Legado de Pessoa

em Casa renovada

A Casa Fernando Pessoa fica na Rua Coelho da Rocha, em Campo de Ourique, em Lisboa. Foi criada em 1993, por decisão municipal. É um edifício de três andares e Pessoa habitou o primeiro andar direito, durante 15 anos. Para aqui se mudou em 1920 e aqui viveu até ao fim da vida.
Hoje – depois de obras de remodelação que terminaram em agosto de 2020 – a Casa está aberta aos visitantes com uma nova exposição de longa duração sobre Pessoa, uma biblioteca mais estruturada e um auditório mais equipado.

Nos quase 30 anos que passaram desde a inauguração da Casa Fernando Pessoa muito mudou em diferentes campos relacionados com a nossa atividade: na relação do público com os museus; nas dinâmicas do turismo cultural e literário; no conhecimento sobre Fernando Pessoa; no entendimento sobre inclusão e mediação. Na cidade, na comunidade.

A Casa renovada reabriu há cerca de um ano: as alterações decorrentes das obras, a nova museografia e os novos programas que fazemos em relação com a exposição podem agora ser conhecidos plenamente, com a garantia das necessárias condições de segurança.
Na atual exposição, os espaços estão organizados a partir de três grandes temas: no Piso 3, Pessoa-escritor com foco na heteronímia; no Piso 2, Pessoa-leitor perante a sua Biblioteca Particular; no Piso 1, falamos do homem que Pessoa foi, no espaço em que se reconstitui a planta da casa para onde veio morar há cem anos.

A primeira peça que os visitantes encontram, no Piso 3, é uma pequena e delicada agenda de aniversários de Madalena Nogueira, mãe de Pessoa. Um “Birthday Floral Book”: para cada dia do ano, a ilustração de uma flor e um excerto de um poema de diferentes poetas ingleses. Aqui anotam-se nomes de familiares e amigos. Entre esses nomes, encontramos em caligrafia hesitante o primeiro registo escrito conhecido de Pessoa, aos 5-6 anos. Escreve “Chevalier de Pas”: o nome daquele que vem a identificar como o seu primeiro heterónimo.
No piso 2 está a Biblioteca Particular de Pessoa, a coleção mais valiosa da Casa: os livros que leu e que recebeu de amigos, alguns deles repletos de notas à margem.

Os interesses de leitura de Pessoa não se restringem à literatura, há também livros de ciências, matemática, religião, desporto e filosofia, em diferentes línguas. Esta biblioteca está digitalizada há mais de dez anos, página por página, e pode ser acedida através do site da Casa. As relações entre leitura e escrita são muitas vezes tema de programas que promovemos, destacando a figura de Pessoa como leitor e devolvendo ao tempo de hoje a discussão sobre o poder da literatura e os efeitos transformadores da leitura.
Chegados ao Piso 1, o do Apartamento, os visitantes vão encontrar as peças mais diretamente relacionadas com a biografia de Pessoa: infância, mudança para África do Sul e a sua relação com a língua inglesa, o regresso a Lisboa e o encontro com companheiros de vanguarda, a correspondência trocada, as aventuras editoriais, as revistas literárias, o que deixou publicado e o tanto que deixou por publicar.

A última peça da exposição vai fechar o arco de vida e escrita que se tinha iniciado no terceiro andar: ao chegar ao fim da visita, encontramos a última frase que escreveu na véspera da sua morte, em inglês, a lápis, no topo de uma página de resto em branco: “I know not what tomorrow will bring” [Não sei o que o amanhã trará].
Estes factos e histórias sobre a vida e a obra de Pessoa são contados a partir de uma grande variedade de peças: livros, manuscritos, periódicos, mobiliário original, obras de arte, objetos pessoais e de trabalho usados por Pessoa e pelos seus familiares. A coleção vai-se transformando e reatualizando, seja através de incorporações, de substituição de peças para garantir o seu necessário repouso ou porque se ativam, na mediação, novas leituras sobre as peças expostas e as relações entre elas.
Os textos de parede e legendas foram escritos com linguagem clara, procurando que comunicassem com pessoas com diferentes graus de conhecimento sobre Pessoa, poesia e literatura.

Escrevemo-los a várias mãos e revimo-los muitas vezes até encontrarmos boas soluções para eliminar o acessório sem que, no entanto, a simplificação da linguagem conduzisse à simplificação das histórias que queríamos contar.
No que respeita à acessibilidade física, os espaços públicos da Casa são acessíveis a pessoas com mobilidade reduzida, foi colocado piso podotátil nas áreas de circulação pública e há legendas braille e reproduções táteis na exposição. São programadas visitas com audiodescrição, conjuntamente para público com e sem deficiência visual. São também feitas visitas com interpretação em Língua Gestual Portuguesa. Público Surdo e ouvinte junta-se nestas visitas à exposição, onde há vídeos legendados e interpretados em LGP.

Fazemos diariamente visitas orientadas em português e, através de marcação, podemos fazê-las também em inglês, francês, espanhol e alemão.
O projeto de remodelação da Casa beneficiou da Linha de Apoio ao Turismo Acessível do Turismo de Portugal. O projeto de arquitetura é da autoria de José Adrião Arquitectos, o de museografia foi feito pelos designers Nuno Quá e Cláudio Silva em conjunto com a direção da Casa, a partir de uma proposta de curadoria de Paulo Pires do Vale. Ana Carvalho foi a museóloga responsável pela apreciação do projeto de museografia. A Acesso Cultura foi consultora em matéria de acessibilidades.

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