia 21 de Abril de 1930. Formada em Direito pela USP, dedicou-se integralmente à criação literária desde 1954. Autora de uma obra eclética, que inclui ficção, poesia, crónicas e teatro, Hilda Hilst escreveu também alguns textos eróticos e grotescos para «alegrar-se um pouco», convencida de que «o erótico é uma santidade».
Desde muito nova Hilda era fascinada pelo mundo dos versos. Em 1950, aos 20 anos, publicou o seu primeiro livro (intitulado Presságio). A sua produção crescente fez com que, já no ano a seguir, publicasse outro livro, intitulado Balada de Alzira. A partir de 1954, passou a se dedicar exclusivamente à literatura. Onze anos mais tarde, em 1965, mudou-se para a Casa do Sol, em Campinas, onde mergulhou de vez no universo das palavras. Morreu a 4 de Fevereiro de 2004.
A sua vasta obra contempla não apenas poemas como também peças de teatro, romances e literatura pornográfica.

Esta rubrica pretende dar a conhecer ao mundo o melhor da poesia por diversos autores lusófonos. Os poemas são selecionados por Gilda Pereira, uma fã incondicional de poesia.

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