Espaço aos jovens

Existe um tema que parece transversal às comunidades portuguesas do mundo inteiro que é a implicação dos jovens tanto nas atividades como no movimento associativo. Quando penso nisto é óbvio que o meu primeiro reflexo é olhar para a minha própria comunidade. E quando faço isso, ponho de lado os preconceitos que possa vir a ter sobre os jovens e a implicação para simplesmente olhar para aqueles que se implicam. Por mais incrível que pareça vejo uma série de jovens implicados na minha comunidade que por vezes até me assusta.
A desconstrução desta ideia que os jovens não estão implicados tem que fazer parte do discurso de todos, desde dos nossos dirigentes comunitários aos políticos aos próprios conselheiros. Se olharmos bem para as nossas próprias comunidades vamos encontrar uma série de jovens nos mais diversos meios, sejam eles económicos, sociais, comunitários ou até políticos. Ainda recentemente na minha comunidade foram eleitas duas jovens luso-descendentes para cargos no Conselho de Administração da Caixa Portuguesa Desjardins. Seria longa a lista de jovens implicados na nossa comunidade tanto em ranchos folclóricos, em associações como a Associação Portuguesa do Canadá, em Filarmónicas, no Conselho da Diáspora Açoriana, e outros tantos organismos que compõem à nossa comunidade. Isto tudo para dizer que o preconceito da falta de preocupação das gerações mais novas para «coisas da comunidade» tem de ser desmontado pelos exemplos que existem e também com o discurso político. Eu próprio sendo jovem e sendo também um eterno positivo acredito cada vez mais na presença dos jovens nas mais diversas formas de implicação comunitária.

Cada vez que ouço que os jovens não se implicam penso sempre naqueles pioneiros que aqui chegaram que eram jovens da altura e que criaram tudo do zero. Não tenho modelos a não ser aqueles deixado para trás em Portugal, e foram criando muitas e vastas organizações nas comunidades. Muitos deles fizeram aquilo que outros hoje temem: cometer erros. Ver os jovens cometer erros é das coisas mais normais da vida, e ainda bem. Por isso, deixo aqui um recado em forma de segredo: se deixar os jovens em frente de organizações, eles vão se enganar.
Recentemente num convívio de um grupo folclórico da nossa comunidade deparei-me com a preocupação muito grande dos jovens ali presentes em não ver as coisas desaparecer. Se naquela noite eram 10-12-20 jovens com esse sentimento, imagino o numero elevado de jovens da nossa comunidade com esta preocupação.

Agora resta fazer aquilo que eu acho o mais importante para o futuro das nossas comunidades: criar espaço para os jovens. Um espaço seguro onde não haverá interferências dos velhos do Restelo. Há alguns anos atrás um dirigente associativo disse-me que estava disposto a deixar o seu lugar a um jovem e que ele ficava por trás. Eu achei isto giro, mas disse que o erro era exatamente esse «ficar por trás». Com todo o respeito que eu tenho por ele, acho que muitos dirigentes cometem este erro. Um erro normal de quem tem medo de ver desaparecer as «coisas da comunidade».

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, por isso os jovens mudarão o papel dos organismos e transformarão a imagem das nossas comunidades. Sendo um eterno positivo, sei que será para melhor.

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