Cristóvão Campos
Iniciou a sua carreira de forma acidental no cinema, com a curta-metragem “1975” de Manuel João Águas. Estreou-se com “Uma Aventura” à qual se seguiram séries, novelas e telefilmes como “O Bairro da Fonte, Olhar da Serpente, Pai à Força, Conexão, Coração D’Ouro, Alma e Coração, Filhos do Rock, Sara e Pôr do Sol” e “Princípio, Meio e Fim”. Participou em vários projetos, de que são exemplo: “Harper Regan”, encenado por Ana Nave; Hannah e Martin, “O Senhor Puntila e o seu Criado Matti” e “Golpada”, encenados por João Lourenço; “Neva” encenada por João Reis; “Mechanical Monsters” de Rui Neto; “A Pior Comédia do Mundo” (Noises Off)encenada por Fernando Gomes; “A Peça Que Dá Para o Torto” por Hanna Sharkey; “O Amor é Tão Simples” e “Sonho de Uma Noite de Verão” (musical) ambas encenadas por Diogo Infante e “Noite de Reis”, encenada por Ricardo Neves-Neves.
Criou bandas sonoras para trabalhos nas áreas da dança e do teatro, trabalhando com Rui Neto, Marcantonio del Carlo, Joana Antunes, o Gerador e João Lourenço. Editou pelo projeto “Lacónico”, duo de spoken-word e mantém o projeto “Amoque” a solo.
Teve a vontade de fazer um teste de representação e acabou por se tornar ator, ainda que não fosse essa a ideia inicial. Conte-nos como tudo aconteceu.
Tudo começou com um anúncio na televisão a pedir atores jovens para um filme. Talvez já acalentasse a vontade dessa experiência dentro de mim, mas foi aquele anúncio que a tornou evidente. Respondi e fui chamado. Por infelicidade a audição calhou num dia de greve geral dos transportes e, por isso, não pude ir, mas liguei a avisar e pedi para ficarem com a minha informação e que me ligassem caso houvesse outra oportunidade. Um ano depois ligaram para uma audição para uma curta-metragem, dessa vez não havia greve. Fui e fiz a curta-metragem. Foi assim que tudo começou.
Teatro, televisão ou cinema?
Teatro, televisão e cinema. Não me importa o meio. Gosto de contar boas histórias, de trabalhar com boas pessoas, pessoas talentosas, sonhadoras e isso encontra-se em qualquer meio. Cada um exige coisas diferentes de um ator e é muito bom poder variar e manter os músculos preparados para a próxima aventura.
Se tivesse que selecionar uma peça de teatro e um filme onde entrou, quais seriam? Porquê?
Tenho uma enorme dificuldade em eleger preferências, elas mudam muito ao longo do tempo. Mas participei em vários projetos de que me orgulho porque me obrigaram a chegar e conhecer um sítio desconhecido.
Como se prepara para cada um dos seus papéis, seja no cinema ou no teatro?
Não tenho qualquer método. Regra geral, e sempre que o tempo permite, começa sempre com um tempo de procrastinação em que sei que tenho que começar a pensar, a trabalhar para determinada coisa, mas que vou empurrando para a frente até não dar mais. Acredito que nesse tempo já há coisas a acontecer nos bastidores dos sentidos, gosto de ler muitas vezes o guião/texto que vou fazer. As respostas devem estar todas lá. É preciso procurar. A música também ajuda, mas a maioria das vezes são processos indiretos de imaginação, empatia, sonhos, que te levam a formar uma personagem na cabeça e a tentar traduzi-la para todo o corpo. Também gosto de pesquisar no mundo do personagem, ir ao encontro daquela comunidade e enquadramento da personagem, depois depende, se, por exemplo, tem uma componente física mais marcada, tens de começar a experimentar. O teatro permite que a maior parte desse processo seja partilhado com as pessoas com quem estás a trabalhar e isso às vezes facilita.
Quem foram os atores que inspiraram o seu trabalho?
Todos os que fui vendo e que inconscientemente deixaram uma marca, mas, tal como disse antes, as preferências e influências vão mudando, com a idade, com o trabalho que andas ou estás prestes a fazer. Houve uma altura em que gostava de ver vários filmes seguidos do mesmo ator ou atriz. Aprendi com isso.
Faltam oportunidades para os artistas portugueses no mercado internacional?
Acho que, regra geral, os mercados não olham a nacionalidades.
Balanço de 20 anos de carreira?
Primeiro fecho os olhos e contraio os músculos da cara quando ouço 20 anos, e, na verdade, são mais. Comecei em 1999, mas não dei conta de ser esse tempo todo. Têm sido, até agora, anos felizes e de aventuras variadas e isso é muito bom, mas não é uma efeméride que me entusiasme, olhar para os anos de trabalho.
Que conselho daria aos jovens que sonham com uma carreira na representação?
Não sou bom conselheiro para este assunto. Acho que estou desfasado do modo como as coisas hoje se passam, mais depressa pediria conselhos do que os ofereceria.
Pode-nos revelar alguns dos projetos para 2025?
Estou a fazer uma novela que há de estrear e ocupar-me em 2025. Também vai estrear uma curta-metragem que fiz, escrita e realizada pelo Luís Borges, chamada “First Date”. Diria que é uma comédia romântica com a magnífica ilha do Pico como cenário. Vou também voltar ao teatro com a reposição do “Sonho de uma Noite de Verão” no teatro da Trindade e vou fazer novamente o monólogo que esteve em cena no teatro aberto no final deste ano, “Monóculo”, poucas apresentações no início do segundo semestre.
Uma mensagem para todos os artistas do mundo.
Obrigado e bem-hajam!