Biomimética

A natureza como inspiração tecnológica

Em 1941, George de Mestral caminhava nos Alpes suíços quando se apercebeu que a bardana se agarrava de um modo não convencional ao pêlo do seu cão. O inventor acabara de ter uma ideia genial. Assim surgiu o velcro.
Posteriormente, outras ideias inspiradoras se seguiram, desde os cupinzeiros cujos sistemas de circulação de ar inspiraram projectos arquitectónicos, até às teias de aranha reflectoras de luz UV que inspiraram vidros anti colisão de aves, sem esquecer os pirilampos que inspiraram luzes LED mais fortes, entre muitos outros exemplos meritórios.
Perguntamos nós, o que é que todos estes processos têm em comum? Vamos abordar esta interessante temática, a seguir.
Ao longo dos tempos, a natureza tem servido de inspiração ao desenvolvimento de formas de produção mais eficientes, numa perspectiva de salvaguarda dos recursos naturais e de conservação do meio ambiente. Esta ciência chama-se biomimética. O seu raio de acção pode estender-se a várias áreas de intervenção, que vão desde a arquitectura até à engenharia, passando pela biologia e medicina, geociências, vestuário, construção, transportes, design e agronomia, entre muitas outras.
A biomimética parece levar à letra esta máxima de Lavoisier – “na natureza, nada se cria, nada se perde, tudo se transforma!” Através destas palavras, o químico francês definia o ciclo infinito dos processos que ocorrem na natureza de um modo equilibrado e eficiente. Grosso modo, é este princípio que a biomimética aplica nos seus processos adaptativos, criando soluções inovadoras e tecnologicamente avançadas a partir de algo existente na natureza. Deste modo, as soluções encontradas para enfrentar os desafios da sociedade enquadram-se num modelo de desenvolvimento mais sustentável e, tendencialmente, integrado no meio ambiente.

Perante as inúmeras catástrofes ambientais que estamos a viver, a biomimética poderá ser uma ferramenta muito útil e até crucial no desenvolvimento de processos e soluções mais equilibradas e sustentáveis; na criação de novos materiais; na valorização e preservação da biodiversidade e na optimização e maior eficiência dos processos produtivos.
Entre algumas das inúmeras aplicações da biomimética, poderemos referir algumas que consideramos muito relevantes:

  • O desenvolvimento de sistemas de geração de energia renovável mais eficientes. Neste caso, poderemos dar como exemplo, a criação de turbinas eólicas inspiradas nas nadadeiras das baleias-jubarte.
  • A introdução de novos métodos de cultivo de alimentos, nomeadamente na criação de biopesticidas, desenvolvidos a partir de compostos naturais originários de plantas e microrganismos, em detrimento dos agro-tóxicos convencionais, responsáveis pela contaminação da água e dos solos e, por consequência, prejudiciais à biodiversidade e à saúde humana.
  • A criação de materiais mais sustentáveis. Sendo outro dos campos de desenvolvimento da biomimética, neste caso, um exemplo muito interessante recai sobre o fabrico de embalagens biodegradáveis a partir de raízes e cogumelos, apresentadas como substitutas de materiais altamente poluentes como é o caso do plástico.
  • Na área da robótica associada a biomimética tomemos como exemplo um equipamento não invasivo de monitorização e restauração de recifes de corais, inspirado nas medusas.
    Todas estas soluções inovadoras oferecem inúmeras vantagens na abordagem e resolução de vários problemas numa perspectiva mais sustentável e eficiente.
    Perante todos estes avanços tecnológicas poderemos afirmar que a natureza e todos os processos naturais que lhe estão inerentes têm muito a ensinar-nos na resposta às necessidades do nosso dia-a-dia e é uma fonte inesgotável de inspiração no caminho da inovação sustentável.

O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico

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