Miguel Calhaz

Miguel Calhaz, músico natural da Sertã, contrabaixista, compositor e intérprete, tem vindo a afirmar-se como uma das vozes mais singulares da música portuguesa contemporânea. Com uma carreira que cruza o jazz, a música tradicional e a palavra poética, Miguel tem explorado novas formas de dar vida à canção portuguesa, seja através de projetos autorais como vozCONTRAbaixo ou homenagens sentidas como ContraCantos, dedicado aos cantautores do 25 de Abril. Nesta entrevista, vamos conhecer melhor o seu percurso, as suas influências e o que o move artisticamente.

Como começou o seu percurso musical e o que o levou a escolher o contrabaixo como instrumento principal?

O meu percurso começa a ser traçado na Filarmónica União Sertaginense (na qual ingressei com nove anos de idade), antes disso já a música mexia muito comigo, pois os meus pais cantavam muito em casa e ouvia-se muita música. O meu primeiro instrumento foi a trompete, depois aprendi guitarra, baixo elétrico, até que aos 26 anos arranjei dinheiro para comprar um contrabaixo e… nunca mais me separei deste instrumento.

Quais foram os momentos mais marcantes da sua carreira até agora?

Sem dúvida os prémios José Afonso (melhor tema original 2011) e Ary dos Santos (melhor poema 2013 e 2015) no Festival Cantar Abril – Almada. Mas também o lançamento do meu primeiro disco em nome próprio “Estas Palavras” (disco Antena1 2012).

Como foi a experiência de estudar com nomes como Carlos Bica, Bernardo Moreira e Peter Erskine?

Os workshops que frequentei com estes grandes mestres músicos, bem como outros como Rufus Reid e Omer Avital, Aaron Goldberg e John Ellis, entre outros foram muito importantes tanto na minha formação pré-académica, tal como em contexto de masterclasses que se realizaram na ESMAE (Escola Superior de Música e Artes do Espectáculo) e noutros locais. Mas ainda mais importante e fundamental foi o acompanhamento que sempre tive por parte do meu Professor de Contrabaixo: António Augusto Aguiar, que sempre me incentivou a criar, e a abordar tecnicamente o instrumento nas suas mais distintas possibilidades de execução. Foi meu Professor na Licenciatura em Jazz e também Orientador da minha tese de Mestrado. Considero-me um privilegiado por ter contado com a sua enorme, inestimável e afável ajuda neste percurso.

O que distingue o álbum ContraCantos dos seus trabalhos anteriores como vozCONTRAbaixo ou Contemporânea Tradição?

Bem, estamos a falar de duas vertentes um pouco diferentes: Os ContraCantos (vol.1-2024 e vol.2-2025 JAAC Records) são na sua essência recriações de temas dos nossos grandes Mestres cantores da Revolução, com arranjo para voz e contrabaixo em simultâneo, o mesmo se passa com o trabalho Contemporânea Tradição (2023 JAAC REcords), mas com temas da nossa música de antanho, das raízes das nossas tradições. Por outro lado, o disco “vozCONTRAbaixo” é composto maioritariamente por temas originais usando também esta instrumentação “sui generis” (a voz e o contrabaixo).

Como é o seu processo de composição?

Pode partir de um fragmento melódico, ao qual vou adicionando harmonia (ou vice-versa), acontece frequentemente a partir de um padrão rítmico ou de um ostinato. No caso dos temas com letra jogo igualmente com a inversão dos polos – às vezes surge primeiro a letra e depois a música, outras vezes vou “pincelando” frases poéticas numa “tela” melódica.

Como equilibra a tradição musical portuguesa com influências contemporâneas como o jazz e a world music?

Tento tratar deste assunto com o maior do respeito que a tradição e a contemporaneidade merecem. Acredito que o Jazz, na sua componente de improvisação e treino auditivo, é uma poderosíssima ferramenta para poder “radiografar” a música que nos rodeia no dia a dia, ou a que conhecemos desde o berço.

Que papel tem a palavra e a poesia nas suas composições?

Não é com certeza “papel de embrulho”… Dou muita importância à mensagem escrita que depois canto, seja ela acerca de problemas que afetam o quotidiano, seja de protesto, de sentimentos, ou até de sátira…

Miguel Calhaz "ContraCantos vol.1"Maio Maduro Maio"

De que forma a sua ligação à Sertã e à região da Beira Baixa influencia a sua música?

A Sertã é uma terra belíssima onde sempre me senti (e continuo a sentir) impulsionado para desenvolver a minha música. Sempre tive e mantenho projetos musicais ligados à região que vão desde grupos e atividades musicais muito variadas. O Cancioneiro desta zona sempre me influenciou, a sua beleza e riqueza são inquestionáveis, daí me ter debruçado sobre vários temas desta região no disco “Contemporânea Tradição”. Neste momento encontro-me a trabalhar sobre a recolha e transcrição de temas desta zona, também conhecida por “Zona do Pinhal”.

Como é conciliar a atividade artística com o ensino no Conservatório de Música de Coimbra?

É um gosto poder trabalhar nestas duas áreas que, a meu ver, se complementam: ensino artístico e atividade artística/ criação musical.

Que conselhos costuma dar aos jovens músicos que querem seguir uma carreira artística?

Que não se deixem seduzir pelo óbvio e o imediato, que trabalhem sem se deixarem obcecar por ideais de sucesso fácil, mas acima de tudo que criem e pratiquem a música que lhes traga ao de cima o mais genuíno e melhor deles próprios.

Projetos para 2026?

Muitos. Novos discos (em nome próprio e em colaborações), várias atividades no serviço educativo da Associação Cultural Museu da Música de Coimbra (da qual faço parte), publicações, entre outros desafios que vão surgindo.

Uma mensagem para todos os artistas do mundo.

“Make music not war”.

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1 Comentário

  • Manuel Costa
    3 semanas ago Publicar uma Resposta

    Jornalista amador.
    Não falou na fundação dos Popxula.
    Miguel, grande abraço.

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