Poesia – Camões
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades
Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades,
Muda-se o ser, muda-se a confiança;
Todo o mundo é composto de mudança,
Tomando sempre novas qualidades.
Continuamente vemos novidades,
Diferentes em tudo da esperança;
Do mal ficam as mágoas na lembrança,
E do bem, se algum houve, as saudades.
O tempo cobre o chão de verde manto,
Que já coberto foi de neve fria,
E em mim converte em choro o doce canto.
E, afora este mudar-se cada dia,
Outra mudança faz de mor espanto:
Que não se muda já como soía.
Luís Vaz de Camões
Autor dos Lusíadas, o poema épico sobre as descobertas portuguesas. A importância da sua obra só foi reconhecida após a sua morte. Teve uma vida repleta de dificuldades.
Não existem muitos dados biográficos sobre a vida Luís de Camões, mas a informações que vieram a público quase três décadas depois da sua morte dão como provável o seu nascimento em Lisboa em 1524 ou 1525. Membro de uma aristocracia pouco endinheirada, supõe-se que tenha estudado em Coimbra. Como modo de vida, procura a sorte das armas e suspeita-se que tenha estado em Ceuta onde, num confronto militar com mouros, perdeu um olho.
Em Lisboa é conhecido pela sua vida pouco comedida e chega a ser preso devido a um assalto em que participa. Perdoado por D. João III parte para o Oriente, onde vai ficar por quase duas décadas. Participa em ações militares enquanto escreve os Lusíadas, que salva quando é vítima de um naufrágio, provavelmente na costa do atual Vietname.
É descoberto por amigos a viver como um indigente em Moçambique. Estes pagam-lhe as dívidas e a viagem de regresso a Lisboa onde publica, em 1572, a obra que o tornaria imortal, sendo considerado o maior poeta em língua portuguesa de todos os tempos.
Esta rubrica pretende dar a conhecer ao mundo o melhor da poesia por diversos autores lusófonos. Os poemas são selecionados por Gilda Pereira, uma fã incondicional de poesia.