Portugal tão perto e tão longe

Nós saímos de Portugal há muitos anos. Foi em março de 1969 quando o “Conte Biancamano” saiu de Vigo passou por Lisboa e chegou ao porto de Montevideu 17 dias depois. Eu tinha 6 anos e não entendia nada da vida. O meu pai já estava no Uruguai fazia uns anos.
Eu conheci-o ao chegar a Montevideu. Não foi fácil. Nada foi fácil. Aqui só se falava espanhol e não português. Assim mesmo fui-me adaptando e comecei a estudar.
A relação com a terra natal era só por carta. Em Portugal eu deixei avós, tios e primos. Muitos primos. Tínhamos família tanto no sul como no norte. Eu nasci em Lara, uma freguesia do concelho de Monção, distrito de Viana de Castelo. Aos 19 anos comecei a trabalhar. Aqui no Uruguai os meus pais tiveram outros três filhos. Maria Amelia, Maria Emilia e José Gabriel e tantas bocas a comer não era fácil. Por isso era preciso trabalhar.
O meu pai era motorista numa empresa de transporte de passageiros e a minha mãe ajudava como podia. Com o passar do tempo, a vida no Uruguai tornou-se muito cara e para poder viajar para Portugal era preciso ter muito dinheiro, mas todos queríamos voltar à nossa terra natal.
No ano de 1980 os meus pais conseguiram voltar e ficaram lá durante três meses. Mas eu não conseguia. Foi passando o tempo, tornei-me jornalista, casei e tive duas filhas. a Maria Victoria que nasceu em 1984 e a Romina que chegou ao mundo em 1988.
Em 1991 comecei a ser “Anchorman” de um dos canais de televisão do Uruguai. Quis o destino que em 1994 o presidente uruguaio Luis Lacalle Herrera viajasse à Galiza e eu acompanhei-o nessa viajem, tendo aproveitado a oportunidade para visitar a minha terra. Fui em companhia da minha esposa e do meu irmão.
Foi muito comovedor. Muita saudade junta. Deixei lá muitas lágrimas, muitos abraços, muito carinho. Conheci a casa dos meus pais, a igreja onde eles se casaram. Vi a pia onde fui batizado, enfim, não queria voltar mais ao Uruguai.
Mas a vida deu-me outra oportunidade. Foi em 1998, quatro anos depois quando fui convidado para conhecer o Parlamento Europeu. O corolário foi em 2007, quando recebi o prémio “Talento” (melhor pivot de informação na TV) da Comunicação Social.

Esse dia foi inesquecível. Fui com os meus pais e as minhas filhas. O evento comemorativo em Lisboa tinha três representantes de cada área. Na “Comunicação Social” tínhamos ainda uma jornalista portuguesa que morava no Brasil e outro português que morava nos EUA.
A festa foi transmitida pela RTP e foi um momento inesquecível quando pronunciaram o meu nome como membro premiado.
Sempre que ia à minha terra natal, ficava sempre a mágoa do regresso ao Uruguai e de não poder desfrutar de mais tempo com a minha família. Mas a vida – isso acontece enquanto trabalhamos, estudamos, e criamos os nossos filhos – estava em Montevideu.
Hoje as minhas filhas tem uma carreira profissional, tenho dois netos, e estou perto de me aposentar.
Aquele Portugal em 1960 ficava muito longe, muito, mas, no meu coração sempre esteve muito perto.
Agora, para minha surpresa a comunidade portuguesa do Uruguai que não é muito grande, fez-me seu “Conselheiro”. Confesso, não estava nada à espera deste convite.
Por isso nos primeiros dias de outubro viajei novamente para Portugal, mas com pena de não poder ficar os dias que eu gostaria, mas é sempre uma oportunidade de visitar a minha terra, o meu Portugal, a minha Lisboa.
E como fala a canção… cheira bem, cheira a Lisboa!
Portugal muito longe mas muito perto sempre.

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