A língua portuguesa em Timor-Leste
Resistência, memória e identidade

Timor-Leste é, sem dúvida, um país singular no seio da lusofonia. A sua juventude enquanto nação independente contrasta com a profundidade da sua história, marcada por lutas, resistências e afirmações identitárias. E, no centro dessa história, encontra-se a língua portuguesa — não apenas como meio de comunicação, mas como símbolo vivo de resistência, de memória e de identidade.
Como Conselheiro da Comunidade Portuguesa neste país do Sudeste Asiático – o mais distante geograficamente de Portugal -, tenho testemunhado, durante 24 anos, a força simbólica que o português carrega. Esta língua, introduzida durante o período colonial, foi muito além do legado histórico: foi mantida viva durante os anos mais sombrios da ocupação indonésia (1975–1999), mesmo quando falar português era um ato para castigo, um gesto de revolta ou uma afirmação de pertença a uma identidade que se recusava a desaparecer.
Durante esse período, muitos timorenses guardaram a língua como se de um tesouro se tratasse. A Igreja Católica teve um papel fundamental, assim como os movimentos de resistência e os timorenses exilados que, espalhados pelo mundo, continuaram a escrever, a cantar e a rezar em português. Era mais do que falar uma língua estrangeira — era proteger uma parte essencial da sua identidade e alma timorenses.
Acredito que foi por essa razão que, em 2002, logo após a conquista da independência, a decisão de tornar o português uma das línguas oficiais, a par do tétum, foi mais do que política. Foi simbólica. Foi um reencontro com as raízes históricas e culturais, uma forma de honrar os que lutaram e tombaram por um Timor-Leste livre e soberano.
Hoje, o português não é apenas língua oficial. É a ponte que liga Timor-Leste à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), à cooperação com Portugal, Brasil, Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe. É a língua da investigação científica, da diplomacia e da cultura. A nova Lei de Bases do Ensino Superior, recentemente aprovada pelo Parlamento Nacional, estabelece com clareza o papel central do português como língua de instrução, ensino e investigação. O tétum, claro, acompanha este percurso, como língua de apoio e expressão viva da identidade nacional.
Mas é também verdade que há desafios. Para muitos jovens timorenses, o português é uma língua “estrangeira”, difícil e distante. É essencial que a sua promoção vá para além da sala de aula. O português precisa de ser vivido, sentido, celebrado. Precisa de estar presente na música que se ouve, nos livros que se leem, nos filmes que se veem, nas redes sociais, no dia a dia.
Precisamos de formar novos professores, produzir mais materiais didáticos acessíveis, incentivar projetos culturais e educativos inovadores que aproximem os jovens da língua, sem imposição, mas com criatividade e paixão.
Por outro lado, a adesão de Timor-Leste à ASEAN coloca novos desafios ao desenvolvimento da língua portuguesa, especialmente pela predominância do inglês como língua franca do bloco. No entanto, esta adesão deve ser vista não como um obstáculo, mas como uma ponte estratégica para a diplomacia, a afirmação da identidade nacional e a projeção internacional do país. Além de reforçar a soberania cultural timorense, o português abre portas para a cooperação com os países da CPLP, ampliando o alcance geopolítico de Timor-Leste além do Sudeste Asiático.
A comunidade portuguesa em Timor-Leste tem um papel importante a desempenhar neste caminho. A nossa presença deve ser de apoio, de partilha, de escuta. Devemos trabalhar lado a lado com os timorenses, conscientes de que a língua que partilhamos é também herança de luta e símbolo de um futuro que se quer plural, livre e de esperança. Devemos contribuir para que possa ser desenvolvida uma política linguística equilibrada, que valorize o português e promova o multilinguismo, para posicionar Timor-Leste como elo entre o mundo lusófono e a região asiática.
Jamais podemos deixar de ter presente que a língua portuguesa, em Timor-Leste, não é apenas herança colonial — é herança de luta, símbolo de soberania e esperança de futuro. É, como o tema deste artigo afirma, um instrumento de resistência, memória e identidade. Cabe a todos nós, portugueses e timorenses, enquanto cidadãos, garantir que ela continue a ser uma ponte entre o passado e o futuro, entre o local e o global, entre o sonho e a realidade de um povo que nunca desistiu de ser livre.

Paulo
3 semanas agoBom dia…Gostaria que falasse a respeito do português uruguaio, falado por 15% pelos uruguaios..O Uruguai chegou a ser uma província brasileira, mas logo ganhou independência.
Rosa Saldanha Ataíde
3 semanas agoBom dia. Excelente texto, Sr. Filipe. Baleu a pena descreveu a reallidade da utilização língua da portuguesa em Timor-Leste.
Para mim, a língua portuguesa é também dos timorenses.
Zé
2 semanas agoAldrabice e auto promoçã9 qb, tipico dos portugueses que se encostam à miséria de timor.
Timor não precisa de português, língua que nunca falou. Não precisa de professores de português. Não precisas de professores que se transformam em assessores xom salários obscenos para a realidade local.
Precisa de melhor saúde e melhor educação, não em língua portuguesa, mas em tudo, matemática, filosofia, ciência.
Mas continua como ao longo de toda a sua história a ser saqueado por mercenários, que mais não fazem do que propagandear e auto promover se, enquanto os timorenses vivem na miséria.
E viva à língua portuguesa…