My Darling

Em Inglaterra, toda a gente se chama de querido sem se conhecer de lado nenhum. É perfeitamente natural utilizar o “dear” em contexto formal, nomeadamente nas cartas em que nós apenas nos atrevemos a utilizar o V. Exa para cá e o Exmo. Sr. para lá. Mas as coisas não ficam por aqui. Quando o carteiro vos traz uma encomenda registada, e se despede com um “see you, sweetheart”, não precisam de corar. E se a senhora do centro de saúde nos brinda com um “my darling” no meio da troca de palavras que medeia encontrar a nossa ficha no computador e fazer o registo, não, não está a atirar-se a nós. É que aqui toda a gente se trata assim, é normalíssimo! Ao princípio estranhei, até pensei que não tinha ouvido bem. My dear? Ele disse my dear?, pensei, enquanto falava ao telefone com um funcionário da British Gas. Imaginem o que é telefonarem para a Portugal Telecom ou para a EDP e de lá dizerem, Oh, querido, obrigado por ter esperado! Ou na farmácia o empregado dizer: Aqui está o seu pedido, amor, desculpe a demora!

Terei batido com a cabeça? Pensariam com certeza.

Não, queridos, não bateram. Eu já nem reparo quando o homem que vem fazer a leitura do contador ou atestar a caldeira se despede com um Cheers, love, apesar de o meu filho, de sobrolho carregado e do alto dos seus cinco anos, poder indagar com ar desconfiado, why did he call you love? É que os genes, nestas coisas, não perdoam.

A autora não aderiu ao novo acordo ortográfico

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