Obra de Capa fevereiro
O Futuro Melhor
Hoje, o artista coloca diante dos nossos olhos uma obra onde evidencia traços e cores aparentemente indecifráveis, ficando claro que essa obra de arte terá o significado que a nossa leitura quiser lhe atribuir. Podemos considerá-la um simples devaneio artístico, “um voo cego à nada”, como diria o poeta moçambicano Reinaldo Ferreira, ou então podemos dar-lhe outros sentidos e significados. Se quisermos, podemos nos conceder ao desplante de não fazer nenhuma leitura e ficarmos numa condição onde apenas nos interessa o deslumbramento da obra e não o seu significado. Mas, ler uma obra é um dos mais belo exercícios que existe e também o mais subjectivo. Se leio, logo existo, logo penso, logo crio e faço todas as “viagens” a que me permito, isto é, acabo me situando à mesma dimensão do artista.
Então permito-me e… leio. Olho o quadro de João Timane e vejo luz, muita luz! Ela vence as nuvens e o Sol mostra que é o rei do dia! É o rei da vida! É a magia que contamina os seres vivos e impulsiona a convivência do natural com o sobrenatural. Descubro nuvens, estrelas e pássaros. Vejo animais que incluem figuras humanas. E também um anjo da guarda se insinuando por cima das coisas. Vejo um lugar enigmático que pode ser Moçambique. Quando um homem e uma mulher se encontram podem ficar a falar do amor, das colheitas férteis, da confraternização do povo e dos batuques que ecoam vindo das aldeias distantes. Quando um homem e uma mulher se encontram também podem se influenciar na labuta da vida, onde tudo vale. Pode ser necessário e possível voar, levitar, correr atrás dum Mundo Melhor. Quando um homem e uma mulher se encontram também se recordam dos nossos poetas, que apesar de tudo, escrevem palavras bonitas para manter acesa a esperança do povo. Olho o quadro do Timane e vejo, finalmente, uma chave pousada no chão à espera que uma mão a pegue para abrir as portas de um futuro melhor.
Marcelo Panguana
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Marcelo Panguana
Nasceu na cidade de Lourenço Marques. Cronista, poeta, autor de contos reconhecido internacionalmente. Nas estantes das livrarias pode-se encontrar diversas publicações da sua autoria: coletâneas de contos, romances, um livro de entrevistas, uma história de literatura infantil e uma recolha de contos tradicionais. Recebeu em 2005 o Prémio Rui de Noronha concedido pelo FUNDAC. Foi-lhe atribuído em 2011 uma menção honrosa no Grande Prémio SONANGOL de Literatura.