Programa Alcateia 2025-2035

Num tempo em que o mundo enfrenta desafios ambientais sem precedentes, Portugal avança com o Programa Alcateia 2025-2035, apresentando uma estratégia ambiciosa para a conservação do lobo-ibérico em território nacional. Não se trata apenas de uma simples acção de protecção de uma espécie emblemática. Este programa simboliza um compromisso para restaurar equilíbrios naturais e procura harmonizar a relação entre as comunidades locais e a natureza.
Os dados tornados públicos através do último censo nacional do lobo, realizado entre os anos 2019 e 2021, não deixam margens para dúvidas sobre a necessidade premente de mudança. Ficámos a saber que existe uma redução significativa na população lupina e, no território ocupado por esta espécie, há uma contracção de cerca de 20% e uma diminuição do número de alcateias. Estes números lançam um alerta vermelho sobre o funcionamento do ecossistema, já que o lobo desempenha um papel vital na sua função de predador de topo, regulando populações de presas e contribuindo, desse modo, para a saúde e equilíbrio dos ecossistemas.

O Programa Alcateia 2025-2035 apresenta uma abordagem integrada e pragmática que se baseia em quatro pilares fundamentais, a saber: melhorar as condições ecológicas, promover a coexistência com as actividades económicas locais, reforçar o conhecimento científico e intensificar a sensibilização pública. Importa ainda referir que este programa abre caminho a actualização das indemnizações por ataques a gado, tendo como objectivo a redução dos conflitos entre os criadores de gado e os lobos-ibéricos. O pagamento célere e justo dos prejuízos é um passo muito importante no sentido de amenizar as velhas rivalidades entre uns e outros. Além da melhoria das compensações financeiras às populações afectadas pelos ataques dos lobos, o programa visa a recuperação de habitats, a protecção dos corredores ecológicos que ligam as populações isoladas, e o estímulo à presença de presas naturais. Todas estas estratégias servem para criar condições para que o lobo possa prosperar no seu habitat natural sem que isso signifique um embate constante com as comunidades rurais.

Todavia, este ambicioso programa não está isento de desafios. Para que se atinja o desejado reequilíbrio ecológico será necessário proceder-se à adaptação de algumas políticas agrícolas, assim como promover-se o envolvimento activo das populações locais. Por outro lado, um programa desta dimensão exigirá um compromisso real de financiamento que o sustente a médio e longo prazo. No entanto, ultrapassados esses desafios, poderemos dizer que esta aposta na convivência harmoniosa entre humanos e lobos permitir-nos-á construir paisagens mais resilientes, mais biodiversas e com maior capacidade de resistência às alterações climáticas e aos incêndios florestais.
Proteger o lobo-ibérico não é apenas conservar uma espécie. É muito mais que isso. É reconhecer que a saúde dos ecossistemas depende da manutenção dos seus processos naturais e que a nossa prosperidade futura está intrinsecamente ligada à capacidade de coexistirmos, lado a lado, com a maravilhosa vida selvagem que nos rodeia.
O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico




