Raquel Serejo Martins

Poema verde


Não me peças para amadurecer
que não sou peça fruta,
sou peça de outra engrenagem,
e a vida não é árvore nem fruteira.
Depois ninguém sabe o que é a vida,
a vida vai-se fazendo,
ou vai-se sem mais,
sem chegar a ser inteira.
E eu quero continuar verde
como o mar, verde
como um poema de Lorca, verde
como o verde dos meus olhos, verde
apesar do comprimento dos dias, verde
às vezes de raiva, que com duas patas
também se pode ser cão, verde
por saber o que é a tristeza
e a inutilidade da alegria ao ponto de cortar os pulsos,
mesmo quando temos vários corações a bater fora do corpo.

Raquel Serejo Martins

Raquel Serejo Martins

Vilarandelense, Raquel Serejo Martins, Economista, com pós-graduações em Direito Penal e em Direito Administrativo, foi a grande vencedora em 2021 da 3.ª Edição do Prémio Miguel Rovisco. Tem em papel dois romances: «A Solidão dos Inconstantes» (2009) e «Pretérito Perfeito» (2013), e três livros de poesia: «Aves de Incêndio» (2016), «Subúrbios de Veneza» (2017), «Os Invencíveis» (2018) e «Plantas de Interior» (2019).

Esta rubrica pretende dar a conhecer ao mundo o melhor da poesia por diversos autores lusófonos. Os poemas são selecionados por Gilda Pereira, uma fã incondicional de poesia.

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