As ondas de calor em Portugal
As actuais ondas de calor que estamos a experienciar em Portugal têm sido noticiadas em primeiras páginas de jornais e têm merecido honras de abertura em vários noticiários das televisões. Todavia, esta situação já não será surpresa para ninguém, pois, as consequências das alterações climáticas estão aí, à vista de todos. Os últimos anos têm evidenciado um aumento gradual das temperaturas médias do planeta e uma maior frequência de fenómenos atmosféricos extremos. Além do forte impacte na saúde humana, especialmente os grupos mais vulneráveis, as ondas de calor favorecem a ocorrência e a propagação dos fogos florestais. Este fenómeno climatérico caracteriza-se por “uma sequência de, pelo menos três dias consecutivos com temperaturas máximas ou mínimas mais altas do que as esperadas para a mesma época do ano e para a mesma região”.
Prevê-se que os países pertencentes à bacia do Mediterrâneo sejam dos mais afectados por estas ondas de calor e pela seca extrema, pois esta região é especialmente sensível às mudanças climáticas, que têm provocado, nos últimos anos, ondas de calor mais intensas, mais frequentes e com maior duração. Se por um lado, o número de dias considerados de “verão” tem aumentado, por outro, têm reduzido os níveis de pluviosidade e a sua frequência.
Os ventos quentes (muitas vezes carregados de poeiras) do deserto do Saara têm contribuído fortemente para estas ondas de calor e para a crescente desertificação de Portugal, a caminhar, de Sul para Norte.
A origem deste calor abrasador é o resultado de uma conjugação de diversos factores, entre os quais se destacam – os ventos quentes provenientes do deserto do Saara, a elevada radiação solar e as altas pressões atmosféricas subtropicais.
Embora estes factores acima referidos sejam determinantes nas elevadas temperaturas registadas, existem, contudo, outros factores de menor escala que podem desencadear algumas oscilações nos termómetros, nomeadamente, aqueles que se referem às oscilações entre as zonas de montanha e as cidades. Se nas primeiras corre ar fresco com alguma frequência, sobretudo durante a noite, nas segundas, o ar está muitas vezes irrespirável. Nas cidades, ocorre, com alguma frequência, um fenómeno denominado por – ilhas de calor. Esse efeito é induzido pela ventilação reduzida; pela elevada concentração de edifícios; pela presença de materiais que absorvem uma maior quantidade de radiação; pela poluição resultante da circulação dos veículos automóveis e pelas unidades industriais.
Além disso, existe outro aspecto importante a ter em conta – a orografia das cidades – que pode favorecer, ou não, o aumento das temperaturas.
Cidades localizadas em vales, onde a circulação de ar é reduzida, atingem temperaturas muito elevadas, quando comparadas com zonas habitacionais mais ventiladas, localizadas nas montanhas.
Também a acumulação de gases com efeito estufa na atmosfera contribui fortemente para o agravamento da situação, não se prevendo nos próximos anos uma redução considerável deste problema ambiental.
É um facto – na actualidade, as ondas de calor ocorrem com maior frequência. Nos últimos 10 anos, o seu surgimento duplicou a frequência, quando comparado com as décadas anteriores. Os valores máximos das temperaturas são ultrapassados de um modo repetido e os dados revelam uma tendência ascendente.
Sendo as ondas de calor uma das consequências do aquecimento global, este passou a ser avaliado, não apenas pelo aumento da temperatura média anual e pelo aumento das temperaturas mínimas e máximas, mas também por aquelas, que chegam cada vez mais cedo e antecipam a época de verão.
Com esta escalada de temperaturas altas, muito em breve, em algum lugar de Portugal, os termómetros registarão os 50 ºC.
Pese embora as ondas de calor estejam relacionadas com as alterações climáticas, numa relação de causa e efeito, importa referir, em jeito de conclusão, que aquelas já existiram no passado, com menor ou maior frequência, muito antes de se falar nestas questões relacionadas com o aquecimento global.
O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico