Elisangela Souza

A inovação revolucionária através da IDE SOCIAL HUB

Quando se sente na pele discriminação, xenofobia, desvalorização, a ira pode ser motor e transformador para o Bem Comum, Elisangela Souza, carioca, CEO e fundadora da IDE SOCIAL HUB é indubitavelmente uma mulher inspiradora, é a primeira brasileira de cor a fundar um projeto de impacto social na Europa, foi nomeada no Top 100 Women in Social Enterprise 2023 e já impacta pelas suas ações, pela sua coragem e determinação, é uma força da natureza que decidiu criar uma startup transformadora de mindsets promovendo Inclusão, Diversidade e Equidade na área Tech e Digital, tem um ano de existência e promete projeção no Brasil e na África. Formada nas Ciências da Comunicação com MBA Gestão de Projetos, ela desenvolveu toda a sua carreira no Brasil na área do terceiro setor com projetos culturais e sociais, veio para Portugal finais de 2019, motivada pela cena política e económica, em busca de oportunidade de trabalho, deparou-se com a sua primeira situação de discriminação, xenofobia durante uma entrevista de trabalho online para uma empresa portuguesa, daí surgiu a ideia de IDE SOCIAL HUB, startup selecionada na Web Summit Lisboa em 2022 e presente na Web Summit no Rio de Janeiro em maio de 2023. A revolução começou!


A IDE Social Hub trabalha em três esferas, mobilidade social, inclusão digital e a empregabilidade, podia falar mais sobre a sua startup?

Inclusão, Diversidade e Equidade é o que nos move! Potencializamos a integração humana com foco nas etnias, no género, nos imigrantes, nos refugiados, nas pessoas com deficiências, nos 50+, entre outros, que frequentemente são alvo de exclusão, muitas vezes, sem sequer terem as suas capacidades avaliadas.
O grande desafio na inclusão digital é justamente a questão dos hard skills e soft skills na área da tecnologia e digital. As empresas são muito exigentes na contratação, a ideia é que a nossa startup tenha parceiros estratégicos ou empresas que invistam em formação para terem profissionais qualificados, efetivamente na área da tecnologia é dificílimo reter talentos, então, as empresas podem investir profissionais através de formação adequada para que, ao final, sejam contratados. Aí há um ciclo 360°, damos oportunidade, damos a formação e levamos a empregabilidade para essas empresas. É importante que esse ambiente corporativo seja sensibilizado para que esses grupos invisibilizados socialmente se sintam realmente incluídos naquele ecossistema, de facto, existem grandes empresas que usam o tema de inclusão, diversidade, equidade dizendo que promovem tais ações, dando oportunidade para esses grupos mas no dia-a-dia, na realidade, não são incluídos e representados nesse ambiente. As mulheres ainda não têm voz nas empresas por exemplo, pessoas com diferenças de perfil não se sentem valorizados e acabam por partir. É importante falarmos das questões de métricas, desenvolver programas e ações para que essas empresas implementem soluções corporativas para gerar impacto, quando uma empresa sabe que nos cargos de liderança somente 10% são do sexo feminino, quais são as métricas de governança que vão incutir para que os números e essas mulheres possam alcançar esses cargos de liderança, quais são as métricas que vão desenvolver para gerar equidade de género. Outra questão, se uma empresa diz que promove inclusão e as pessoas de cor trabalham na limpeza, nem estou gerando impacto social nem estou dando oportunidade para essas pessoas, então quais são as métricas que essas empresas vão desenvolver para trazer pessoas qualificadas ou qualificar pessoas racializadas para aquele ambiente corporativo. Através de formações de upskilling e reskilling, esses grupos passam a estar qualificados e preparados em integrar o
mercado de trabalho no universo tecnológico e digital, afinal IDE Social Hub é um impulsionador de inovação social. Tenho esse grande desafio em desconstruir esse mindset no ambiente corporativo principalmente porque há muitas empresas brasileiras que internacionalizam as suas marcas para a Europa tendo Portugal como porta de entrada, a ideia é trabalhar tanto essas empresas brasileiras como as empresas portuguesas porque diversidade, inclusão, equidade é um mercado lucrativo, aliás, dados dos Estados Unidos (Fonte: ReportLinker) mostram que o Mercado Global de Diversidade e Inclusão (EUA) atingirá US$17,2 bilhões até 2027, o impacto social virou negócio!

Acha que se deveria avançar muito mais em Portugal sobre essa questão relativamente à liderança das mulheres, isto é, que tenham mais voz e cargos de liderança nas empresas em Portugal?

Sem dúvida. Temos dados em que mais de 80% das empresas portuguesas são lideradas por homens, poucas mulheres estão nos cargos de liderança e estão ainda muito fechados em Portugal, ainda não se trabalha a questão da inclusão e diversidade vindas de outros locais, de outras nacionalidades. Sabemos que há muitas empresas brasileiras que internacionalizam os negócios para cá mas por que os números das lideranças femininas ainda são tão minimizados? Porquê as mulheres ainda não estão nos cargos de liderança dessas empresas brasileiras que se encontrem no território português?
Quando as mulheres saem do mercado do trabalho pela questão de maternidade, elas levam seis anos para voltar a serem competitivas, há muitas questões contra nós mulheres, não sou que digo isso, são os dados que mostram, é importante trazer os homens para essa conversa, é urgente que se trabalhe a questão da equidade do género e social, é necessário que se trabalhe políticas privadas e públicas para sensibilizar os líderes e que as soluções sejam desenvolvidas hoje. Essas pautas são necessárias e urgentes.

Como foi a sua experiência no Web Summit?

Muito positiva, tive retornos excelentes, muita visibilidade e muitos contactos das instituições privadas pensando em estratégias principalmente para as empresas que estão a internacionalizar os seus negócios em Portugal e como fazer a ponte entre IDE Social Hub, Brasil e Portugal.

Como imagina o futuro do trabalho?

Nos meus sonhos, ações como IDE Social Hub não precisariam mais de existir não só no futuro do trabalho mas também no futuro da sociedade como um todo, teríamos uma sociedade em que as empresas e as pessoas já tenham esse mindset maduro suficiente para saber que não há mais necessidade de se desenvolver soluções e projetos, empresas para se tratar dessa agenda como ODS, ESG, não sei se estarei ainda viva para ver essa mudança social acontecer, espero que IDE Social Hub deixa de existir um dia, que o mindset já tenha sido tão transformado ao ponto de ser naturalizado as questões de inclusão, diversidade, equidade e termos uma sociedade realmente inclusiva, que não precisemos mais de lutar, discutir, falar todos os dias sobre esse tema porque a sociedade sentirá naturalmente o quão rico e transformador é trabalhar com pessoas diversas.

Qual é a mensagem que quer deixar às mulheres ou futuras mulheres empreendedoras?

Baseado no evento que organizei «Mulheres na Liderança e no Empreendedorismo», em Lisboa, a mensagem é a seguinte « Mulheres independentemente da cor, da etnia, da idade, da religião, estamos num momento de conexão, de união, de trabalho em rede, quando nós mulheres sabermos a força que temos, viramos esse jogo, é importante trazer os homens para essa conversa, a ideia é colaborarmos juntos para desenvolver soluções, que nós mulheres tenhamos essa união para que transformemos essa rede em potência e assim, sim, mudamos a sociedade » A idade não define a mulher, vou completar 50 anos este ano, migrei para Portugal aos 46 anos, fundei essa startup com impacto social aos 49 anos, estou a participar nos eventos, dar palestras, entrevistas, algo que nunca tinha feito no Brasil. A minha história pode inspirar outras mulheres a realizar os seus sonhos, transformar e mudar o mundo com propósito, que ganhem confiança, que os seus projetos se tornem realidade, o meu papel é esse também, continuar a trilhar caminhos.

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