Se temos dois olhos, porque não vemos tudo a dobrar?
Estava eu sossegado à beira da piscina, quando oiço um miúdo a fazer uma pergunta aos pais. Os pais encolheram os ombros, riram-se, apontaram para a piscina, como que a dizer «não queres ir dar um mergulho?» O miúdo não desarmou. Queria saber por que razão, se temos dois olhos, não vemos tudo a dobrar. E ali ficou a insistir, a insistir, até que o pai se riu, deu-lhe uma festa no cabelo e disse «vá, pára lá com as perguntas inconvenientes». O miúdo riu-se, orgulhoso e feliz. Tinha conseguido encontrar uma pergunta a que os pais não sabiam responder. Lá deixou o assunto de parte e deu um mergulho, para alívio dos progenitores.
Ali a olhar para a água a fingir-me desatento, apetecia-me pôr o dedo no ar e dizer «eu sei, eu sei!». Mas, não, não me armei em Hermione. Deixei o miúdo feliz por ter conseguido atrapalhar os pais.
É que, na verdade, nós vemos a dobrar! Basta entortar um pouco os olhos para perceber isso mesmo. O que se passa é que o nosso cérebro pega nas duas imagens separadas que recebe dos dois olhos e cria uma só imagem a três dimensões. Basta pensarmos que, no cinema a 3D, o truque daqueles óculos é levar a que cada olho receba uma imagem ligeiramente diferente, para que depois o cérebro reconstitua a imagem a 3D.
Se fecharmos um dos olhos, a imagem passa a duas dimensões… Não vale a pena fazer isso agora, porque o cérebro consegue reconstruir as três dimensões em cenários que já conhece. Mas se alguém puser uma venda na cabeça do meu caro leitor e o largar numa cidade desconhecida e se, quando por fim alguém lhe tirar a venda, abrir só um dos olhos — aí sim, terá à sua frente o mundo a duas dimensões.
Mas, vá por mim, não faça isso.
O autor não aderiu ao novo acordo ortográfico