Só aqueles que ousam podem voar
Luís Sepúlveda
Na minha consulta, dou por mim, muitas vezes a dizer aos adolescentes e jovens que só o facto de terem passado “aquela porta” (porta do consultório) revela, por si só, um tremendo ato de coragem. É certo que esta afirmação os pode valorizar e facilitar, no imediato, o primórdio da relação terapêutica. Contudo, esta frase tem para mim uma verdade absoluta e verbalizo-a de forma muito espontânea e confiante. Aqui, a coragem prende-se com o encontro com o Outro desconhecido, o qual comporta um inevitável receio, uma vez que neste encontro, à partida, se irá “deixar cair a máscara” ou “levantar o véu”. No fundo, ocorrerá uma exposição das fragilidades causadoras de sofrimento psíquico. Costumo também acrescentar que o vir à consulta implica, por si só, um reconhecimento de algo que não está bem, bem como, e uma necessidade de mudança. São muito raros os casos que recorrem a uma consulta de Psicologia quando se encontram saudáveis e felizes, em todas as esferas da vida.
Por tudo isto, este primeiro contacto não é simples, nem fácil, pelo contrário, é ousado e corajoso!
Quando o Psicólogo é procurado, no âmbito de um pedido de ajuda, existe à partida toda uma expectativa positiva, em relação à consulta e ao trabalho dali decorrente.
Esta expectativa deve ser abordada logo no primeiro encontro (primeira consulta), no qual se recolhem dados fundamentais para a compreensão do caso. Aborda-se, não só o motivo da consulta como também, os marcos principais da história passada e presente. Apuram-se as principais dificuldades, necessidades e/ou problemáticas e delineiam-se as próximas sessões que serão marcadas pela constituição da relação terapêutica. Só tendo esta como base é que se torna possível o trabalho psicoterapêutico. Na relação terapêutica, o jovem permite-se a sentir todo aquele espaço de consulta, sobretudo pela relação com o Terapeuta, como confortável e confiável, o suficiente para poder ir mais além no seu processo.
A Psicoterapia é, quando há indicação clínica, o tratamento, por excelência, das problemáticas da Saúde mental. Poderá, ser ou não, complementada por outro tipo de intervenções (p.ex: farmacológicas, tendo em conta a especificidade e gravidade dos casos, ou outras abordagens dentro da área clínica p.ex: Psicomotricidade, Terapia da Fala, Terapia Ocupacional, entre outras).
Quando os processos psicoterapêuticos são bem-sucedidos, os adolescentes e jovens voam… e como dizia o querido escritor e jornalista, Luís Sepúlveda, só voam porque ousaram!
Ana Sofia Oliveira Psicóloga Especialista em Clínica e Saúde. Terapeuta EMDR